quarta-feira, 8 de julho de 2015

FOI VOCÊ QUE PEDIU ESTA EUROPA?



João Gonçalves* - Jornal de Notícias, opinião

O referendo grego teve, entre outros, o mérito de confirmar algumas suspeitas. Quer sobre nós, portugueses, quer sobre aquilo que passa por "Europa" e que, na língua de pau em vigor, se traduz na marca branca "instituições". Às da "Europa" soma-se o descaracterizado FMI da sra. Lagarde, a "adulta" dos solários a qual, sem um pingo de moral política desde que foi ministra de Sarkozy, é acólita matriculada na desgraça em curso. Por aqui, as circunstâncias eleitorais explicaram parte do desvario jubilatório das esquerdas e da intimidação timorata das direitas. E o "carácter nacional", espalhado em muito comentadorismo, nas redes sociais e em algumas prosas do jornalismo oficioso, o resto: "dureza" e grosseria. Paulo Rangel perguntava ontem, num artigo no Público, "Grécia, Grécia, por que nos abandonaste", presumivelmente na sua recente qualidade de substituto de Alexandra Solnado na interlocução directa com Jesus. E o primeiro-ministro, mais terreno e jurado praticante do tratado orçamental, sugeria que cabia à Grécia escolher.

Ou seja, apontou-lhe delicadamente a luz de presença "saída" na lógica, aliás, da aritmética do doutor Cavaco. Ora como preveniu Medeiros Ferreira em Abril de 2012, o Tratado Orçamental foi feito para dividir a Europa e não para a unir. É também isso que revela a tagarelice e a mesquinhice de muitas destas reacções ao transe grego o qual, lá por ser grego, não deixa de ser sobretudo europeu. Os sonsos das "instituições" - com Dijsselbloem à cabeça, Draghi nas mãos, Schulz no tronco e Juncker nos pés -, no lastro de um Conselho Europeu composto por impotentes políticos, activos ou passivos, espelham bem a inexistência de um pensamento sobre o futuro da União. Primeiro, cativa da alacridade dos Tratados desde 1992 e, agora, exclusivamente subordinada ao Tratado Orçamental de 2012 que apenas serviu para aumentar a desconfiança entre estados-membros.

O episódio grego decorre fundamentalmente disto e do colapso de décadas de governações falaciosas caídas com estrondo sobre o perplexo e porventura impreparado Tsipras que não hesitou na imolação de Varoufakis. Porque (e volto a pedir emprestadas palavras a Medeiros Ferreira) "neste momento as instituições europeias não funcionam, nem dentro nem fora dos Tratados" dado "o erro inicial da fuga à vontade dos povos e ao escrutínio democrático a nível europeu". Obama e Putin não são meros observadores. Foi você que pediu esta Europa? Eu não.

O autor escreve segundo a antiga ortografia - *Jurista

Portugal. Processo na Grécia "sublinha justeza da posição do PCP" sobre o euro




O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Jerónimo de Sousa, considerou hoje que todas as "contradições" e "ambiguidades" em torno da atual crise económica na Grécia sublinham a "justeza da posição do PCP" sobre esta matéria.

"O estudo e a preparação do país para a libertação da submissão ao euro e a colocação dessa questão evidenciam-se como uma necessidade real. É uma irresponsabilidade não a considerar", vincou Jerónimo de Sousa.

O líder comunista falava num hotel em Lisboa e apresentava perante dezenas de pessoas o programa eleitoral do partido para as legislativas deste ano.

No texto, o PCP diz querer "estudar e preparar" a libertação de Portugal da "submissão do euro", defendendo o partido que a moeda única "representou estagnação e recessão, desinvestimento e degradação do aparelho produtivo".

Para Jerónimo de Sousa, é necessário que Portugal disponha de "soberania orçamental, cambial e monetária".

"Não podemos ter um país acorrentado às atitudes discricionárias de Bruxelas e Berlim, um povo refém das chantagens do Banco Central Europeu (BCE) ou do Eurogrupo", vincou.

O secretário-geral comunista aproveitou ainda para dizer que, ao contrário do que alguns "apregoam", o país "não está melhor" nem os sacrifícios valeram a pena.

"Só quem mede o país pelos ganhos do capital monopolista ou pelos elogios da senhora Merkel pode achar que um país com uma geração desfeita pela emigração forçada (...) pode afirmar sem ponta de vergonha que o país que agora deixam na hora de serem afastados pela vontade popular está melhor", realçou, lançando farpas ao Governo.

Portugal, contudo, mantém o seu "potencial humano" e a "capacidade e conhecimento dos seus trabalhadores", e há "fatores e condições suficientes" para com uma política de esquerda serem respondidos desafios como a qualidade de vida das populações e do povo.

"É essa política que o PCP se propõe concretizar, disponível para assumir todas as responsabilidades que o povo lhe queira atribuir", prosseguiu Jerónimo de Sousa.

Os comunistas vão concorrer às legislativas deste ano com "Os Verdes" e Intervenção Democrática, juntos na Coligação Democrática Unitária (CDU).

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. Maria Barroso. Aplausos marcaram último adeus à antiga primeira-dama




Aplausos, poesia e emoção marcaram hoje o funeral de Maria de Jesus Barroso, falecida na terça-feira, e cujas cerimónias fúnebre foram acompanhadas por muitos políticos e cidadãos anónimos.

Após ter estado em câmara ardente no Colégio Moderno, onde a antiga primeira-dama deu aulas, a urna com os restos mortais de Maria Barroso foi aplaudida à chegada e à saída da Igreja do Campo Grande, e também no cemitério dos Prazeres, por cidadãos que se quiseram despedir da fundadora do Partido Socialista (PS).

Apesar do calor que se fazia sentir hoje de manhã, e de não poderem entrar na igreja, que estava cheia, os populares mantiveram-se no adro, onde esperaram pela saída dos familiares e da urna.

A missa na Igreja do Campo Grande, em Lisboa, teve início às 11:00, durou cerca de uma hora e meia, e contou com testemunhos da família. Na cerimónia participaram ainda os alunos do Coro da Escola de Música do Colégio Moderno.

À saída da missa, foi também aplaudido o antigo Presidente da República Mário Soares, marido de Maria Barroso, que acenou e sorriu aos presentes em agradecimento.

O cortejo fúnebre fez uma passagem pela sede nacional do PS, no Largo do Rato, tendo seguido depois para o cemitério dos prazeres, onde foi lido um poema de Camilo Pessanha e onde o secretário-geral do PS António Costa fez um discurso no qual considerou que Maria Barroso foi "a mãe fundadora" do partido.

"A Maria de Jesus é por direito próprio a mãe fundadora do Partido Socialista, não só por ser e ter sido a companheira, a mulher do pai fundador do Partido Socialista, mas por ela própria, por aquilo que ela sempre deu ao partido como militante base, como dirigente, como deputada e sobretudo pelo carinho e pela afetividade com que sempre nos uniu a todos", afirmou António Costa.

O líder do PS acrescentou ainda que "em todos os socialistas fica hoje um vazio".

"Em nome do PS, em nome de todos os socialistas, e estou certo que em nome de muitas mulheres e homens de Portugal, aquilo que quero dizer à cidadã e à camarada Maria de Jesus, muito obrigado por tudo. Viva sempre Maria de Jesus!", concluiu António Costa.

No final da sua intervenção, o secretário-geral do PS abraçou Mário Soares, que estava acompanhado pela família, e que tinha na mão rosas amarelas.

Na missa de corpo presente, esteve o Presidente da República, Cavaco Silva, a presidente da Assembleia da República Assunção Esteves, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, vários ministros e vários membros dos diferentes quadrantes políticos.

Marcaram ainda presença no último adeus a Maria de Jesus Barroso, o governador do Banco de Portugal Carlos Costa, o candidato presidencial Cândido Ferreira, o antigo autarca Valentim Loureiro, o presidente da Câmara de Lisboa Fernando Medina, o líder da bancada parlamentar do PS Ferro Rodrigues, o deputado do Partido Ecologista "Os Verdes" José Luís Ferreira e a antiga presidente do PSD Manuela Ferreira Leite.

Duarte Pio de Bragança, a atriz Celeste Rodrigues e a antiga atleta Rosa Mota também participaram nas cerimónias fúnebres da antiga primeira-dama.

Maria de Jesus Barroso, mulher do antigo Presidente da República Mário Soares, era presidente da Fundação Pro Dignitate, foi fundadora do PS, partido pelo qual foi deputada, e dirigiu a Cruz Vermelha Portuguesa.

Foi também atriz, tendo trabalhado nos teatros Nacional D. Maria II, Villaret e São Luiz, e dirigiu o Colégio Moderno, fundado pelo sogro, João Soares.

Morreu na terça-feira pelas 05:20, aos 90 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde se encontrava internada, na sequência de uma queda, que lhe provocou um traumatismo intracraniano.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Ministros da Justiça dos PALOP e Timor-Leste reúnem-se na Praia para encontro anual




Cidade da Praia, 08 jul (Lusa) - Os ministros da Justiça dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste reúnem-se de 13 a 16 desde mês na Cidade da Praia para o V Encontro anual do Legis-PALOP, base de dados jurídica comum.

Durante o encontro, que contará com as participações das Ordens de Advogados, faculdades de direito e Centro de Formação Jurídica e Judiciária, bem como os presidentes das Imprensas Nacionais, vão ser discutidas questões relacionadas com o reforço da capacitação das equipas, identificação de soluções e abordagens de resposta aos desafios à sustentabilidade.

Em nota de imprensa, a organização salienta que o evento vai servir também como uma oportunidade para intercâmbio e troca de experiências entre as Unidades Técnicas Operacionais e de Gestão, entidades responsáveis pela manutenção, atualização e promoção da base de dados em cada país.

O encontro, que coincidirá com a celebração do 6.º aniversário da Legis-PALOP, que é celebrado no dia 15 de julho, vai ser presidido pelo ministro da Justiça de Cabo Verde, José Carlos Correia.

Durante o encontro será lançado uma publicação do quadro jurídico sobre o branqueamento de capitais, combate à corrupção o ao tráfico de droga nos PALOP.

O Legis-PALOP é um projecto de disponibilização de uma plataforma de conhecimento e partilha de informação jurídica entre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor Leste e por todos aqueles que pretendem conhecer estes ordenamentos jurídicos.
A base de dados jurídica pode ser consultada em www.legispalop.org/bd.


RYPE // APN

UE PREOCUPADA COM RECENTES “CRISPAÇÕES INSTITUCIONAIS” NA GUINÉ-BISSAU




A União Europeia (UE) mostrou-se hoje preocupada perante as recentes "crispações institucionais" ocorridas na Guiné-Bissau, referiu em comunicado, depois de divergências políticas entre o primeiro-ministro e o Presidente da República daquele país.

"A UE exprimiu a sua preocupação perante as crispações institucionais ocorridas recentemente no país", de acordo com um comunicado conjunto no final de uma reunião entre a União Europeia e o Governo, em Bissau.

No mesmo encontro, a UE "reconheceu os esforços feitos para ultrapassar as divergências e encorajou a sua continuação através de maior abertura e melhoria da qualidade do diálogo, tendo em vista a consolidação de uma parceria estratégica entre os órgãos da soberania".

A tensão entre o primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, e o Presidente da República, José Mário Vaz, fez com que, ainda na última semana, o chefe de Estado discursasse à nação para negar que tivesse um plano para demitir o Governo - como era admitido em meios diplomáticos e comentado pela população.

A comunidade internacional espera agora que ambos se entendam.

O encontro de hoje formalizou o regresso ao diálogo político entre a Guiné-Bissau e a UE no âmbito do acordo comercial de Cotonou, interlocução que esteve interrompida desde 2011.

"Este diálogo marca mais uma etapa no aprofundamento da parceria entre a União Europeia e a Guiné-Bissau", cooperação que "comemora este ano o seu quadragésimo aniversário", salientam no comunicado conjunto.

O governo da Guiné-Bissau propôs e foi aceite a realização de reuniões de informação e concertação política com periodicidade mensal.

Lusa, em Notícias ao Minuto

GOVERNO SÃO-TOMENSE QUER INTERNACIONALIZAR A ECONOMIA DO ARQUIPÉLAGO




O primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, defendeu hoje a necessidade de internacionalização da economia do país.

Patrice Trovoada, que falava na cerimónia de inauguração da Feira Internacional de Negócios, uma iniciativa da Câmara do Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços, com apoio da embaixada de Taiwan, considerou que "a internacionalização (da economia são-tomense) é uma necessidade, mas é sobretudo uma oportunidade".

"O nosso país tem um trunfo importante, eu até diria que o PIB (Produto Interno Bruto) do país é a sua localização geográfica", acrescentou Trovoada, que destacou: "Nós estamos situados no golfo da Guiné, a menos de duas horas da região mais rica de África. Para que as pessoas percebam, em menos de duas horas existem 340 milhões de consumidores".

Dai que, segundo o governante são-tomense, é preciso acreditar na internacionalização da economia do arquipélago, manifestando-se disponível em colaborar com o setor privado para que este objetivo seja atingido.

"Não queremos que os empresários baixem os braços, estamos num processo de modernização da nossa economia, de reformas e é preciso interagirmos com o setor privado, de modo que essas reformas sirvam para alguma coisa", sublinhou.

Nesta primeira Feira Internacional de Negócios estão presentes empresas e produtos de Taiwan, bem como de Portuga, Angola e de São Tomé e Príncipe.

Apesar de considerar a feira como "pequenina", o chefe do executivo são-tomense disse tratar-se de uma primeira iniciativa, que o seu governo quer "incentivar para dar confiança" ao setor privado e demonstrar o empenho governamental em ajudar a criar mais riqueza para "beneficiar os são-tomenses".

Um dos objetivos do certame é promover a marca são-tomense.

O presidente da Câmara de Comércio, Jorge Correia, garante mais iniciativas, designadamente a formação de árbitros no âmbito da aplicação do centro arbitral, mecanismos de mediação e arbitragem de conflitos bem como a instalação de um laboratório de análise de qualidade no país.

A feira, que encerra no próximo fim de semana, decorre nas instalações da Casa Cacau, na capital são-tomense.

Lusa, em Notícias ao Minuto

S. Tomé e Príncipe. Ainda falta cumprir o sonho da independência, diz Pinto da Costa




O Presidente de São Tomé e Príncipe, Manuel Pinto da Costa, considera ainda faltar muito, 40 anos depois da independência do país, para criar as condições necessárias à satisfação das necessidades básicas da população são-tomense.

"Não soubemos gerir muito bem esse processo de mudança (...) enquanto não fizermos isso, o Homem são-tomense não se pode dizer livre", disse, numa entrevista à agência Lusa.

"A 12 de julho, conseguimos libertar a terra da dominação colonial, mas ainda não tínhamos conseguido libertar-nos. A libertação é um processo".

"Depois de 12 de julho, começámos a viver uma nova era (...) tivemos um processo muito importante (...) criaram-se no partido único duas tendências que se confrontaram de forma democrática", disse sobre a implantação do multipartidarismo em São Tomé e Príncipe.

Essa luta de tendências no Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP) "abriu o país para o sistema democrático", com a conferência nacional em 1991, a primeira realizada em África, de acordo com Pinto da Costa.

"Chegámos a este processo de abertura porque houve uma evolução na sociedade (...) havia necessidade de nos adaptarmos à vontade expressa da população são-tomense, a necessidade de abrirmos o espaço para surgimento de outras forças políticas", disse.

Pinto da Costa referiu a existência de problemas e de "má gestão e falhas no processo de desenvolvimento" e defendeu o diálogo entre diferentes quadrantes políticos e da sociedade "para fazer surgir consensos necessários para o desenvolvimento do país".

"Quarenta anos de independência não é muito (...). O diálogo é importantíssimo", sublinhou. "As maiorias absolutas [nas eleições legislativas] que, no nosso caso, são utilizadas para excluir e não incluir, são maiorias absolutas que criam um clima que, mais cedo ou mais tarde, pode ser altamente prejudicial para o desenvolvimento do país", advertiu.

A estabilidade no país "não depende unicamente do Governo fazer os quatro anos da legislatura no poder", mas de políticas corretas, que respondam às preocupações, em termos de emprego, salário, educação e saúde, considerou.

"Se não forem feitas nesse sentido, a estabilidade não está garantida", destacou o Presidente, que reduziu a relação institucional com o Governo ao encontro quinzenal para tratar de assuntos correntes.

"Este permanente desentendimento entre os são-tomenses resulta do seguinte: há quem queira comer tudo e são poucos e não querem deixar nada ao resto e são muitos", explicou.

Pinto da Costa afirmou caber aos "políticos criar as condições para permitir que os agentes económicos joguem" um papel decisivo no desenvolvimento dos países, sublinhando as "ótimas relações e uma série de acordos existentes com os países vizinhos" como Angola, Nigéria, Guiné Equatorial, Gabão e Camarões.

"Na realidade, há pouca coisa e é preciso casar os interesses económicos dos nossos países", defendeu.

Sobre a corrupção, o Presidente são-tomense pediu uma ação conjunta "de todos os partidos políticos" contra "um autêntico cancro na sociedade e altamente prejudicial para o processo de desenvolvimento do país (...) que tem grandes potencialidades para se desenvolver e para resolver os problemas" da população.

Manuel Pinto da Costa afirmou que, passados 40 anos, as relações com Portugal são boas, destacando a língua portuguesa como fator de união e "uma herança".

"Nós não combatemos Portugal, combatemos o sistema colonial português (...) há uma ligação, não temos que ter complexos nenhuns", declarou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

S. Tomé e Príncipe. Democracia frágil alimenta a corrupção, o nepotismo e a barganha política




Lisboa, 08 jul (Lusa) -- A relação entre corrupção e governação está ainda vinculada à frágil e instável estrutura democrática de São Tomé é Príncipe, o que leva ao nepotismo e à barganha política por apoios, disseram à Lusa vários académicos e investigadores.

Para a coordenadora adjunta do Observatório dos Países de Língua Oficial Portuguesa (OPLOP), da Universidade Federal Fluminense, Naiara Alves, "a relação entre a corrupção e a governação está vinculada a esta estrutura democrática ainda frágil e instável" em São Tomé e Príncipe.

Naiara Alves considera que "a corrupção é endémica nas instituições públicas", razão pela qual a "barganha política por cargos públicos em troca de apoio está muito presente no país".

Segundo a investigadora, "o combate à corrupção passa pela capacidade do regime político em desenvolver instituições que saibam lidar com a investigação da corrupção".

"A investigação de casos de corrupção está ligada à consolidação do regime democrático. Assim penso que é um processo que deve ser acompanhado em São Tomé e Príncipe, país com uma democracia frágil", afirmou, acrescentando que a corrupção em São Tomé e Príncipe "está atrelada às esferas mais altas, tem mais a ver com o centro de decisão".

Para a investigadora do OPLOP, a corrupção naquele país africano lusófono "não chega a constituir um modo de vida, um traço que perpasse da estrutura do poder para a sociedade nos seus diversos aspetos".

"O grupo de pessoas que fez a independência (1975) conseguiu manter-se coeso até São Tomé tornar-se um país. A partir do momento que a ameaça portuguesa foi colocada de lado com a independência do país, as divergências ganham uma proporção maior e este grupo - que era heterogéneo, mas que de alguma forma mantinha-se unido -, passa a agir em situação de conflito", avaliou a investigadora.

Para Naiara Alves, é este conflito que ainda hoje não é mediado. As instituições ainda não têm força suficiente para regrar este conflito, dando margem ao clientelismo, à corrupção, à barganha, ao nepotismo".

"Há inexperiência em lidar com os conflitos políticos por meio das vias institucionais", considerou.

Outro investigador do OPLOP, Luís Silva, destaca que "vários estudos indicam que a corrupção está muito ligada a questões como o nepotismo e a luta pelo poder", razão pela qual se tenha registado ao longo dos últimos 40 anos "uma série de trocas no poder em São Tomé e Príncipe".

Os que enveredaram pela política após a independência não eram muito experientes nesse domínio, nomeadamente os elementos do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), que "eram, na sua maioria, funcionários públicos que se tornaram posteriormente políticos".

"O que se pretendia ao ser tornar político, era conseguir o 'status' que a posição vai trazer, tentando maximizar o possível de lucro, de ganho pessoal. Esta é uma das grandes preocupações dos políticos, por isso temos esta profusão de trocas de governos", indicou o investigador.

Para Luís Silva, "a população não acredita mais no governo que coloca no poder. Todos os partidos têm mais ou menos a mesma ideologia e não há grandes discrepâncias entre eles em termos programáticos".

"(As pessoas) querem entrar na esfera política para angariar bens próprios e maximizar o poder. Penso que isto tem sido, de certa forma, um dos grandes sintomas da corrupção em São Tomé", sublinhou.

Outro efeito da corrupção é a pobreza, considerou o secretário permanente da Federação de Organizações Não-Governamentais em São Tomé e Príncipe (FONG-STP), Eduardo Elba.

"Olhando para o desenvolvimento do país, tendo em conta da ajuda que recebeu para este setor, vemos ainda um grande índice de pobreza. Algo aqui não correu bem. Pode associar-se a isso, que não está a correr bem, a corrupção", avaliou.

Segundo Eduardo Elba, "a corrupção está presente em todos os países do mundo e São Tomé e Príncipe não foge à regra. Medir esta corrupção é muito difícil, porque quem está envolvido faz tudo muito bem, com profissionalismo, e torna-se difícil de detetar".

"Como as instituições públicas que têm de dar resposta a estes casos ainda são frágeis, muitos deles são identificados, acabam por não ser julgados e resolvidos. Os casos são identificados, mas a responsabilização não acontece", afirmou.

Daí que conclua que "ainda há setores que devem ser melhorados para que se consiga combater a corrupção e, até mesmo, prevenir a corrupção".

"Estes instrumentos existem, mas falta apropriarmo-nos deles e aplicá-los", disse o responsável da FONG-STP.

Segundo a Transparência Internacional (TI), no seu Índice de Perceções de Corrupção, São Tomé e Príncipe teve uma pontuação estável nos 42 pontos (em que 100 pontos correspondem a 'muito transparente' e 0 pontos a corrupto) ao longo dos últimos anos, estando em melhor posição relativamente a outros países lusófonos, como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste.

CSR // EL

Presidente moçambicano considera desnutrição crónica desafio estrutural




O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, considerou hoje a desnutrição crónica como um desafio estrutural e um problema de saúde pública no país, apelando às mulheres para a promoção da educação nutricional.

"A desnutrição crónica é um dos grandes desafios estruturais da nossa sociedade. A mulher tem um papel que não deve ser emprestado a quem quer que seja, na consciencialização e promoção da educação nutricional de Moçambique", afirmou Nyusi.

O Presidente moçambicano intervinha na abertura da III Sessão do Conselho Nacional da Organização da Mulher Moçambicana (OMM), braço feminino da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, que se iniciou hoje na cidade de Xai-Xai, província de Gaza, sul do país.

Congratulando-se com os avanços que o país registou nos últimos 40 anos no campo da saúde, o chefe de Estado moçambicano e presidente da Frelimo enfatizou que a desnutrição crónica afeta uma grande percentagem das crianças moçambicanas, inibindo o seu desenvolvimento mental e físico e limitando as suas capacidades intelectuais futuras.

"O combate a essa doença está ao alcance das nossas mãos laboriosas, através de uma alimentação equilibrada, que poderá ser disseminada e reiterada através de uma campanha educativa de boa alimentação e de segurança alimentar nas nossas comunidades", salientou Filipe Nyusi.

O Presidente moçambicano apontou igualmente o combate à sida como outro dos desafios com que o país se debate, realçando a importância da coragem e firmeza como armas essenciais contra a pandemia.

"Sem pessoas saudáveis, dificilmente esta sociedade sobreviverá. O nosso dever primário é defendermos a nossa própria vida para podermos dar vida e amor ao próximo", destacou o Presidente moçambicano.

Exemplificando com alguns casos de sucesso na promoção do estatuto profissional da mulher moçambicana nos últimos 40 anos, Filipe Nyusi afirmou que 51,5% dos 22.919 técnicos do Serviço Nacional de Saúde são mulheres e 43,4% dos 1.810 médicos são do sexo feminino.

"A mulher moçambicana ocupa cargos de diversas especialidades, facto que não deve constituir único critério de avaliação da valiosa e indispensável participação da mulher no grande projeto de construção do bem-estar para os moçambicanos", declarou Nyusi.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Moçambique. PRECISAMOS DE AUSTERIDADE MAS TAMBÉM QUEREMOS TRANSPARÊNCIA



Verdade (mz) - Editorial

Mais do que deixar de viajar no jacto presidencial, que o Estado comprou e tem custos mesmo parqueado, e falar em cortes nas Presidênciais abertas que não sabemos ao certo quanto custam Moçambique precisa de transparência nas Contas do Estado.

Mas antes de tudo é necessário que o Senhor Presidente, e os membros do seu Governo, façam a declaração dos respectivos patrimónios. Depois, e enquanto damos tempo para vermos o mérito da fusão de Ministérios, queremos saber quanto ganha o Senhor e os membros do seu Governo, que regalias nós o seu patrão pagamos todos os meses?

Antes de voltarmos às Presidências abertas é importante o povo saber quanto custou a romaria da chama, chamada da unidade, pelo país.

Precisamos também de conhecer, em detalhe, os compromissos assumidos pelo Estado, passados e presentes, nas chamadas Parcerias Público Privadas e ainda os contratos firmados com os grandes investidores estrangeiros.

Os “cancros” do despesismo são mais do que conhecidos, começam no incompleto inventários dos bens imóveis, veículos automóveis e outros do Estado, passam pelo desvio de receitas, desorganização de justificativos de transacções, divergências nos valores requisitados e nos valores pagos em salários aos funcionários públicos, atropelos na Lei de procurment, entre outros.

O que nós, o seu patrão, pretendemos saber é que medidas concretas tem em mente para combater esses “cancro” que parecem não ter cura?

E com a EMATUM quais são os seus planos, para além da pesca e pôr-nos a pagar a dívida?

Se nos permite uma sugestão, enquanto esperamos para ver quanto realmente vai poupar em viajar na companhia aérea nacional, corte os membros do seu partido da trupe que o acompanha e pare com os encontros partidários durante as Presidências Abertas.

Moçambique. Nyusi promete encontro com líder da RENAMO e luta contra despesismo




O Presidente de Moçambique disse que vai encontrar-se em breve com o líder da RENAMO. Filipe Nyusi garantiu que o seu Governo vai poupar fundos do Estado com meios de transportes durante as visitas presidenciais abertas.

A visita de Filipe Nyusi à província nortenha do Niassa, com a duração de quatro dias, terminou nesta segunda-feira (07.07). Esta foi a primeira presidência aberta do Presidente moçambicano nesta província desde que assumiu o poder no começo deste ano.

O estadista moçambicano garantiu que o seu Governo vai fazer de tudo para poupar os fundos do Estado, sobretudo nos meios de transportes durante as presidências abertas nas províncias.

A medida visa consciencializar os moçambicanos para economizarem os poucos recursos de que dispõem, disse Filipe Nyusi em Niassa: "Nós queremos aqui trazer uma mensagem prática e concreta de poupança, não só ao nosso nível, que pode até ser insignificante entre um voo para o Presidente e depois os gastos continuarem a ser feitos, por exemplo, ao nível dos distritos e das províncias. Mas o facto de as pessoas terem a consciência de que existe esta mentalidade a partir do topo, de que nós temos de poupar, para fazermos contas, quanto custa essa viagem, pensamos que isso vai continuar a todos os níveis."

Grandes gastos só se houver necessidade

Questionado pelos jornalistas sobre o uso de helicópteros nas suas deslocações aos distritos da província do Niassa, contrariamente a outras províncias em que usou viaturas, Filipe Nyusi justificou que usou helicópteros porque as estradas da província do Niassa estão em estado grave em termos da sua transitabilidade.

De acordo com o Presidente, "é uma necessidade e há momentos em que usamos meios adicionais" e falando aos jornalistas acrescentou: "Aliás, viram nesta província, porque as distâncias entre os distritos em que queriamos trabalhar eram muito grandes. Aquilo que permitir sacrificar nós vamos sacrificar, mas também o outro objetivo é estarmos muito próximos da população."

No seu regresso à capital moçambicana, o estadista moçambicano viajou num avião comercial da LAM, a companhia aérea nacional.

Ainda nesta província do Niassa, Filipe Nyusi disse, numa conferência de imprensa, que um encontro com o líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, está para breve, mas não avançou datas.

Recorde-se de que o país vive um clima de tensão política. Alguns pontos que opõem a RENAMO e o Governo da FRELIMO estão ainda em discussão no Centro de Conferências Joaquim Chissano. Por outro lado, a RENAMO exige a implementação de um governação provincial autárquico, algo que já foi reprovado pelo Parlamento. Este é o tema central a ser discutido entre os dois.

Manuel David (Lichinga) – Deutsche Welle

Moçambique. “O PROCESSO ELEITORAL DE 2014 FOI UM FALHANÇO”



Verdade (mz) - Tema de Fundo

Um relatório de investigação conclui que a desorganização e a fraude que se registaram um pouco por todo o país fizeram do processo eleitoral de 2014 um falhanço. O estudo, com o título “Crónicas de uma eleição falhada – Moçambique, Outubro de 2014”, foi desenvolvido por uma equipa de pesquisadores do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), no âmbito do projecto de pesquisa “O Eleitor Evanescente: Análise da participação eleitoral/abstenção em Moçambique”, e observou ainda o envolvimento dos líderes comunitários e dos observadores na fraude eleitoral, e o medo que muitos cidadãos têm de exprimir as suas opiniões.

A pesquisa foi formulada com o objectivo de sistematizar e desenvolver o conhecimento do fenómeno da abstenção no país. A equipa de pesquisa dividiu-se em dois grupos de trabalho que acompanharam o final da campanha e a votação em dois distritos, nomeadamente Manjacaze e Murrupula.

Em Manjacaze, na província de Gaza, onde a Frelimo tem sempre obtido votações superiores a 90 porcento desde 1994, observou-se o medo que muitos cidadãos têm de exprimir sem constrangimentos as suas opiniões. Além disso, no mesmo local, constatou-se que os “serviços de segurança assumem uma postura partidária em favor do partido no poder, como grupos de jovens mais ou menos marginais são usados para acções de intimidação, por vezes com recurso à violência”.

Ainda em Manjacaze observou-se que o envolvimento dos líderes comunitários e outros responsáveis administrativos intimidou, de forma indirecta, as comunidades, e os pseudo-observadores eleitorais se prestaram a colaborar na fraude eleitoral, para além da violação deliberada de algumas disposições centrais da legislação eleitoral, abrindo o campo para a viciação dos resultados das eleições.

Constatou-se ainda vários casos de irregularidades e fraudes flagrantes. A título de exemplo, numa escola do posto administrativo de Nguzene, as filas eram organizadas por um líder comunitário, que não fazia parte dos membros das mesas de voto. “Aqui, depois de votar, os eleitores ficavam todos no pátio da escola, onde preparavam refeições, sem serem incomodados pela Polícia, ao contrário do que é habitual acontecer noutras regiões quando os eleitores querem ficar a 'tomar conta' do seu voto”, lê-se a dada altura no relatório. Ainda em Nguzene, segundo a pesquisa, num outro estabelecimento de ensino, a secretária da mesa de voto estava na posse de dois boletins preenchidos a favor da Frelimo.

Em Murrupula, onde se tem registado historicamente um maior equilíbrio entre a votação da Frelimo e a da Renamo, não foi diferente. Nesse local, observou-se, na EPC de Tapatero, um líder comunitário a orientar as pessoas para as suas mesas de votação com a missão de garantir a vitória da Frelimo. A mesma situação verificou-se nos postos administrativos de Nihessiue e Chinga, onde o líderes comunitários junto à porta do local de votação procuravam orientar os eleitores que chegavam mostrando as suas mesas de votação.

Desempenho negativo do Governo não interfere no voto

Embora o partido Frelimo disponha de maior influência nalgumas zonas da província de Gaza, o estudo detectou certa insatisfação com o Governo, particularmente devido ao desemprego e à falta de oportunidades de melhoria da situação económica. Não obstante essa realidade, a avaliação negativa das acções governamentais não interferiu nas opções de voto.

Por exemplo, em Manjacaze, constatou-se que um número considerável de pessoas, através dos seus discursos, mostrava estar desiludida com o Governo e, apesar dessa desilusão, continuava a expressar lealdade a Frelimo.

Abstenção

Desde as primeiras eleições multipartidárias de 1994, tem-se registado uma redução significativa da participação dos eleitores, com o nível de abstenção nos últimos três processos eleitorais a rondar os 60 porcento. A desorganização nas mesas de voto, as demoras prolongadas nas filas e os comportamentos destinados à favorecer o voto dos amigos são apontados, segundo o relatório do IESE, como principais factores que levam os eleitores a desistiem de votar.

Em Manjacaze, na vila sede, no bairro Liberdade, estavam instalados vários postos de votação, alguns dos quais registaram enchentes e muita confusão. Nesses locais, ainda de acordo com a pesquisa, algumas pessoas bem conhecidas organizavam as filas e permitiam que pessoas conhecidas passassem à frente, o que, de certa forma, criava descontentamento nos que haviam chegado mais cedo.

O distrito de Murrupula teve 34 locais de votação distribuídos pelos seus três postos administrativos, com um total de 113 mesas. Mas as longas distâncias constituíram um forte desincentivo ao voto.

Desorganização e problemas logísticos

A desorganização e os problemas logísticos por parte dos órgãos eleitorais facilitaram as práticas de fraude. “Os órgãos de gestão eleitoral não só foram incapazes de garantir uma organização adequada do processo, como também demonstraram serem susceptíveis de interferências partidárias ao ponto de comprometerem a sua necessária independência e neutralidade. É muito difícil por vezes distinguir a simples desorganização da fraude, mas ambas foram uma das principais características das eleições de Outubro de 2014”, conclui o relatório.

EM LUTA POR UM NOVO MUNDO E POR UMA NOVA VIDA




Angola: a luta pela diversificação da economia

Rui Peralta, Luanda

Em Angola o esforço patriótico pela diversificação da economia nacional mobiliza a vontade popular de Cabina ao Cunene e do Leste ao Atlântico. Este grande esforço nacional é a resposta de Angola á crise económica provocada pela nova realidade dos preços petrolíferos nos mercados internacionais e simultaneamente um gesto autocritico próprio de um Povo que sabe corrigir os erros e lançar mão á obra, ao invés de as estender, pedinchando migalhas.

As medidas do Executivo contam com o apoio de todo o Povo. A desburocratização, o aprofundamento dos mecanismos democráticos e participativos, as politicas sociais, a luta por uma Educação de qualidade, por uma politica de saúde para todos, por serviços públicos universais e acessíveis com atendimento de qualidade (serviços que sirvam o cidadão e não serviços que se sirvam do cidadão) o envolvimento dos trabalhadores, o desenvolvimento do Poder Local (arma da Soberania Popular e mecanismo básico da cidadania democrática), a integração jurídica das comissão de moradores, as cooperativas, as organizações populares de base, o combate continuado á corrupção e aos vícios administrativos da burocracia, são representativos da dinâmica que se faz sentir por toda a sociedade angolana e é todo um processo de dinamização nacional e popular de grandes repercussões na vida económica, social, politica e cultura do país.

Claro que ainda há muitos que não entendem (e outros que boicotam) este esforço, muitos sectores (mesmo no aparelho do Estado) que não compreendem a necessidade de contenção de despesas, de racionalização dos custos e de optimização dos processos organizativos e de trabalho, de forma a aumentar os baixíssimos níveis de produtividade e reduzir os enormes níveis de desperdício. A esses há que responder com o prevalecer do nosso esforço, com a vigilância cidadã e democrática, com a pedagogia da nossa generosidade e com a firmeza dos nossos valores e princípios. Somos um Povo que recusa a submissão e que sabe contornar obstáculos e derrubar barreiras. Essa é a nossa História!

Estamos, pois, perante Angola Avante, linha da Frente dos Povos Africanos e Fonte da Solidariedade para com os Povos do Mundo na construção de uma Nova Vida, Digna e Justa.

Demos

(texto- mistura com fragmentos extraídos do “Colosso de Maroussi” de Henry Miller, em itálico sublinhado)

Na Europa existem 3 espaços que são “refúgio de poetas e de loucos”: 1) A região da Dordogne, onde o negro e misterioso rio Domme cria um território de encantamento que fascinou os nossos antepassados Cro-Magnon, o que comprova o seu desenvolvido sentido do belo e a formação da sua religiosidade; 2) Lisboa, a Cidade-Tejo, de uma luminosidade iniciática, cosmopolita e única; 3) A Grécia.

“Os gregos são um povo apaixonado” e a Grécia, berço da Europa (mas também da democracia e da cidadania universal) é um espaço de contradição harmoniosa, de confusão logicamente ordenada, de caos poético e filosófico geometricamente delineado, uma aritmética da vida e do amor sem limites, cujo somatório cria as “qualidades autenticamente humanas dos gregos, em particular a generosidade”.

Foi neste país que uma vez tive uma das experiências mais marcantes da minha vida: consegui “ficar em silêncio um dia inteiro, sem qualquer revista, jornal, livro, rádio, televisão, telefone, sem escutar tagarelices, ficar totalmente ocioso”…No dia seguinte sentia-me limpo, completamente limpo, com um sentimento de pureza de alma, “sem o peso da cultura livresca, com os problemas dissolvidos, os laços cortados, o corpo transformado num instrumento eficaz e novo e olhando com outro olhar para o(s) Outro(s)”. Aprendi, na Grécia, que “quando estamos bem com nós próprios não importa a bandeira que nos alberga ou a língua que nos rodeia”. Foi a primeira lição de cidadania universal que recebi na minha vida.

“A paz, a solidão e a ociosidade fazem-nos tanta falta como a verdade (a verdade-verdadeira e não a verdade que nos é servida em embalagens tentadoras). A minha primeira lição de cidadania universal ensinou-me tudo isto e mais: ensinou-me a fazer greve. “Não apenas a greve por melhores salários, condições e novas oportunidades, mas também a greve ao(s) Outro(s), o negar tudo o que o(s) Outro(s) faz(em) revelou-se uma forma eficaz de produzir novas esperanças”

Recordo-me de uma imagem que representa a posição das oligarquias da Eurolândia em relação á Grécia: “Toda a base de Acrópole assemelha-se a uma cratera vulcânica, um autêntico depósito de arte, artefactos, fragmentos da História. O turista chega ali e olha para essas ruinas, para esses leitos de lava, para esses fragmentos da História da Humanidade, com os olhos húmidos. E de repente o turista repara que afinal a sua contemplação é manchada por um intruso: o Grego vivo, que anda por ali…”

E depois há muitas coisas, para além do deficit, da crise, do Capital…”Há a Via Sagrada, percorrida por pés pagãos a caminho da iniciação em Elêusis. Neste trilho não há martírios, nem o sofrimento da flagelação…é apenas um trilho trilhado por pés pagãos, através dos séculos, com árvores inundadas de luz, plantadas por deuses embriagados. Há Elêusis, onde deitamos fora 2 mil anos de ignorância e de mórbido viver em mentira. Quando chegamos a Elêusis chegamos despedaçados, fragmentados…Depois há Atenas, Delfos, Lesbos, Corfu, Mégara, Paros…O Monte Atos, Leonidion, Ossa, Samarcanda…”

E há, agora, uma Nova Grécia “quintessência extraída da lama, sem fronteiras, nem limites ou idade, composta por ilhas ofuscantes banhadas por luz e mar” e por Homens e Mulheres que banham-se nessa luz e nesse mar. É todo um país que movimenta-se em “planos cubistas: paredes e janelas, rochas e cobras, árvores e arbustos, pomares e fragâncias” mar e montanhas, órfãos e viúvas, desempregados e empregados para quem o emprego é um luxo…É como “recapturar a alegria de passar pelo colo do útero”.

A Grécia “está viva e é banhada pela luz estelar do próprio planeta” gerada pela luta dos Homens em busca de uma Nova Vida. Até porque a Soberania Popular não está sujeita a chantagens…

FAO DESTACA REDUÇÃO DA POBREZA EM ANGOLA



Kumuênho da Rosa, Roma - Jornal de Angola

O director-geral do Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) disse ontem em Roma que Angola é um modelo a seguir por outros países africanos, em matéria de combate à pobreza no período pós-conflito.

José Graziano da Silva, uma das entidades a quem o Presidente José Eduardo dos Santos concedeu audiência no âmbito da sua visita oficial à Itália, destacou o papel do líder angolano na transformação de Angola de um país severamente afectado pela guerra e que hoje é exemplo para outras nações. 

O número um da FAO acredita no poder da obra feita e quer contar com Angola como parceira num projecto que visa levar às nações mais poderosas do planeta uma mensagem sobre a relação existente entre a paz e a segurança alimentar. “Entreguei ao Presidente uma proposta para que durante o mandato de Angola como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, promova o debate sobre a relação entre a paz e a segurança alimentar”.

Para Graziano da Silva, a paz e a segurança alimentar são fenómenos que estão intrinsecamente ligados, e Angola, disse, é o exemplo de um país que conseguir reconstruir a paz e agora caminha a passos acelerados para erradicar a fome e a pobreza.

“Isso faz de Angola um modelo a ser seguido por outros países e nós achamos que esse assunto deve ser levado a debate no Conselho de Segurança das Nações Unidas”, disse o brasileiro, antes de revelar que a FAO tem levado a experiência angolana para outros países africanos.

A audiência com o Presidente José Eduardo dos Santos, na capital italiana, foi também uma oportunidade para Graziano da Silva elogiar o Chefe de Estado angolano pelo papel que tem desempenhado na forte cooperação que existe entre Angola e a Brasil.

“Dessa cooperação entre os dois países surgiu a parceria com a empresa brasileira Agropecuária, que é um dos maiores exemplos de projectos de cooperação sul-sul”, declarou, antes de prometer levar esse assunto à agenda da reunião que vai manter com a Presidente Dilma Rousseff, em Roma.

Graziano da Silva falou ainda do apoio de Angola ao Fundo de Solidariedade Africano (FSA). Angola respondeu prontamente à iniciativa da FAO que tem por objectivo promover a solidariedade de africanos para africanos em dificuldades devido a conflitos e outras interpéries, e doou 10 milhões de dólares, que foram aplicados em projectos espalhados por praticamente todos os países do continente berço.

Sector energético

“São essencialmente projetos para apoiar os países em guerra, mas também promover a participação de jovens na agricultura como um modo de vida e de rejuvenescimento da agricultura africana”, explicou o director-geral da FAO, para quem o gesto de Angola, ao contribuir para o fundo, reflecte um espírito de solidariedade distinto, por ser um país que saiu da guerra e que hoje apresenta resultados inspiradores no combate à pobreza. Noutra audiência, o Presidente da República conversou com o Administrador Delegado da ENI, Cláulio Descalzi, sobre os projectos dessa importante companhia italiana e europeia no sector energético de Angola.

Expansão de investimentos

Descalzi apontou números que são reveladores da atenção que a ENI atribui a Angola em matéria de expansão de investimentos. “Pretendemos investir em Angola a volta de 4,5 mil milhões de dólares para o desenvolvimento do Bloco 15/06, e até ao fim do ano vamos atingir a cifra de 100 mil barris por dia, e dentro dos próximos três/quatro anos chegaremos aos 200 mil barris diários”. Segundo o responsável da ENI, a audiência com o Chefe de Estado angolano serviu também para sobre uma proposta de aproveitamento do gás focada no desenvolvimento da indústria angolana e outra no sector da energia eléctrica, com uma central de ciclo combinado, que agrega a produção de fertilizantes para exportar e fomentar a agricultura.

A ENI tem ainda interesses nas energias renováveis e na construção de infraestruturas do sector eléctrico, e ontem, durante a audiência, falou-se de um projecto de edificação da rede de distribuição electricidade para o litoral e interior do país.

Controlo dos mares

A alta tecnologia ao serviço da vigilância da costa angolana foi o tema dominante da audiência concedida a Mauro Moretti, administrador delegado e director-geral da Finmecanica. 

“A nossa área de actuação é essencialmente as tecnologias avançadas, sobretudo no sector aeroespacial e defesa”, disse Mauro Moretti aos jornalistas.

A Finmecanica está na primeira linha em questões de sistemas de defesa de costas marítimas, utilizando soluções tecnológicas avançadas no controlo de mares através de informação proveniente de satélites, drones e de bases navais. “Criamos sistemas de defesas activos que são hoje fundamentais para protecção e vigilância dos mares”, frisou o empresário.

A carteira da Finmecanica inclui ainda meios aéreos ultrassofisticados de patrulhamento e transporte de pessoal. Existe inclusive um acordo para o fornecimento de helicópteros para uso civil e para defesa. “Somos um dos maiores produtores de helicópteros para operações na área de petróleo e gás, e são sem dúvidas os mais avançados que hoje estão no mercado”, disse.

Indústria da carne

Mauro Moretti falou da importância desse tipo de acordos na perspectiva da transferência de tecnologia e das mais avançadas, por sinal. “Vamos trabalhar dentro de um espírito de colaboração, foi-nos solicitado, e assim vamos proceder, incluindo dando formação altamente qualificada, na Itália e em Angola, aos angolanos que vão manusear os equipamentos”, frisou.

A última audiência do dia foi concedida ao empresário da agro-indústria, Luigi Cremonini. No centro do encontro um projecto avaliado em mais de 200 milhões de dólares, para a instalação em Angola de todo o aparato que envolve a linha completa de produção, transformação e distribuição de carne.

“Estamos a investir numa indústria de topo, tendo em conta que Angola vive hoje uma realidade que obriga a que o investimento a ser feito tenha os mesmos padrões de exigência que na Europa ou em qualquer outra sociedade moderna”, disse o empresário.
A implantação da indústria de carnes deverá levar pelo menos quatro anos, segundo o patrão do Grupo Cremonini. 

“É um projecto complexo e que não se faz do dia para noite”, disse o empresário, que atribuiu uma atenção especial à formação e do pessoal que vai trabalhar em toda a cadeia de produção. Foi assim que fizemos com a Rússia”, revelou. “Desde os directores, os técnicos dos laboratórios de qualidade ao pessoal da limpeza, todos terão uma formação segmentada para garantir que sejam respeitados e seguidos os padrões de qualidade e exigência da marca Cremonini. 

O projecto da indústria de carnes em Angola prevê a criação de gado, a construção de um matadouro no Cuando Cubango e de um grande centro logístico em Luanda, e ali também criar uma grande rede de distribuição para hotéis, supermercados e restaurantes.

Foto: Francisco Bernardo

Angola. ATIVISTAS RECEBIDOS EM SILÊNCIO NA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA




Reunião na Casa Civil para falar da detenção de Marcos Mavungo em Cabinda terminou sem respostas.

Rafael Morais lembra que a detenção ocorreu uma semana após Marcos Mavungo enviar um comunicado ao governo de Cabinda informando sobre a manifestação. O teor do comunicado chegou, inclusive  a fazer com que uma delegação da casa militar da Presidência da República, chefiada pelo general Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, se deslocasse à província.

“Estamos sem compreender a sua prisão. O Arão Tempo está em liberdade, mas continua sem poder sair de Cabinda. Assim percebemos que as motivações não são criminais, mas políticas. O Mavungo não foi nem detido no acto da manifestação nem em flagrante delito. Ele ia da igreja de manhã para sua casa e ali foi detido. Ainda que se realizasse a manifestação, é um acto plasmado na Constituição. Foram cumpridos todos os pressupostos legais e não vemos até que ponto essa detenção tem que prevalecer”, lamenta.

Em relação aos 15 presos políticos em Luanda, Rafael Morais disse que não o GAPPA, mas diversas pessoas ligadas a organizações em Angola estão a se organizar para uma visita a Cadeia de Calomboloca nesta sexta-feira.

Carta às Nações Unidas

As violações de direitos humanos em Angola tem feito com que as organizações não governamentais recorram constantemente à ajuda internacional. Desta vez foi o Centro de Integridade Pública de Angola que enviou uma carta às Nações Unidas e às embaixadas dos Estados Unidos e da França em Luanda a solicitar a sua intervenção junto do governo.

No comunicado, publicado pela Voz da América, os activistas apontam que em causa, está a tentativa das autoridades de  “eliminar as vozes contrárias à governação no país, como fez com os cidadãos Isaías Cassule, Alves Kamulingue, Manuel Hilbert Ganga e muitos outros jovens assassinados”.

Àquela organização recorda ainda que, como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas e da Comissão dos Direitos Humanos da ONU, o governo tem “responsabilidades acrescidas” no campo dos direitos humanos.

O documento, segundo a VOA, inclui também as fotos dos 15 detidos e uma cópia do livro em preparação de Domingos da Cruz, Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura – Filosofia Política da Libertação para Angola, bem como mensagens trocadas entre jovens do denominado Movimento Revolucionário, que mostram a inexistência de qualquer intenção de “promover um golpe de Estado em Angola”.

Rede Angola (ao)

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