sexta-feira, 21 de agosto de 2015

AS DINÂMICAS DA PAZ (3)



Rui Peralta, Luanda

Os direitos sociais

Por direitos sociais entende-se o conjunto das revindicações dos cidadãos ou grupos de cidadãos (classes, grupos socioprofissionais, étnico-culturais, etc.). Estes conjuntos de revindicações levaram a que o Estado Democrático de Direito, que tem por fundamento o reconhecimento dos direitos individuais, reconhecesse, como complemento, os direitos sociais.

De todos os direitos sociais, o direito ao trabalho é um dos mais característicos e surge em todos os textos constitucionais da actualidade, sendo um dos primeiros direitos sociais a manifestar-se na História do Estado moderno. O primeiro grande debate em torno do direito ao trabalho ocorreu na Assembleia Constituinte francesa, após a revolução de 1848. A discussão desenvolveu-se entre os liberais (Thiers e Tocqueville) e os socialistas (Louis Blanc). Através deste debate vislumbraram-se os primeiros sinais de constitucionalização da questão social (que nasceu com o movimento operário, assim como a aplicação das politicas sociais). No entanto a questão remonta a um período anterior (dava o movimento os seus primeiros passos com as migrações campo/cidade e com a introdução da máquina no sistema de produção) e resume-se a: “O fundamento da propriedade é a ocupação de um território ou o trabalho que a transforma?” (Esta questão formulada na época de ouro do colonialismo tornou-se presente nos movimentos de libertação nacional, durante as lutas de libertação e durante os primeiros passos dos Estados independentes africanos – estando na base de uma outra questão: “Independência nacional para quem? - e na actualidade da economia africana, perante a encruzilhada em que se encontram as sociedades do continente).

A Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) oferece uma definição de direitos sociais no artigo 22 (após os artigos sobre as liberdades civis e os direitos políticos), ao proclamar que “todos têm direito á segurança social” e que esta destinou-se á “satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis”, á dignidade e ao “livre desenvolvimento” da personalidade, levando em conta a “organização e os recursos de cada país”. Segue-se o artigo 23 que proclama o direito ao trabalho e o artigo 26 que reconhece o direito á educação.

As condições materiais objectivas de cada país não permitem a todos eles um igual nível de desenvolvimento. Não bastam ao cidadão as liberdades civis e as liberdades políticas, porque estas são “liberdades de” que podem ser formuladas no abstrato e manipuladas no concreto (bastando para tal as constituições referirem que estes direitos subordinam-se a “legislação especifica”, nem sempre devidamente fiscalizada, ou subordinada ao esprito constitucional). Além da “liberdade de “ é necessário a “liberdade para”, ou seja, a possibilidade de fazer, de concretizar.

A “liberdade para” atribui ao individuo o poder para fazer e transporta a faculdade de fazer concedida na “liberdade de”. Se existisse apenas a “liberdade de “ todos seriam igualmente livres, mas nem todos teriam igual poder para fazer. São os direitos sociais (“a liberdade para”) que permitem ao individuo o poder para concretizar aquilo que é livre para fazer.

Existe, no entanto, uma questão que separa os direitos sociais dos direitos civis e políticos e que surge explicita no artigo 22 quando afirma que o “desenvolvimento da personalidade” requer “o espaço nacional e a cooperação internacional” ou alerta para a necessidade de observar os “recursos de cada país”. Esta condição não se aplica aos direitos civis ou políticos porque estes não necessitam de condições para a sua aplicação, podendo ser imediata e irrevogavelmente efectuados. Ora os direitos sociais fundamentais dependem das condições económicas e de desenvolvimento de cada Estado, ou seja são necessárias para o seu exercício determinadas condições materiais objectivas.              

(continua)

Ramos-Horta. “A Guiné-Bissau, pela acção do Presidente, resvala por um trilho perigoso”



JOANA GORJÃO HENRIQUES – Público - Entrevista

Ex-representante das Nações Unidas na Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, responsabiliza o Presidente da República pela crise política e defende o primeiro-ministro demitido

José Ramos-Horta foi o representante do UNIOGBIS, escritório integrado das Nações Unidas para a consolidação da paz na Guiné-Bissau entre início de 2013 e meados de 2014. Numa entrevista ao PÚBLICO por email, o Nobel da Paz e ex-presidente de Timor-Leste responsabiliza o Presidente da República da Guiné-Bissau José Mário Vaz pela crise. Defende o primeiro-ministro demitido Domingos Simões Pereira como tendo sido a escolha acertada das eleições de 2014. E alerta: “A comunidade internacional não pode encarar esta situação de ânimo leve e dar seu aval, isto é, reconhecimento de facto, a um Governo saído de uma arbitrariedade do Presidente da República”. Teme ainda uma escalada do conflito e apela aos militares para que se mantenham calmos.

A que se deve a actual crise política na Guiné-Bissau ?

A crise resulta de uma Constituição que foi cozinhada em Portugal, sem qualquer consideração à realidade social da Guiné-Bissau, mas encomendada e absorvida na Guiné-Bissau, logo a seguir ao derrube do Presidente Luis Cabral. A partir desse primeiro golpe nunca mais conheceu paz. Mas esse modelo Constitucional não desculpa tudo. A crise tem a sua gênese no Palácio Presidencial, num Presidente que, mau grado as prerrogativas ou limitações de seus poderes, devia acima de tudo ser o mediador, homem de diálogo, fazedor de consensos. Foi o que aconselhei o Sr. Presidente José Mario Vaz a ser: o homem do diálogo, o apaziguador. Obviamente ele não ouviu. Ou ouviu mas sucumbiu a tentação e resvalou pelo mesmo trilho muito perigoso por onde passou outros Presidentes de triste memória. 

O que pensa que se pode fazer para resolver a situação?

Tem que haver preços a serem pagos: a comunidade internacional não pode encarar esta situação de ânimo leve e dar seu aval, isto é, reconhecimento de facto, a um Governo saído de uma arbitrariedade do Presidente da República. Entre Novembro de 2013 e este ano, Timor-Leste investiu no processo eleitoral e estabilização da Guiné-Bissau cerca de 20 milhões de dólares: 8 milhões foram para o processo eleitoral entre Novembro de 2013 a Maio de 2014; 10 milhões foram concedidos directamente ao Governo logo a seguir à tomada de posse do novo Governo para ajudar este no pagamento de dois meses de salários de funcionários do Estado; 2 milhões para ajudas as comunidades rurais pobres. Timor-Leste, que tem que apertar o cinto com a queda brusca do preço dos hidrocarbonetos, deve rapidamente repensar o seu papel na Guiné-Bissau. E não vejo como a União Europeia, União Africana, Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Mundial, etc possam desembolsar e implementar os programas em curso ou prometidos. Creio que vão congelar o que já estava no "pipipeline" de ajudas, isto é, vão congelar tudo até que se ache um desfecho legal, legítimo, pacifico. 

Os militares têm-se mantido neutros, há risco de isso se alterar?

Há, sim, esse risco mas espero bem e faço apelo aos militares para que se mantenham na caserna, não se deixem influenciar e manipular pelas elites políticas como aconteceu no passado. Os militares foram sempre enxovalhados e vistos como os causadores de todos os males da Guiné-Bissau. Mas logo no primeiro mês da minha estada na Guiné-Bissau em Fevereiro de 2013, eu disse aos presidentes da Nigéria, Senegal Costa do Marfim com os quais mantive excelentes relações: o maior problema na Guiné-Bissau não são os militares, são os políticos. E todos eles concordaram. E mantenho esta convicção. 

Corre-se o risco de uma escalada de conflito?

Há certamente este risco. Mas o povo daquele país é muito pacifico e raramente se envolve em violência fratricida. A escalada de conflito pode ser evitada desde que quem tenha influência sobre a chefia militar continue a apelar para que ela se mantenha neutra. Mensagens bem claras devem ser transmitidas aos líderes políticos avisando-os de sanções individualizadas contra todo e qualquer político envolvido em actos inconstitucionais e instigação à violência. Deve ser congelada toda a cooperação com as autoridades; toda a ajuda deve ser canalizada através das agências da ONU como a UNICEF, PAM, OMS, etc e ONG’s internacionais e nacionais para que não haja agravamento da situação social. O povo, um povo muito bom, sofrido, traído tantas vezes, não deve ser penalizado. 

Ainda acredita que a Guiné-Bissau é um país viável?

O Eng. Domingos Simões Pereira foi a escolha acertada do PAIGC e do eleitorado nas eleições livres de 2014. Com ele a Guiné-Bissau entrou no bom caminho e começou um período de melhorias visíveis e sentidas por todos. Em pouco tempo! O ambiente era mesmo de optimismo. O Sr. Presidente José Mario Vaz quis e deseja ter outro protagonismo que não é o de um Chefe de Estado apaziguador, homem de diálogo e consensos. A Guiné-Bissau, pela acção do Presidente José Mario Vaz, resvala agora por um trilho muito incerto, perigoso. 

Foto: Miguel Madeira

Parlamento guineense vai realizar debate de urgência




A Assembleia Nacional Popular (ANP, o Parlamento) da Guiné-Bissau vai reunir-se com caráter de urgência em data a anunciar para debater a situação política do país, anunciou o órgão.

A Comissão Permanente da ANP reuniu-se hoje e deliberou convocar os deputados para uma sessão extraordinária, bem como "condenar com veemência" a decisão do Presidente da República de nomear e empossar um primeiro-ministro que "não foi indigitado pelo partido vencedor das eleições [PAIGC]", refere-se em comunicado.

No documento assinado por Cipriano Cassamá, presidente do Parlamento, é reafirmada a "fidelidade aos princípios constitucionais, ao diálogo e concertação como instrumentos e meios de resolução de divergências políticas e institucionais entre os órgãos de soberania".

A Comissão Permanente da ANP deliberou ainda "apelar" ao Presidente, José Mário Vaz, no sentido de reconsiderar a sua posição e promover, no quadro constitucional, uma solução para a crise política".

O Presidente da República, José Mário Vaz, nomeou e deu posse na quinta-feira a Baciro Djá, vice-presidente do PAIGC, como primeiro-ministro.

O partido classificou de ilegal a decisão do Presidente guineense e remeteu para breve uma posição "mais consistente" daquela força política.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Guiné-Bissau. Direitos Humanos considera nomeação de Mário Vaz inconstitucional




A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) considerou inconstitucional a decisão do Presidente da República nomear um novo primeiro-ministro que não foi indicado pelo partido vencedor das eleições.

"Podemos ler a Constituição do artigo primeiro ao último e não encontramos qualquer referência em que é permitido ao Presidente da República indicar diretamente a figura do primeiro-ministro", apontou Augusto Mário da Silva, presidente da LGDH, em conferência de imprensa.

Ou seja, "é o partido que vence as eleições que indica o nome. O sistema semipresidencialista da Guiné-Bissau não permite a formação de um governo de iniciativa presidencial", sublinhou.

"Só por isso, este ato do Presidente da República viola de forma flagrante a Constituição da República", destacou Augusto Mário da Silva.

O Presidente da República, José Mário Vaz, nomeou e deu posse na quinta-feira a Baciro Djá, vice-presidente do PAIGC, como primeiro-ministro.

O partido classificou como ilegal a decisão do Presidente guineense, uma vez que aquela força política tinha proposto a Vaz a recondução de Domingos Simões Pereira, demitido no dia 12, e nunca foi consultada sobre outro nome.

"O Presidente nomeou um amigo" do tempo de campanha eleitoral e mostra uma "vontade inequívoca" de seguir um plano através do qual "visa o controlo absoluto" das funções do Estado, acrescentou o presidente da Liga.

A LGDH lidera a Aliança Nacional pela Democracia, um movimento composto por diversas organizações da sociedade civil que vão intentar uma ação judicial visando a destituição do presidente do país.

Augusto Mário da Silva apelou ainda à população manifestar-se, "sem recurso à violência", no que considera ser "uma ameaça à paz".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Jornal senegalês garante que PR guineense escreveu a Macky Sall pedindo protecção militar




O Presidente da Guiné-Bissau, José Mario Vaz, teme por sua vida após a crise entre ele e seu agora ex-primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira, recentemente demitido, contra a opinião do partido maioritário, o PAIGC. Segundo o "The Witness" Mário Vaz pediu ao Presidente da República do Senegal, Macky Sall, o envio de um destacamento de Grupo de Intervenção da Gendarmerie Nacional, a temida GIGN para garantir a sua segurança. O pedido foi feito por via diplomática. Na esperança de Macky Sall aderir à sua solicitação.

Deve ser dito que os elementos do GIGN especializadas em proteção estreita e luta contra o terrorismo e o crime organizado são altamente respeitados em todo o mundo. Eles são experientes, versáteis e muito profissionais.

A Guiné-Bissau já conhece os feitos de armas desse corpo militar da elite. Durante a guerra civil, em 1998, os GIGN foram enviados pelo Presidente Abdou Diouf para garantir a segurança do Presidente da Guiné-Bissau, General João Bernardo Vieira, conhecido como "Nino Vieira". Quando o exército senegalês retirou no final da "Operação Gabou", os gendarmes do GIGN tinham controlado a situação. Alguns anos mais tarde, Nino Viera foi assassinado na sua residência oficial por homens armados.

Atualmente um contingente de 140 elementos do Agrupamento de Intervenção da gendarmerie nacional (GIGN), comandada pelo tenente-coronel Charles Dib Thiam, excelente elemento e treinador GIGN, que coordenou a segurança do ex-presidente, Abdoulaye Wade, até sua queda em 2012, situa-se em Bangui. O tenente-coronel Charles Dib Thiam e seus homens são responsáveis ​​pela proteção das autoridades do Estado Central Africano.

Publicado em Ditadura do Consenso (gb). Tradução livre de Página Global. 

Fonte: Seneweb - http://www.seneweb.com/news/Diplomatie/guinee-bissau-le-president-jose-mario-va_n_161980.html

Guiné-Bissau. Decisão do Presidente pode levar país ao caos, diz ex-primeiro-ministro




O primeiro-ministro demitido da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, considerou hoje que a decisão do Presidente de nomear Baciro Djá como novo chefe do Governo poderá levar o país outra vez ao caos e ao abismo.

Em entrevista à Rádio de Cabo Verde (RCV), Domingos Simões Pereira afirmou que o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) vai requerer a fiscalização da constitucionalidade da decisão e agir judicialmente contra o Presidente, José Mário Vaz.

"Para não variar, o Presidente voltou a escolher um caminho que pretende levar o país outra vez ao caos e ao abismo. É lamentável, é triste. Eu não tenho prazer nenhum em apresentar o meu país nestes termos, mas é a realidade que nós estamos a viver. Só que nós assumimos que vamos aceitar e vamos resolver essa realidade", prometeu.

Domingos Simões Pereira entendeu que a decisão de José Mário vaz fere a Constituição da República e outras leis, uma vez que o chefe de Estado não ouviu os partidos políticos com assento parlamentar e o Conselho de Estado não foi consultado.

"Lamentamos que o Presidente insista neste caminho e nós, apesar de não concordarmos com elementos invocados para a demissão do Governo, afirmamos sempre que respeitamos a competência que teria para esse efeito e que nunca sairíamos do espaço da legalidade para fazer valer os nossos interesses", sublinhou.

"Mas fica difícil acompanhar o percurso do PR quando, invariavelmente, escolhe mecanismos antidemocráticos, ilegais e que são uma afronta ao PAIGC e à sociedade", prosseguiu.

Domingos Simões Pereira disse que desde a tomada de posse o PR se posicionou como oposição ao seu Governo e tem insistentemente procurado argumentos e elementos para justificar uma crise política no país.

"Mas vamos imputar total responsabilidade ao PR a todo e qualquer impacto político que daqui resulte e vamos responsabilizá-lo política, social e judicialmente por este conjunto de elementos que consubstanciam uma vontade inequívoca de repor o país em situações de dificuldades e de conflito, numa situação de potencial guerra civil", garantiu.

O primeiro-ministro demitido disse que não está derrotado, mas sim "muito triste" por ter acreditado muito no país que se estava a desenvolver, ganhando confiança da sociedade.

"Agora vamos mergulhar numa luta que ninguém sabe os contornos que vai assumir. É verdadeiramente triste e este senhor tem que ser responsabilizado pelo que acaba de fazer ao povo da Guiné-Bissau", insistiu.

Simões Pereira disse que o PAIGC ficou surpreendido com o decreto que nomeou quinta-feira Baciro Djá como novo chefe do Governo, no mesmo dia que se esperava a chegada ao país de uma delegação da CEDEAO, chefiada pelo ex-presidente da Nigéria, Olugun Obasanjo, para propor diálogo entre as estruturas políticas do país para encontrar uma saída para a crise.

Quanto a Baciro Djá, que foi suspenso há 13 dias do PAIGC, Domingos Simões Pereira lembrou que o agora primeiro-ministro não apresentou contas enquanto diretor de campanha do PAIGC às eleições presidenciais e não respondeu aos órgãos do partido.

"(Baciro Djá) é um militante do partido, ativo que nós gostaríamos que pudesse vir a dar um contributo ao partido e ao país, infelizmente entra para a lista daqueles que entram pelo atalho para encontrar vias fáceis de aceder ao poder e fazer usufruto desse poder", lamentou.

Recordou que Baciro Djá conseguiu o despacho de uma juíza que o ilibou de todas as acusações para que o Presidente o pudesse nomear como primeiro-ministro.

"Talvez isso explicará em certa medida a pressa que o PR tinha em fazer a nomeação, o que não permitiu corresponder a todos os requisitos que a Constituição impõe para o efeito", terminou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Corbyn ressuscita idealismo socialista no Reino Unido e diz que se eleito pedirá desculpas ao Iraque



Alberto Castro*, Londres

Jeremy Corbyn, candidato a líder dos Trabalhistas britânicos disse em entrevista exclusiva ao The Guardian hoje (21) publicada que, se eleito, pedirá desculpas ao seu partido e ao Iraque pela guerra neste países em 2003, motivada por uma mentira.

Corbyn, que se descreve a ele mesmo como um socialista democrático, pertence a ala fundacional de ideologia verdadeiramente socialista e democrática dos Trabalhistas britânicos. Segundo vários analistas,  sempre foi coerente com suas convicções, sendo visto por seus adversários internos e externos como representando a esquerda dura, ultrapassada, parada no tempo.

Mas é precisamente a firmeza das suas convicções que o tornam na estrela maior da corrida a liderança do seu partido gerando uma onda de simpatias já apelidada de corbynismo, particularmente entre os jovens que nele veem o único candidato antipolítico profissional, alguém que fala diretamente para as pessoas.

Sua candidatura à liderança surgiu de uma proposta dentro do próprio partido no sentido de alargar o debate à todas as tendências internas. Só que nem mesmo os proponentes contavam que ele tivesse o surpreendente apoio de militantes e simpatizantes, particularmente dos sindicatos de trabalhadores, que se reveem nas suas politicas o colocam disparado na liderança da corrida para ser o próximo líder trabalhista.

Para além de mobilizar também a juventude em torno de suas ideias, tem ganho simpatia de partidos da esquerda tidos como radicais, nacionalistas escoceses e, pasme-se, mesmo entre os conservadores Tories  e independentistas do UKIP que veem nele o único candidato com princípios coerentes e ideologia definida.

Amigo de Fidel Castro e Hugo Chavez, participa do Foro de São Paulo, uma organização criada em 1990, inspirada pelo líder cubano e Lula da Silva, entre outros, para discutir alternativas às políticas neoliberais na América Latina e no Caribe e hoje abrangente à participação de partidos, políticos, ativistas e intelectuais de esquerda bem como movimentos sociais e populares de todo o mundo.

Segundo o The Guardian, teve como mentores Tony Benn, ícone da ala esquerda trabalhista por muitos considerado o líder perdido do partido, e o marxista Ralph Miliband, pai dos irmãos Ed e David Miliband. Entre os seus autores preferidos estão Oscar Wilde e o nigeriano Chinua Achebe. Sua educação superior não passou de uma breve passagem por um politécnico de Londres e com aqueles diz que feito a sua ''Universidade de Educação''.  

Em 2003 foi, juntamente com o então trabalhista  Geoge Galloway, dos poucos a posicionar-se firmemente no Parlamento de Westminster contra a decisão de Tony Blair em envolver o Reino Unido na guerra no Iraque, tendo sido um dos líderes do movimento de massas Stop the War Coalition.

Militante pacifista, opõe-se à renovação do Trident, sistema militar britânico de armas nucleares, e faz campanha mundial para o desmantelamento de armas de destruição massiva, sendo um dos três vice-presidentes da organização Campain for Nuclear Disarmament. É contra a expansão da NATO para o leste europeu e defende o diálogo com organizações tidas como terroristas.

Em entrevista recente ao Channel 4 News, justificou assim a sua posição: ''Penso que para fazer a paz temos que falar com pessoas com que estamos profundamente em desacordo. Não haverá qualquer processo de paz [Médio Oriente] a menos que haja conversações envolvendo Israel o Hezbollah e o Hamas".

Deputado há mais de 30 anos por Islington North, Londres, é o menos dispendioso dos parlamentares de Sua Majestade, de quem é veemente opositor. Assumidamente antiausteridade, fez campanha contra a nacionalização da NHS, sigla em inglês do serviço nacional de saúde britânico, defende a gratuitidade do ensino universitário, o controle do Estado sobre empresas de utilidade pública em setores como água, gás e eletricidade e, entre outras, a renacionalização dos caminhos de ferro.

Paradoxalmente, quanto mais a imprensa e os seus adversários internos e externos o tentam demonizar ou desqualificar, associando-o a figuras no seu entender ''pouco recomendáveis'' como Fidel, Chavez e Putin, entre outros, maior se tornam os apoios em torno da sua candidatura. Depois do susto tido com o último referendo que ameaçava com a independência na Escócia, Jeremy Corbyn tornou-se em um autêntico pesadelo para os defensores do atual modelo de sociedade em terras de Sua Majestade e para Tony Blair em particular.

Por outro lado, ele surge como uma lufada de ar fresco no idealismo democrático numa altura em que o mundo anda carente de políticos de integridade e convicção. Mas vai o atual establishment dominante e a inteligensia ao seu serviço permitir? A Grécia responde que não. 

*Alberto Castro é correspondente de Afropress em Londres e colabora em Página Global

A UE E A PROTEÇÃO AMBIENTAL: Mais vale abandonar uma União do que ceder aos lobbies




A pressão exercida pelos representantes da indústria agroalimentar e da construção para uma flexibilização da regulamentação europeia no que diz respeito à proteção da natureza coloca seriamente à prova os mais pró-europeus ecologistas britânicos, estima um dos mais influentes entre eles, George Monbiot.

Em vários países da UE, as normas europeias sobre a proteção da natureza – adiretiva sobre as aves selvagens e a relativa à preservação dos habitats naturais – são os únicos recursos legais possíveis em matéria de proteção ambiental, observa George Monbiot no The Guardian. No entanto, segundo o defensor ambiental britânico, as reformas propostas pela Comissão Europeia vão enfraquecer substancialmente o seu alcance. Estas colocam, na verdade, “moralmente em perigo” um “conjunto de proteções fiável, embora por vezes excêntrico,” ao ceder às pressões do lobby da indústria, que há muito realiza campanhas para flexibilizar a regulamentação sobre o ambiente.

Recentemente, a Comissão Europeia abandonou as suas propostas em matéria deproteção dos solos devido à pressão exercida pelo lobby dos agricultores e do Governo britânico. Caso ocorra uma capitulação similar com as diretivas da natureza, afirma Monbiot, o interesse para os ambientalistas “de uma continuação da adesão” à UE “não será evidente” e privará os adversários de uma“Brexit” de um argumento de peso.

Monbiot não defende a saída do Reino Unido da UE, mas convidou os seus leitores a contribuir para a consulta pública lançada pela Comissão sobre as diretivas das “aves” e dos “habitats” (agora terminada). A sua intervenção testemunha a dessatisfação crescente face à UE entre os meios de comunicação britânicos de esquerda, nomeadamente no que diz respeito às negociações sobre o TTIP e à crise grega.

As ameaças às diretivas sobre a natureza não provêm do setor económico enquanto conjunto, mas da pressão exercida por duas das indústrias mais destrutivas da UE, o lobby da agroindústria e o da construção. O facto de a Comissão ter decidido dar-lhes ouvidos e ignorar o ponto de vista de todos os outros mostra tudo o que está a correr mal. Desta forma, quando chegar a hora do referendo (sobre a permanência do Reino Unido na UE), enfrentarei um dilema que nunca imaginei enfrentar. Sou um internacionalista. Acredito que as questões que transcendem as fronteiras nacionais devem ser abordadas em conjunto e não individualmente. […] Não tenho nada em comum com os eurocéticos de direita, que parecem achar que a UE os impede de exercer o seu direito divino de explorar os outros e destruir o que os rodeia. Sinto que devo juntar-me à defesa desta instituição face às forças da reação, mas esta sucumbiu de forma tão catastrófica a estas forças que não resta muito que defender.

Vox Europ - The Guardian – Foto: LittleHow /Commons

O SACO DA "TEORIA DA CONSPIRAÇÃO"



José Goulão – Jornal de Angola, opinião

Dissertar sobre aquilo a que é comum chamar-se teoria da conspiração e que, em boa verdade, não se sabe muito bem o que é, está na moda.

Dir-se-á que é um tema aconselhado para o período de férias, “silly season” onde tudo é tratado como “fait-divers”, desde as estatísticas do desemprego às cidades melhores e piores para se viver – para o caso de estarem distraídos deve evitar-se Damasco, coisa de que ninguém suspeitava.

Pois as teorias da conspiração também têm os seus “top-ten” com os quais não vale a pena gastar tempo e espaço, a não ser para sublinhar que nessas listas se misturam alhos com bugalhos, isto é, coisas muito sérias manipuladas e escondidas deliberadamente da opinião pública com delírios e bizarrias que alimentam a internet e também alguns órgãos de comunicação social que encabeçam as listas dos mais respeitáveis – listas essas fabricadas pelos próprios.

O tema pode ser estival, porém nada tem de inocente. Muito menos quando se misturam coisas que não cabem, nem podem caber, no mesmo saco. Por exemplo, quando se colocam ao mesmo nível as investigações que não coincidem com a versão oficial dos atentados de 11 de Setembro de 2001 com as lendas sobre o facto de figuras como Elvis Presley ou Michael Jackson não terem morrido.

Tratar com ligeireza e imbecilidade um tema como este, o da chamada teoria da conspiração, é uma maneira de colar o mesmo rótulo de descrédito em denúncias fundamentadas sobre assuntos importantes mal contados por quem nos governa e em idiotices chafurdadas em revistas de fofocas e websites para alarves. Ou seja, é uma mistificação que, no limite, desvaloriza trabalhos sérios – como acontece em investigações sobre o 11 de Setembro – que não coincidam com as versões dos poderes sobre este ou aquele acontecimento. Trata-se de uma manobra insidiosa para invalidar o contraditório, para amarrar a opinião pública a uma explicação única e definitiva das coisas em vez de a por a reflectir sobre as realidades que nos cercam. É interessante, por exemplo, que haja jornalistas a colaborar nesta mistificação mesmo sabendo – ou devendo saber – que estão a enviar para o grupo dos aldrabões e lunáticos os seus camaradas de profissão que fazem o que têm a fazer: investigar, procurar verdades, sobretudo quando são escondidas.

Encafuar as investigações sérias e os factos já apurados sobre assuntos que determinam o andamento do mundo em que vivemos na mesma gaveta das teses peregrinas sobre a Terra ser oca e o homem nunca ter ido à Lua é um exercício estival de quem passa o tempo a catalogar como teorias da conspiração as demonstrações de actos e acontecimentos que não cabem na verdade oficial, logo seguidas e repetidas até à exaustão pela corte dos comentadores papagaios avençados pelo sistema único. Gente para quem o facto de o golpe na Ucrânia ter conduzido a um governo fascista, ou a possibilidade de o MH17 não ter sido derrubado por um míssil russo, ou a circunstância de haver produtos comercializados pela multinacional Monsanto que envenenam pessoas e o planeta, ou a invasão do Iraque ter sido baseada num chorrilho de mentiras, ou o neoliberalismo existir e ter criado a crise como regime global estão ao mesmo nível de seriedade das teses segundo as quais o Presidente Eisenhower assinou acordos com extraterrestres ou Saddam Hussein preparou a invasão do planeta por alienígenas.

Quando exercícios deste tipo se realizam com a participação de centrais de propaganda como por exemplo as que servem as estratégias desenhadas pelo Grupo de Bilderberg percebe-se que neles nada há de inocente. Tais órgãos justificam, nesta matéria, o porquê de se auto-intitularem “meios de referência”. De facto, basta-lhes seguir o rasto para se conhecerem, passo a passo, as tendências dominantes de quem segue as regras de manipulação e intoxicação dos cidadãos ao serviço do regime único.

Guiné-Bissau. Posse do novo PM. PRESIDENTE AFIRMA QUE DEVOLVE O PODER AO PAIGC




O Presidente da República da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, afirmou no fim da tarde desta quinta-feira, 20 de agosto, que devolveu o poder ao Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), enquanto legítimo vencedor das últimas eleições legislativas. O Chefe de Estado guineense falava durante a cerimónia da tomada de posse do novo primeiro-ministro, Baciro Dja que igualmente exerce a função de terceiro vice-presidente do partido.

“Com base nisso, nomeei Baciro Dja, um dos vice-presidentes do partido, a quem coube exercer o importante papel de Diretor Nacional da Campanha Eleitoral do PAIGC nas últimas eleições gerais.  Baciro Dja percorreu o país de lés-a-lés durante essa campanha, é um conhecedor profundo das promessas eleitorais do partido e do então candidato presidencial”, lembrou.

O Chefe de Estado asseverou que a hora é de mudança no país, tendo acrescentado ainda que a mudança a que se refere não é apenas do governo. Sustentou neste particular, que deseja imprimir uma mudança de comportamento e atitude em prol de dedicação ao trabalho para o bem-estar do povo guinense.

“Quero aproveitar esta oportunidade para apelar a todos os guineenses, sem exceção, para que cada um contribua, de acordo com a sua capacidade e experiência, para a construção da sociedade idealizada pelo nosso saudoso Amílcar Cabral. Enquanto Presidente da República, estou disposto a aceitar todos os sacrifícios necessários para a implementação de medidas visando corrigir as desigualidades existentes na nossa sociedade”, contou José Mário Vaz.

Assegurou por um lado que estará sempre disponível para apoiar, contudo frisou, por outro lado, que estará igualmente atento para corrigir eventuais derrapagens no percurso da governação.

O novo Primeiro-ministro, Baciro Dja, agradeceu o Chefe de Estado pela confiança depositada na sua pessoa, como também agradeceu o povo guineense e o PAIGC pela oportunidade.

Baciro Dja reconheceu na sua intervenção que o país enfrenta um momento particular na sua história da política e democrática. Afirmou na ocasião que o momento interpela a todos os órgãos de soberania, políticos, militares e sociedade civil organizado ou não para assunção das responsabilidades com vista a estabilização do país.

O Novo primeiro-ministro empossado disse que o momento exige a criação de condições para o desenvolvimento almejado e da afirmação da Guiné-Bissau, enquanto Estado soberano, no concerto das Nações.

“Vou eleger o diálogo franco, honesto e sincero para busca de soluções, concertadas e duradouras, para a Guiné-Bissau, quer para ultrapassar a crise em curso, assim como para a governação do país”, assegurou.

A cerimónia da tomada de posse do novo primeiro-ministro decorreu no salão oficial do Palácio da República na presença do Presidente do Supremo Tribunal da Justiça, Paulo Sanhá, dos corpos diplomáticos, representantes das organizações internacionais bem como dos conselheiros do Presidente da república. Notou-se ainda a ausência dos representantes da Assembleia Nacional Popular.

O Democrata soube, no entanto, que o presidente do parlamento, Cipriano Cassamá, encontra-se fora do país neste momento, mas os dois primeiros vice-presidentes estão no país. 

O Democrata (gb)

Baciró Djá. Próximo primeiro-ministro guineense enfrenta suspensão do PAIGC




O próximo primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Baciro Djá, enfrenta um processo de suspensão do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) anunciado pelos órgãos dirigentes há 12 dias.

A posse ser-lhe-á conferida pelo Presidente da República, José Mário Vaz, hoje às 17:00 (18:00 em Lisboa) no Palácio Presidencial, em Bissau - no mesmo dia em que o nomeou para o cargo.

Baciro Djá é um político de 42 anos, formado em Psicologia, que já teve funções governativas e foi candidato à presidência do país em 2012.

Em fevereiro de 2014, apoiou Domingos Simões Pereira na candidatura à liderança do PAIGC no congresso de Cacheu (cidade no norte da Guiné-Bissau).

Depois de conduzir a campanha do partido nas eleições gerais (legislativas e presidenciais), integrou em julho de 2014 o Governo de Domingos Simões Pereira, assumindo a pasta da presidência do Conselho de Ministros.

Há cerca de dois meses, a 22 de junho, durante uma reunião do Comité Central do PAIGC, o primeiro-ministro e líder do partido, Domingos Simões Pereira, acusou Djá de comprometer "alguns objetivos de governação e o próprio relacionamento com outros titulares dos órgãos de soberania".

Sem detalhar as razões de desentendimento, o porta-voz do PAIGC, João Bernardo Vieira, remeteu apenas para as deliberações do encontro: "encaminhar para o Conselho de Jurisdição todos os elementos referenciados pelo 3.º vice-presidente [Baciro Djá] relativos a apoios do exterior" e reabrir as contas da última campanha eleitoral.

O porta-voz referiu que Baciro Djá era responsável pelo dossiê e nunca chegou a apresentar o relatório final das contas.

No dia seguinte, o governante anunciou a entrega do pedido de demissão ao líder do Governo e justificou a saída com uma "notória falta de confiança recíproca", entre ele próprio e Simões Pereira.

"Em nome da coerência, em nome da cultura de Estado e de responsabilidade, acho necessário e pertinente formular o pedido de demissão do cargo que até hoje estou a assumir", referiu.

Apesar de questionado pela Lusa, não quis explicar as razões da falta de confiança recíproca de que fala, remetendo mais pormenores para um "momento oportuno".

Sobre o que ia fazer, Baciro Djá afirmou-se um político e disse que ia continuar a exercer funções na Assembleia Nacional Popular (ANP), como deputado eleito.

A 08 de agosto, o ´bureau´ político do PAIGC anunciava a suspensão de militância decretada pela justiça do partido a Baciro Djá - decisão entretanto contestada pelo próprio nos tribunais.

Hoje toma posse como novo primeiro-ministro às 17:00, numa decisão do Presidente da República já classificada pelo PAIGC como inconstitucional.

Nos termos das consultas previstas na lei e enquanto partido maioritário no Parlamento, o PAIGC tinha proposto na segunda-feira que o chefe de Estado voltasse atrás e reconduzisse Domingos Simões Pereira.

Lusa em Notícias ao Minuto




Diversas organizações da sociedade civil da Guiné-Bissau anunciaram que vão intentar uma ação judicial visando a destituição do Presidente da República, José Mário Vaz.

Agrupadas na chamada Aliança Nacional pela Democracia, liderada pela Liga Guineense dos Direitos Humanos, as organizações acusam o Presidente José Mário Vaz de "estar a mais" na sociedade guineense.

Acusam o chefe de Estado guineense de uma série de factos que dizem ser contrários à Constituição do país, nomeadamente, um alegado desrespeito pelos símbolos nacionais e um "golpe de Estado institucional".

As organizações agrupadas na Aliança Nacional pela Democracia consideram inconstitucional a decisão hoje formalizada de José Mário Vaz em nomear Baciro Djá primeiro-ministro, pelo que vão atacá-la no Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

Questionado pela Lusa sobre os fundamentos e a forma como pensam atuar na Justiça para pedir a destituição do chefe de Estado, Luís Vaz Martins, antigo presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, disse que o assunto será tratado por uma equipa de juristas do país.

Prometem a partir de sexta-feira iniciar um processo de desobediência civil no país que passará já pela paralisação dos transportes e ainda por um apelo aos funcionários públicos para ficarem em casa.

As organizações da sociedade civil responsabilizam o Presidente guineense pelas "consequências imprevisíveis" da nomeação de um "Governo inconstitucional" e receiam ainda que este ato possa "levar a uma intervenção militar".

Acusam José Mário Vaz de não ter ouvido os apelos de todos os quadrantes da sociedade guineense e "até do secretário-geral das Nações Unidas" no sentido de não demitir o Governo de Domingos Simões Pereira.

O porta-voz da Aliança Nacional pela Democracia afirmou que a plataforma congrega partidos políticos, sindicatos e associações patronais, mas apela à adesão das igrejas e líderes tradicionais.

"O país caminha para uma situação muito perigosa que pode conduzir a mais uma intervenção dos militares", afirmou Luís Vaz Martins.

Lusa, em Notícias ao Minuto

GOLPE DE ESTADO INSTITUCIONAL NA GUINÉ-BISSAU TEM O APOIO DA ONU




Não existe outro modo de interpretar o representante da ONU para a Guiné-Bissau, o santomense Miguel Trovoada. Depois de o PR guineense demitir o governo de Simões Pereira devido a alegadas incompatibilidades geradas por seu absolutismo e instintos golpistas, Mário Vaz, o PR golpista, nomeou para primeiro-ministro o seu amigo Baciró Djá à revelia do partido mais votado nas eleições de há quase um ano, o PAIGC, e à revelia da sociedade civil e eleitora. Claramente, é um golpe institucional em que o PR escolhe e dá posse a um PM fantoche, ignorando a nomeação a que devia dar procedimento com a indicação do partido mais votado e com maioria na Assembleia Nacional guineense.

Vem agora o representante da ONU na Guiné-Bissau, Miguel Trovoada, reconhecer legitimidade na ilegitimidade do golpe de Estado institucional que o PR Mário Vaz vinha preparando há já algum tempo, gerando tensões artificiais (que passaram a de facto) entre a sua presidência e o governo de Simões Pereira.

Mais uma vez vimos a ONU a meter os pés pelas mãos e a reconhecer legitimidade na ilegitimidade. Tem acontecido algumas vezes estas trocas baldrocas da ONU. Já aconteceu em Timor-Leste e noutros países da lusofonia. Desta vez calha à Guiné-Bissau tal desaire. A ONU que devia ser a defensora de facto da legitimidade e da democracia alia-se a golpistas como Mário Vaz, no presente, ou a Xanana Gusmão, em Timor-Leste, no passado. E assim vai o mundo… Mau para a Guiné-Bissau, como também foi para Timor-Leste. É fartar vilanagem… até um dia.

Na foto: Miguel Trovoada, a ONU em Bissau.

Redação PG/MM

Baciro Djá é o novo primeiro-ministro da Guiné-Bissau

Baciro Djá tinha sido ministro da Presidência do Conselho de Ministros do anterior Governo até apresentar a demissão a 23 de junho, alegando uma "notória falta de confiança recíproca", entre ele próprio e o primeiro-ministro. Domingos Simões Pereira acabaria por ser demitido pelo Presidente José Mário Vaz a 12 de agosto.

Baciro Djá, terceiro vice-presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), está sob uma sanção disciplinar que lhe impede de exercer qualquer função de liderança no seu partido.

PAIGC reage

Numa primeira reação ao decreto presidencial, João Bernardo Vieira, porta-voz do PAIGC, considerou a decisão do Presidente da República inconstitucional. "Trata-se de um decreto ilegal e inconstitucional porque não resulta da vontade do PAIGC. Portanto, é um acto isolado do senhor Presidente da República que decidiu tomar esta atitude contra todas as normas vigentes no país".

Segundo Vieira, o PAIGC vai ter uma posição "mais consistente" nas próximas horas, depois de uma reunião dos órgãos convocada pelo seu líder, Domingos Simões Pereira.

Não obstante, o Presidente da República deveria acautelar-se ao munir-se de prorrogativas constitucionais para nomear o primeiro-ministro, alerta o jurista Adilson Jabula. "É uma prerrogativa do Presidente da República, mas ela não deve ser exercida de uma forma cega", sublinha.

"O Presidente deveria ouvir os partidos que representam o povo dentro da Assembleia Nacional e depois ver quem está em condições de assegurar a governação", defende Adilson Jabula. "O PAIGC detém atualmente a maioria (57 deputados) e se o partido não der o seu aval à nomeação de Baciro Djá, facilmente o novo primeiro-ministro será derrubado pelo próprio PAIGC", destaca o jurista.

ONU apoia "autoridades legítimas"

De acordo com o representante da ONU na Guiné-Bissau, Miguel Trovoada, as Nações Unidas irão colaborar, desde que seja um Governo constitucional, disse à saída de um encontro com o Presidente da República, momentos após a publicação do decreto presidencial.

"As Nações Unidas estão aqui para apoiar as autoridades legítimas do país naquilo que considerarem prioritário. E, por conseguinte, no quadro da continuidade do Estado, a política determinada pela Guiné.Bissau continuará a ser implementada", declarou Miguel Trovoada.

Fátima Tchumá (Bissau) / Lusa, ontem

A ALEMANHA PRECISA DO BRASIL - opinião



Astrid Prange*

É a maldição da amizade: como os dois países cooperam bem há décadas, essa relação bem-sucedida é vista como algo natural e que não necessita de maiores cuidados. Para a jornalista Astrid Prange, um erro grave.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, e a presidente brasileira, Dilma Rousseff, teriam todos os motivos para se demorar um pouco mais nas primeiras Consultas Intergovernamentais de Alto Nível Brasil-Alemanha. Especialmente do ponto de vista alemão, a intensificação das relações com o Brasil é estrategicamente essencial. Berlim parece, até agora, não ter reconhecido isso suficientemente.

Já a indústria alemã reconheceu. As subsidiárias brasileiras de empresas alemãs são responsáveis por 10% do Produto Interno Bruto da sétima maior economia do mundo. Em junho, a Basf inaugurou um novo complexo químico no Brasil, com um volume de investimentos superior a meio bilhão de dólares.

Só que outros países estão ganhando terreno. Linhas férreas, dutos, concessões de exploração de petróleo, modernização de aeroportos, telefonia, construção de estradas, portos – a ampliação da infraestrutura brasileira é impulsionada por consórcios internacionais, nos quais a Alemanha nem sempre está à frente.

Também em nível político, o Brasil parece desempenhar um papel secundário para a Alemanha. A iniciativa conjunta para a reforma do Conselho de Segurança da ONU está parada. Outro exemplo é o escândalo de espionagem da NSA, no qual tanto Merkel quanto Dilma foram vítimas de escutas telefônicas: a reação dos dois governos não foi muito além da indignação verbal.

Com as Consultas Intergovernamentais de Alto Nível Brasil-Alemanha, Berlim pretende impulsionar novamente as relações bilaterais. A assinatura de 15 acordos e uma declaração conjunta sobre proteção climática deverão reaquecer a cooperação. O Brasil entra no rol de nove países com quem a Alemanha mantém contatos regulares de primeiro escalão.

Mas não importa o quão importante e acertada seja essa iniciativa: 24 horas de consultas intergovernamentais não bastam para compensar anos de negligência. Em Berlim ainda falta o reconhecimento e a compreensão da importância do Brasil como um global player nas áreas de política de paz, proteção climática, agronegócio e comércio mundial.

Nas últimas duas décadas, o Brasil não apenas se tornou a sétima maior potência mundial, mas também um porta-voz dos interesses das economias emergentes. Isso se evidencia nos numerosos processos ganhos na Organização Mundial do Comércio (OMC), principalmente na luta contra os direitos de patente de antirretrovirais, mas também em missões de paz da ONU sob o comando do Brasil ou no impulso às reformas do Conselho de Segurança da ONU e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ficam algumas perguntas: por que a Alemanha iniciou consultas intergovernamentais com a China, a Rússia e a Índia antes de iniciá-las com o Brasil? Por que o país, aparentemente, ainda é visto como um estranho no ninho dos centros mundiais de poder? Por que a Alemanha negligencia regiões prósperas da América Latina em prol de mercados da Ásia, que, é verdade, se destacam com altas taxas de crescimento, mas também são politicamente problemáticos?

Ambos os países deveriam aproveitar as consultas intergovernamentais para se despedir por um instante da crise e adentrar novos horizontes. A Alemanha precisa do Brasil para ganhar o apoio de países emergentes e em desenvolvimento a questões de responsabilidade global. E, claro, como parceiro econômico.

O Brasil, por sua vez, precisa de investimentos e de tecnologia da Alemanha. Precisa do apoio de Berlim nas negociações sobre um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. E precisa, principalmente, de uma coisa: um reconhecimento verdadeiro e não somente simbólico.

*Astrid Prange é especialista em América Latina da DW

Deutsche Welle, opinião

Merkel no Brasil. Brasil assume compromisso de descarbonização da economia




Dilma declara que país iniciará transição para chegar a uma economia baseada em energias limpas até 2100. Merkel e líder brasileira defendem renovação e maior representatividade global no Conselho de Segurança da ONU.

A presidente Dilma Rousseff declarou nesta quinta-feira (20/08), em coletiva de imprensa sobre as Consultas de Alto Nível Brasil-Alemanha, que o Brasil realizará uma descarbonização da economia até 2100. A proposta, anunciada pelo G7 em junho, significa reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa, realizando uma transição para uma economia baseada em energias limpas.

"A declaração conjunta que adotamos reflete o nosso compromisso com o êxito da reunião da COP 21[Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas] em Paris, em dezembro. Se queremos evitar que a temperatura aumente dois graus [Celsius], o nosso compromisso com a descarbonização no horizonte de 2100 é algo muito importante para todo o planeta", disse Dilma.

A presidente também se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. No mesmo prazo, o Brasil também pretende restaurar e recuperar 12 milhões de hectares de floresta e neutralizar as emissões de carbono associadas ao desmatamento na Amazônia. Tais metas já haviam sido anunciadas durante a visita do presidente dos EUA, Barack Obama, em 2011.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, elogiou as medidas. "Estou muito satisfeita que temos uma agenda tão ambiciosa para a questão do clima". Ela acrescentou que todos os países devem fazer "aquilo que é possível” para limitar o aquecimento global. "O Brasil deu um enorme passo, e temos um objetivo comum de descarbonização da economia até o fim do século. Isso deve encorajar outros países a serem mais audaciosos", disse a chanceler federal.

Merkel destacou ainda sua atuação como ministra do meio ambiente e a importância da participação do Brasil nas negociações sobre o meio ambiente, como "o país com a maior biodiversidade do mundo". A chanceler federal também anunciou a criação de um fundo de 500 milhões de euros para programas de eficiência energética e ações contra o desmatamento no Brasil.

Merkel e Dilma defendem reforma na ONU

No encontro, ambos os chefes de governo também defenderam a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Concordamos que a reforma é tarefa inadiável e, no marco dos 70 anos da ONU, defendemos o quanto antes o início das negociações efetivas para tornar o conselho mais representativo do mundo multipolar no qual vivemos", disse Dilma, após as reuniões.

Ela afirmou que o G4, que apoia a reforma, vai se reunir antes da Assembleia Geral da ONU, em setembro, para debater o assunto.

Depois da coletiva, a chanceler federal alemã reiterou o discurso de Dilma no brinde em almoço no Palácio Itamaraty. "Estamos preparados para assumir mais responsabilidades na reconfiguração do Conselho de Segurança", afirmou.

O encontro governamental também debateu outros temas relacionados à ONU, como a governança na Internet e a cooperação em missões de paz. "Conversamos ainda sobre a evolução da governança na internet e a importância de se assegurar o direito à privacidade na era digital. Alemanha e Brasil foram pioneiros e bem-sucedidos ao trazerem o tema para o centro da agenda internacional e ser responsáveis pela aprovação da resolução sobre essa matéria", disse Dilma.

Na quinta-feira de manhã, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, se reuniu com o vice-ministro da Defesa alemã, Ralf Brauksiepe, e assinaram uma declaração conjunta. O documento diz que os governos vão se esforçar para promover ações conjuntas em operações de paz e de ajuda humanitária da ONU, em especial na África. A declaração também indica uma cooperação nas áreas de segurança e defesa cibernética.

Alemanha quer segurança jurídica e tributária no Brasil

Além disso, após uma série de reuniões distribuídas pela Esplanada dos Ministérios, o vice-ministro das Finanças da Alemanha, Jens Spahn, afirmou que o país deseja que mais empresas alemãs invistam no Brasil, mas que, por enquanto, a indústria alemã necessita de mais segurança jurídica e informações sobre a legislação tributária.

Dilma também aproveitou o encontro com um dos principais líderes europeus para comentar a renúncia apresentada pelo premiê grego, Alexis Tsipras. "A renúncia faz parte não de uma crise, mas de uma solução — foi isso que a chanceler [federal alemã] me disse", afirmou Dilma. "Faz parte de uma solução. Ele vai recompor o governo dele e , por isso, renunciou."

Ao longo da visita de Merkel a Brasília, o histórico resultado de 7 a 1 entre as seleções na Copa do Mundo de 2014 foi lembrado pela presidente brasileira. Dilma aproveitou para presentear a chanceler federal alemã com mascotes dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, convidando Merkel a retornar ao Brasil em 2016.

Marina Estarque, de Brasília (pv) – Deutsche Welle, ontem

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