domingo, 7 de junho de 2015

A GRÉCIA E O IMPASSE NEGOCIAL DA SUA DÍVIDA E EFEITOS POLÍTICO-MILITARES




Segundo alguns órgãos de comunicação social portugueses, nomeadamente na área da Economia, afirmam que a Grécia terá solicitado, ao FMI, um adiamento dos pagamentos das tranches intermédias a este organismo, e pagar a totalidade do montante na prestação do final do mês de Junho, no total de cerca de 1.500 milhões de €uros.

As negociações, quer com o FMI – ainda há dias a sua directora-geral, Christine Lagarde, afirmava que tinha convicção de que a Grécia iria pagar, esta sexta-feira os 300 milhões de euros, que deve ao FMI –, como com a UE, está num impasse sem precedentes. Os gregos não querem mais imposições económicas impossíveis de serem aceites pelo povo grego, conforme foi expresso nas últimas eleições legislativas, como parecem sentir pouca solidariedade dos seus parceiros sedeados em Bruxelas.

Mais do que estarem, eventualmente, a criar enormes e incómodos entraves financeiros à Grécia, as Instituições credoras, principalmente a União Europeia (UE) e o FMI, estão a empurrar os gregos não só do €uro, como da UE, mas, e principalmente, estão colocar em causa uma Organização político-militar muito importante no seio do hemisfério norte, a OTAN/NATO (ou dito, o Ocidente).

Segundo já li, algures, creio que já este ano, os EUA avisaram a UE da necessidade dos europeus terem bom senso com a Grécia, precisamente, por causa da NATO.

Os norte-americanos, por certo, não gostariam de ver os gregos entrarem em bancarrota e se aproximarem, talvez em demasia, quer de Russos, quer de Chineses – embora estes já estejam bem instalados na Europa através de significativos investimentos financeiros –, numa zona tão sensível como é o Mediterrâneo bem como da proximidade do Canal do Suez.

Aqui nem a Turquia, que mostra, por vezes e não poucas vezes, estar em situação de catavento conforme as conveniências e posições políticas do momento, poderiam valer aos ocidentais.

Ora, é claro que a posição estratégica da Grécia, e uma inclinação para quem melhor a pode valer, poderia tornar insustentável aquele “desvio” político-económico com, para o Ocidente, evidentes, possíveis e pouco apelativas, sequelas políticas e militares.

Por certo que os senhores da Washington DC como da NATO, estarão a olhar, apreensivos para esta situação e terão de tomar as necessárias precauções para evitar que a bancarrota com os efeitos, já referidos, que a mesma poderia provocar.

(imagem via Google-mapas)

*Investigador do CEI-IUL e CINAMIL 

**Eugénio Costa Almeida* – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa

PERITO DA ONU APOIA RESTRUTURAÇÃO DA DÍVIDA GREGA




“Os Direitos Humanos não podem ficar à porta das organizações internacionais e das organizações financeiras internacionais”, afirmou Juan Pablo Bohoslavsky, nomeado no ano passado Perito Independente em Dívida Externa e Direitos Humanos das Nações Unidas. “Eles devem ser respeitados quando se transferem responsabilidades dos estados para entidades internacionais como o Mecanismo Europeu de Estabilidade”, prosseguiu.

O jurista argentino referiu-se à insuficiência da redução anterior da dívida grega, que disparou com a crise, atingindo este ano os 180% do PIB. “É a altura de reconhecer que será necessário mais tarde ou mais cedo um novo alívio da dívida para evitar que a Grécia continue nas próximas décadas num estado de dependência mórbida dos credores institucionais”, defendeu o perito da ONU, citado pela imprensa grega.

Caso não se consiga atingir um acordo que reduza a dívida do país, os direitos económicos e sociais gregos ficarão ainda mais degradados, defendeu Bohoslavsky. O jurista saudou ainda a criação da comissão de auditoria à dívida e do pacote humanitário para acudir às vítimas mais fragilizadas da austeridade.

A presidente do parlamento grego já afirmou que irá utilizar os argumentos de Bohoslavsky “para defender os direitos do povo grego” em eventuais processos judiciais a defender que a dívida contraída violou os Direitos Humanos na Grécia.


Leia mais em Página Global sobre a Grécia

Bruxelas. COMISSÃO EUROPEIA NÃO TEM PROPOSTA ALTERNATIVA DA GRÉCIA




O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse hoje que ainda não recebeu uma proposta alternativa da Grécia à apresentada pelos credores internacionais de forma a chegar a tentar um acordo sobre o plano de reformas a implementar por Atenas.

"Estou à espera de uma proposta alternativa dos nossos parceiros gregos", disse Juncker durante a conferência de imprensa antes de se iniciar a cimeira do G7, no palácio de Elmau.

O presidente da Comissão Europeia disse não ter "nenhum problema pessoal" com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, que considerou "um amigo", mas, alertou, "para a amizade se manter têm que ser cumpridas algumas regras mínimas".

Juncker admitiu ter ficado "dececionado" com o discurso de Tsipras, no Parlamento, onde apresentou a proposta dos credores internacionais como "um ultimato".

"[Tsipras] apresentou a proposta de acordo como se fossem minhas exclusivamente e sabe perfeitamente que não é o caso e, durante o encontro na passada quarta-feira, eu estava perfeitamente preparado para discutir os principais pontos de desacordo entre a Grécia e as instituições", declarou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

PARTIDO DE ERDOGAN PERDEU MAIORIA ABSOLUTA - televisões turcas




O partido do Presidente islamita-conservador turco Recep Tayyip Erdogan perdeu hoje a maioria absoluta que detinha no parlamento há 13 anos, segundo números divulgados pelas televisões turcas.

Segundo dados divulgados pelas televisões no início da noite, com base na contagem de 70% dos votos, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) figura em primeiro lugar mas apenas com pouco mais de 43% dos votos, correspondentes a 267 do total de 550 deputados do parlamento, o que o obriga a formar governo de coligação.

A formação pró-curda Partido Democrático do Povo (HDP) conseguiu ultrapassar os 10% de votos necessários para entrar na Assembleia Nacional, devendo eleger pelo menos 70 deputados. Os dois outros principais concorrentes do partido do poder, o Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata) e o Partido de Ação Nacionalista (MHP, direita) deverão obter 24% e 17% dos votos, correspondentes a 124 e 85 lugares, respetivamente.

As eleições de hoje eram consideradas as mais incertas desde 2002 e à partida os observadores aventavam a possibilidade de o AKP perder a maioria absoluta garantida em anteriores escrutínios.

Cerca de 54 milhões de eleitores turcos estavam inscritos para votar.

Lusa, em Notícias ao Minuto

UE. RESGATADOS HOJE MAIS 2.371 IMIGRANTES NO MEDITERRÂNEO




Embarcações da guarda-costeira italiana e de várias nacionalidades resgataram hoje 2.371 imigrantes quando estes tentavam alcançar a costa europeia provenientes do norte de África, informou a Guarda Costeira em Roma.

Com esta operação de salvamento ascendem a 5.851 as pessoas salvas durante o fim de semana, acrescentou a mesma fonte.

As operações de salvamento incidiram sobre 15 embarcações -- doze lanchas pneumáticas e três barcaças -- que navegavam à distância de entre 45 a 50 milhas (entre 83 a 92 quilómetros) da costa da Líbia, referiram.

Nas operações de salvamento de hoje intervieram uma embarcação da marinha britânica, uma da organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras e unidades do dispositivo Frontex da União Europeia, nomeadamente do Reino Unido, Suécia, Espanha e Itália.

Às primeiras horas de hoje, a Guarda Costeira tinha já anunciado o resgate de 3.480 imigrantes em 15 operações, em que participaram embarcações italianas e de outras nacionalidades.

Neste caso, os imigrantes viajavam em nove barcaças e seis lanchas pneumáticas e a Guarda Costeira recebeu pedidos de auxílio através de um telefone satélite.

Lusa, em Notícias ao Minuto

AUSTRÁLIA “DESAPONTADA” COM REABERTURA DE PROCESSO SOBRE MAR DE TIMOR




Jacarta, 05 jun (Lusa) -- A Austrália manifestou hoje descontentamento relativamente ao anúncio do Governo timorense que quer que o Tribunal Permanente de Arbitragem em Haia reabra o processo em que Camberra é acusada de espionagem durante a negociação dos acordos do Mar de Timor.

O Procurador-geral da Austrália, George Brandis, recordou que ambos concordaram não renegociar fronteiras marítimas enquanto o tratado ainda estivesse em vigor, realçando que "a Austrália continua comprometida com esse acordo e está dececionada com o facto de Timor-Leste estar a tentar reabrir" o processo.

Em comunicado, divulgado esta semana, o executivo timorense liderado por Rui Maria de Araújo explicou que a questão da espionagem tinha ficado suspensa após uma segunda queixa em Haia, apresentada por Timor-Leste contra a Austrália, sobre a "apreensão e detenção de certos documentos e dados".

Este processo dos "documentos" - como ficou conhecido - refere-se a um conjunto de documentos pertencentes a Timor-Leste e que foram apreendidos no escritório do advogado Bernard Colleary, em Camberra, a 03 de dezembro de 2013, por uma equipa de agentes da ASIO (Organização Australiana de Serviços Secretos).

Esse material incluía "detalhes sobre atividades de espionagem por parte da Austrália em relação a Timor-Leste, durante a negociação do Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor (DAMMT)".

No comunicado divulgado, esta quarta-feira, o Governo timorense relembra que em setembro concordou "com um pedido da Austrália para adiar as negociações (de arbitragem) por um período de seis meses, para permitir um diálogo mais fundamentado".

Mas ressalva que esse período terminou em março e que "a expectativa de Timor-Leste de que o diálogo poderia conduzir à produção de uma agenda estruturada para a realização das conversações sobre a delimitação permanente das fronteiras marítimas não se concretizou".

DM (ASP) // JCS - Lusa

Propriedade da terra na agenda da XIV Conferência de Ministros da Justiça da CPLP




A propriedade da terra como fator de desenvolvimento é o tema central da XIV Conferência dos Ministros da Justiça da CPLP que decorre nos próximos dias 22 e 23 de junho em Díli, segundo informação divulgada hoje pelos anfitriões.

"Cada um dos nossos países enfrenta hoje questões muito diversas, desde as reclamadas reformas agrárias, à delimitação de áreas de acesso concessionado, passando pela possibilidade de reversão para o Estado de terrenos abandonados que não sejam reclamados, ou pela necessidade de se expropriar para desenvolver projetos de interesse nacional, com a atribuição de uma compensação", explica uma nota informativa do Ministério da Justiça timorense.

Por isso, explica, o objetivo do encontro de Díli é permitir discutir a forma como estes desafios têm sido tratados nos vários países, partilhando experiências e procurando identificar formas de cooperação neste setor.

A propriedade da terra, recorda o executivo timorense é "elemento fundamental para o desenvolvimento social, político e económico, nos países de língua portuguesa".

Em declarações à agência Lusa no final de abril o ministro da Justiça timorense, Ivo Valente, destacou os progressos que estão a ser feitos para resolver os problemas de terras e propriedades, algo que inclui tanto o quadro jurídico como o cadastro.

Ivo Valente referiu-se em concreto ao projeto do Sistema Nacional de Cadastro, um dos pilares do novo quadro de terras e propriedades de Timor-Leste e que está a ser desenvolvido por um consórcio entre a empresa timorense GMN-H e a portuguesa ARM-APPRIZE.

Segundo o livro dos primeiros 100 dias do Governo, até final de maio já tinham sido registadas cerca de 17.500 parcelas de terreno no SNC que já está a ser aplicado em todos os municípios de Timor-Leste.

Recorde-se que o Governo timorense definiu como uma das suas prioridades o fortalecimento do setor da justiça tendo na tomada de posse o primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo, destacado em particular a Lei das Terras e Propriedades.

"É fundamental para o investimento, seja interno, seja externo, conseguirmos legislar sobre esta área sob pena de não podermos concretizar os projetos essenciais à criação de emprego", disse ainda.

Lusa

HOMOSEXUALIDADE VAI DEIXAR DE SER CRIME EM MOÇAMBIQUE




A Homossexualidade tem sido um dos assuntos mais controversos em relação ao direito das minorias em Moçambique. Em artigos, previamente publicados no Global Voices, destacamos a luta incansável da organização Lambda em prol da sua legalização. A Lambda pretende ser uma associação de cidadãos moçambicanos que advogam pelo reconhecimento dos Direitos Humanos das pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT).

Esta organização luta pela sua própria legalização e reconhecimento pelo Estado há sete anos. Até à data, não lhes foi concedido esse direito. Mas, à luz do novo Código Penal, que vai entrar em vigor a partir de 29 de Junho, a homossexualidade deixará de ser considerada como crime.

A revisão do Código Penal (CP) moçambicano ocorreu no passado mês de Dezembro e entrará em vigor a 29 de Junho. Na revisão do CP, promulgada pelo Presidente Filipe Nyusi, são revogados artigos que levantavam dúvidas sobre medidas a aplicar no caso de relações entre pessoas do mesmo sexo. O CP datava de 1886 e instava a aplicar medidas de segurança “aos que se entreguem habitualmente à prática de vícios contra a natureza” (artigos 70 e 71). A interpretação destes artigos poderia levar a criminalizar as relações entre pessoas do mesmo sexo com penas de trabalho forçado até três anos.

Nos últimos anos o trabalho da associação moçambicana Lambda, que promove a defesa dos direitos das pessoas LGBTI, foi fundamental para sensibilizar outras organizações da sociedade civil e instituições do Estado. No entanto, a mesma associação alerta que, apesar de a partir de Junho as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo passem a ser legais, “tal não significa que os direitos das pessoas LGBTI estejam salvaguardados com igualdade.

Pode obter mais informações sobre os Direitos LGBT em Moçambique aqui.



Polícia sul-africana suspeita de envolvimento na morte de mais um moçambicano




Embaixada moçambicana na África do Sul solicita autopsia independente no caso da morte do moçambicano Justice Malati, numa esquadra de Joanesburgo. A família do malogrado acredita que Malati foi espancado pela polícia

Alega-se que Justice Malati, de 36 anos, foi detido no último domingo (31.05), acusado de embriaguez em local público e por ter resistido a detenção.

O porta-voz da polícia da província de Gauteng, que abrange as cidades de Pretória e de Joanesburgo, Lungelo Dlamini, diz que a coorporação foi informada que Malati bateu com a cabeça na parede antes de dormir na noite de domingo.

Lungelo Dlamini diz que "a polícia em Daveyton está a investigar a morte de um cidadão moçambicano nas celas da esquadra da polícia nesta segunda-feira (01.06). O seu corpo foi descoberto quando um policial visitou a cela onde se encontrava detido." Por outro lado o o porta-voz garante que "a causa da sua morte é até agora desconhecida."

Esta versão é desmentida pela família do malogrado, defendendo que o corpo do finado apresentava sinais de agressão, acreditando que esta teria sido a causa da sua morte.

Investigação paralela das autoridades moçambicanas

O Embaixador de Moçambique na África do Sul, Fernando Fazenda, reagiu a esta morte nos seguintes termos: "Não ouvimos absolutamente nada por parte da polícia. Obtivemos informações nos jornais e a confirmação da própria família de que há um moçambicano morto na mesma cela e esquadra onde aconteceu a tragédia de Macie."

Refira-se que um outro caso é movido contra nove agentes policiais desta esquadra, em conexão com a morte do taxista moçambicano Mido Macia., ocorrida em fevereiro de 2013.

Um vídeo mostra o taxista a ser detido, algemado de costas no carro da polícia e em seguida arrastado na estrada de Daveyton. Este viria a sucumbir nas celas da polícia e até aqui a justiça ainda não foi feita.

O embaixador compara este caso com o de Justice Malati: "Houve alguma autopsia feita ao finado. Curiosamente deteta as mesmas razões que foram alegadas para a morte de Macie, uma espécie de asfixia, falta de oxigénio."

De acordo com Fernando Fazenda as autoridades moçambicanas já tomaram medidas: "Por causa desta situação contacamos um advogado e pedimos uma outra autopsia a uma entidade independente para chegarmos a verdade da situação."

Os nove agentes da polícia implicados na morte de Mido Macia, vão comparecer novamente no tribunal em julho próximo.

Milton Maluleque (Joanesburgo) – Deutsche Welle

Observadores internacionais deixam Moçambique após falhanço da missão




O grupo que tinha como principal missão fiscalizar a desmilitarização das forças residuais da RENAMO começou a deixar Moçambique na quinta-feira (04.06). EMOCHM custou aos cofres do Estado mais de 14 milhões de euros.

A Equipa Militar de Observadores das Hostilidades Militares (EMOCHM) cumpriu dois mandatos, totalizando 195 dias, enquanto aguardava que se iniciasse o processo de desmilitarização da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que não chegou a acontecer por falta de entendimento nas negociações entre o Governo e o maior partido da oposição.

Enquanto o Governo defende que a RENAMO deve apresentar a lista dos seus homens a serem desarmados, o partido da oposição exige a adopção prévia do modelo de reintegração das suas forças.

A EMOCHM custou aos cofres do Estado moçambicano 540 milhões de meticais, o equivalente a mais de 14 milhões de euros.

O Executivo já tinha criado todas as condições logísticas para a integração das forças armadas residuais da RENAMO, revelou esta semana o porta-voz do Governo, Mouzinho Saide. O montante gasto só nesta rubrica equivale a cerca de um milhão e 700 mil euros. "Para acomodar as forças residuais foram adquiridos materiais que incluíam tendas, geradores, tanques de água, material de cozinha e refeitório", precisou Mouzinho Saide.

Falta de entendimento

O chefe da EMOCHM, o brigadeiro Terego Tseretse, aponta a falta de entendimento entre o Governo e a RENAMO como a principal causa do fracasso da missão de observação. Por isso, na hora de despedida desejou "sucessos nas negociações e que isso tenha cedo ou tarde uma solução definitiva ou uma solução aceitável para a segurança, unidade, e prosperidade para beneficio de todos os moçambicanos".

Para o analista Calton Cadeado, tanto o Governo como a RENAMO têm responsabilidades no falhanço da operação. "Não era possível cumprir um processo de desmobilização, de desmilitarização, de desarmamento", afirma.

O especialista fala também numa "jogada política da RENAMO e do próprio Governo", mas não num sentido pejorativo. "Ambas as partes queriam tirar dividendos políticos naquela situação", explica.

O Governo e a RENAMO acusam-se mutuamente de responsabilidades no falhanço do processo de desarmamento das forças armadas residuais da RENAMO. O maior partido da oposição acusa ainda o Governo de ter decidido unilateralmente pôr fim à EMOCHM e exige a apresentação de um ofício formal dando conta da extinção daquela missão.

Os observadores militares internacionais regressam assim a casa, enquanto os seus pares moçambicanos voltam aos seus anteriores postos, "aguardando novas ordens" até que se alcance "a vontade política de estabelecimento de uma paz duradoura em Moçambique", revelou o chefe da equipa negocial do Governo, José Pacheco.

"Consequências drásticas"

Tanto o Governo como a RENAMO têm reafirmado o seu compromisso de continuar a trabalhar para que seja alcançado um acordo na mesa negocial com vista à implementação efectiva do acordo de cessação das hostilidades, assinado entre as duas partes a 5 de setembro de 2014.

O processo de observação deverá ser garantido por peritos militares nacionais, segundo defende o Governo.

O ativista de boa governação Adelson Rafael considera, no entanto, que a saída dos observadores militares estrangeiros poderá ter "consequências drásticas" para o país.

"Aqui não vamos encontrar o factor de conciliação que existe e podemos correr o risco de não encontrar mecanismos de controlo dos homens armados da RENAMO", alerta.

Leonel Matias (Maputo) – Deutsche Welle

Economist. Moçambique enfrenta anos de difícil consolidação orçamental




A Economist Intelligence Unit considera que Moçambique enfrenta "um período desconfortável de consolidação orçamental" se quiser evitar um aumento da dívida pública, cujos níveis são, para já, sustentáveis face ao previsível forte crescimento da economia.

"Desde que a economia continue a garantir o forte crescimento que é esperado, a dívida pública de Moçambique não é considerada insustentável, mas se o apoio orçamental dos doadores continuar a cair e como ainda faltam pelo menos cinco anos até que as receitas da exploração dos recursos naturais cheguem, o Governo enfrenta um período desconfortável de consolidação orçamental se quiser evitar problemas com a dívida", lê-se num relatório.

De acordo com a nota enviada da unidade de análise económica da revista britânica The Economist aos investidores, e a que a Lusa teve acesso, "a dívida pública disparou nos últimos cinco anos, com o antigo Presidente Armando Guebuza a deixar subir o défice para 10,8% em 2014, financiado crescentemente pelo recurso a empréstimos não concessionais".

O tema da dívida pública é um dos aspetos económicos mais debatidos em Moçambique, com alguns a argumentarem que é um mal necessário porque garante o desenvolvimento do país, e outros a sublinharem que é um fardo que se vai passar para as próximas gerações, e que dificulta o desenvolvimento do tecido empresarial nacional.

"O recurso a empréstimos tem cada vez mais substituído as doações externas para financiar o ambicioso programa de investimentos do governo, havendo uma tendência que mostra um apetite cada vez maior por empréstimos não concessionais do Brasil, Portugal e China", escrevem os peritos da EIU, notando que "apesar de os níveis de dívida atuais serem considerados aceitáveis - 36% do PIB em 2014, segundo o Ministério das Finanças -, o Fundo Monetário Internacional já avisou que o espaço para mais dívida é limitado".

O problema, sublinham os analistas da EIU, é que o orçamento para este ano prevê mais mil milhões de dólares de empréstimos, para financiar 16% do total da despesa pública: "Apesar de o total da despesa ter sido cortada 10% quando comparado com a versão revista do orçamento de 2014, o aumento nos empréstimos do Governo compensa o declínio do apoio orçamental dos doadores, que deve cair 6,8% este ano".

Assim, concluem, como a receita deve diminuir, nomeadamente dos doadores internacionais, "parcialmente por causa de deceção com os padrões de governação de Moçambique, há o receio de que o Governo continue a acumular dívida enquanto não entram as receitas do gás natural, a partir de 2020".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Royal Air Maroc confirma voos para Cabo Verde a partir de 25 de Outubro




Presstur - A companhia marroquina Royal Air Maroc confirmou hoje em comunicado que a partir de 25 de Outubro passa a voar quatro vezes por semana de Casablanca para os aeroportos cabo-verdianos do Sal e da Praia, em avião Embraer190.

A empresa, como já constava da informação aos GDS (para ver mais clique aqui) indica que as terças e sextas-feiras o voo sai de Casablanca para o Sal e seguidamente Praia, de onde regressa a Marrocos, e às quintas e Domingos vai primeiro à Praia e só depois ao Sal.

Os horários divulgados pela Royal Air Maroc indicam, em horas locais, que os voos às terças e quintas saem de Casablanca às 22h15, a chegada ao Sal é às 2h05 do dia seguinte, saindo então às 2h55 para a Praia, onde aterram às 3h45.

O regresso é às 4h35 com chegada a Casablanca às 4h35.

Os voos às quinta e Domingos saem de Casablanca às 23h40, chegam à Praia às 3h45 do dia seguinte, de onde seguem para o Sal às 4h35.

A chegada ao Sal está prevista para as 5h45 e a partida para Casablanca está para as 6h35, com chegada prevista para as 10h00.

Cabo Verde procura financiamento para carenciados em São Tomé e Príncipe nos EUA




Governo da Praia quer os cabo-verdianos radicados nos EUA adoptem a comunidade crioula em São Tomé e Príncipe.

Alvaro Ludgero Andrade – Voz da América

Em São Tomé e Príncipe residem milhares de cabo-verdianos e descendentes, que foram para o arquipélago no século passado para trabalhar nas roças de colonos portugueses. Com a independência e o fim da exploração das roças, aqueles emigrantes, cujos rendimentos eram ínfimos, foram abandonados à sua sorte.

A grande maioria vive na mais absoluta miséria. Nos últimos anos o Governo de Cabo Verde decidiu atribuir uma pensão aos mais carenciados, mas agora quer que os cabo-verdianos radicados nos Estados Unidos adoptem a comunidade em São Tomé e Príncipe.

A ministra das Comunidades Fernanda Fernandes apresentou esta semana à comunidade cabo-verdiana radicada no Estado americano de Massachussets o programa "De comunidade para comunidade".

A ideia do Governo é que os cabo-verdianos que vivem nos Estados Unidos adoptem a comunidade carenciada em São Tomé e Príncipe, associando-se assim ao fundo já existente para a diáspora naquele país.

Fernanda Fernandes acredita ser possível angariar apoios e espera uma reacção positiva da comunidade.

Segundo a ministra, os beneficiários do programa estão bem definidos, bem como os projectos e as formas de financiamento.

"O programa destina-se a crianças, jovens e pessoas de terceira idade e temos projectos concretos e formas precisas de serem financiadas", garante Fernandes.

Activistas da comunidade cabo-verdiana radicada nos Estados Unidos, estimada em mais de 250 mil, ouviram a proposta e tentaram saber como funciona o programa, mas por agora não há respostas.

Um estudo realizado em 2012 concluiu que cerca de 15 mil cabo-verdianos emigraram para São Tomé e Príncipe no século passado e estima-se que cerca de dois mil vivem em situações de extrema pobreza.

Governo da Gâmbia concede 72 horas a diplomata da UE para abandonar o país




Banjul - O governo gambiano concedeu 72 horas ao encarregado de negócios interino da delegação da União Europeia (UE) em Banjul, Agnès Guillaud, a deixar a Gâmbia, segundo um comunicado oficial, citado pela AFP.

"O governo gambiano informa ao público que decidiu solicitar a Agnès Guillaud, encarregado de negócios interino da delegação da União Europeia na Gâmbia, a deixar o território gambiano no prazo de 72 horas", segundo um comunicado lido sexta-feira pela televisão pública.

O texto precisa que o curto prazo "a contar dessa sexta-feira 05 de Junho 2015", mas não fornece nenhuma explicação sobre os motivos dessa expulsão que criou este sábado uma surpresa nos meios diplomáticos.

Fontes ocidentais em Banjul e na região dizem ter tomado o conhecimento da "expulsão" de Guillaud, assegurando que ignoram os motivos e declinam a fazer qualquer comentário.

Segundo uma das fontes, Agnès Guillaud, de nacionalidade francesa, trabalha desde 2011 na Gâmbia, da qual a União Europeia é um dos principais parceiros económicos, com subvenções alocadas para o período de 2008-2013, totalizando 65 milhões de euros.  

Ex-colónia britânica encravada no Senegal, a excepção da sua fachada marítima, a Gâmbia é dirigida desde há 21 anos por Yahya Jammet. 

ANGOP, em Bambaram di Padida (gb)

Bissau. SETOR JUDICIAL ESTRANHA LIBERTAÇÃO DE GOVERNANTE GUINEENSE




O secretário de Estado das Comunidades da Guiné-Bissau, Idelfrides Fernandes, indiciado por alegada atribuição ilícita de passaportes, foi posto em liberdade, para estranheza de fontes judiciais contactadas pela Lusa.

O governante tinha sido detido na quinta-feira pela Policia Judiciária, em Bissau, para ser ouvido por um juiz na segunda-feira, referiram as mesmas fontes.

Os titulares de cargos judiciais contactados pela Lusa consideram a situação "estranha" e nenhum deles soube explicar por que razão o governante saiu em liberdade, sobretudo a um sábado, dia em que não há serviços abertos do Ministério Público que possam tomar a decisão, acrescentaram.

Idelfrides Fernandes, secretário de Estado das Comunidades da Guiné-Bissau, é indiciado como responsável num alegado esquema ilícito de atribuição de passaportes a cidadãos estrangeiros.

A polícia guineense intercetou na semana passada vários cidadãos chineses, no aeroporto internacional de Bissau, na posse de passaportes diplomáticos da Guiné-Bissau.

Os documentos teriam sido emitidos durante o Governo de transição que dirigiu a Guiné-Bissau entre 2012 a 2014, na sequência de um golpe militar, ciclo que terminou no último ano com a realização de eleições gerais.

Lusa, em Notícias ao Minuto

OBIANG FAZ 73 ANOS, 36 DELES NO PODER NA GUINÉ EQUATORIAL




O presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, completa nesta sexta-feira (5/6) 73 anos, dos quais 36 esteve no poder e quando seu partido se prepara para realizar um congresso extraordinário, no qual será eleito novamente candidato para as eleições presidenciais de 2016.

O congresso extraordinário do governante Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE, fundado pelo próprio Obiang, em 1986), ainda sem data, também elaborará o programa com o qual concorrerá às eleições, que a princípio deverão acontecer em novembro de 2016.

Obiang, no poder desde agosto de 1979, que foi nomeado líder vitalício do governamental PDGE no último congresso ordinário de abril de 2012, revalidou seu mandato de sete anos pela terceira vez consecutiva com "maioria arrasadora" nas eleições presidenciais realizadas em novembro de 2009.

Embora a oposição a seu governo o acuse de se perpetuar no poder, Obiang disse várias vezes que não é "presidente vitalício", lembrando que os motivos que o levaram a tomar o poder em 1979 foram os de salvaguardar os interesses de todos os guineanos.

Em alguns de seus discursos ao longo desses 36 anos, o líder guineano advertiu que "a democracia não é um mero desejo individualista para satisfazer ambições e egoísmos pessoais, o desejo do interesse de um grupinho de indivíduos".

Obiang, nascido em 1941 no povoado de Acoa-Kam Esangui, em Wele-Nzas, distrito de Mongomo, na parte continental de Rio Muni, chegou ao poder em 1979, depois que no dia 3 de agosto daquele ano derrubou o líder anterior e primeiro presidente do país, Francisco Macías Nguema.

Em agosto de 1982, Obiang substituiu o governo militar, chamado Conselho Militar Supremo, que o apoiou no golpe, por um Executivo civil, para formar seu primeiro governo de transição em janeiro de 1992.

Obiang viveu na cidade de Bata, em Rio Muni até 1964, data na qual foi para a Espanha para entrar na academia militar de Zaragoza. 

Exame – foto com Obiang (jovem), Paco Junquera/Getty Images

A GUINÉ EQUATORIAL SOU EU




Retrato do país que surge associado à ida de Jesus para o Sporting. Do tamanho do Alentejo, é governado há 36 anos por Teodoro Obiang, considerado um dos piores ditadores africanos. Veja e ouça a história do pequeno país numa infografia animada publicada originalmente aquando da sua entrada para a CPLP, em julho de 2014

A Guiné Equatorial, país africano de 680 mil habitantes, tem uma área ligeiramente inferior à do Alentejo. Aos comandos da nação - composta pela ilha de Bioko, onde fica a capital, Malabo, e uma zona continental entre os Camarões e o Gabão - está, há 36 anos, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, considerado um dos piores ditadores africanos por várias organizações internacionais. Nascido durante a era colonial na então Guiné Espanhola, fez formação militar em Saragoça e foi um elemento importante do Governo do seu tio Francisco Macías Nguema, primeiro Presidente após a independência, conquistada em 1968. Em 1979, Obiang depôs o tio num golpe de Estado sangrento.

Alimentado pelas receitas do petróleo descoberto nos anos 90 - na África subsariana só Angola e Nigéria produzem mais do que a Guiné Equatorial -, este regime despótico procura reconhecimento internacional, não raro "comprado". Depois de ter presidido à União Africana em 2011-2012, aderiu em julho do ano passado à irmandade lusófona, com o beneplácito, entre outros, do Governo português. A língua de Camões é oficial desde 2011 na Guiné Equatorial, embora pouco falada. Outro requisito para entrar na CPLP, a democratização, é uma promessa em que os demais membros dizem acreditar.

Nada no currículo de Obiang justifica tanta fé. Eis um retrato do tirano, em cinco pinceladas

OS CINCO PECADOS DE OBIANG

A Guiné Equatorial é considerada um dos países mais corruptos do mundo. Doente, Obiang aposta no filho Teodorín para lhe suceder

1. Mau governo

Obiang derrubou o tio Macías, em 1979, para pôr fim a um regime a que chamavam "a Dachau africana" e que fizera fugir mais de um terço da população. A 3 de agosto, no auge de um verão em que o ditador mandara matar membros da própria família, o seu sobrinho Teodoro - governador militar da ilha de Bioko e vice-ministro das Forças Armadas - iniciou uma ação que iria exonerar o tio. Capturado dias mais tarde na floresta, Macías foi sumariamente julgado e executado. A vida dos guineenses equatorianos, porém, não melhorou muito: embora o país seja o mais rico da África subsariana em termos de PIB per capita (35 mil dólares, semelhante ao do Reino Unido), 78% dos seus habitantes vivem abaixo da linha de pobreza, a maioria com menos de um euro por dia. Uma em cada oito crianças morre antes de fazer 5 anos, segundo as Nações Unidas e o Banco Mundial. A riqueza petrolífera alimenta a elite governante, enquanto metade da população não tem acesso a água potável ou eletricidade. De nada serviram as promessas de transparência, desenvolvimento social, reformas legislativas e liberdades fundamentais feitas por Obiang em 2011, na Assembleia Geral da ONU, assegurando que seguiria as recomendações do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Também garantiu que "a corrupção não é um problema na Guiné Equatorial", quando todos os observadores independentes dizem que é um flagelo do qual o Chefe de Estado é o principal beneficiário.

Como se não bastasse, há três anos o país gastou o equivalente a 600 milhões de euros para construir um recinto para acolher a Cimeira da União Africana e está, desde 2012, a construir uma nova capital, concebida pelo ateliê de arquitetura português Ideias do Futuro. A cidade, de nome Oyala, deverá estar terminada em 2020, pronta para acolher 200 mil habitantes.

A televisão britânica BBC calcula que vá custar alguns milhares de milhões de euros.

Não admira, pois o dinheiro que Obiang usou para construir palácios presidenciais desde 1979 ultrapassa o que foi gasto em despesas sociais.

2. Corrupção

Na Guiné Equatorial "não há realmente um Governo", afirmou um ex-embaixador dos EUA naquelas paragens. "O que há é uma conspiração criminosa familiar, que gere o país." Obiang reconheceu, em 2003, controlar pessoalmente o erário público. Explicou que o fazia para que os funcionários públicos não se deixassem corromper, mas o certo é que a revista "Forbes" calcula a sua fortuna em 435 mil milhões de euros. A sua família tinha mais de 300 mil milhões no Riggs Bank, em Washington, que faliu em 2005 e chegou a ser multado por aceitar dinheiros que empresas pagaram indevidamente a Obiang. Fala-se de contratos públicos inflacionados, obras que não se realizam, extorsão.

Apesar das garantias de honestidade do ditador, a candidatura ao projeto internacional "Iniciativa pela Transparência das Indústrias Extratoras" não passou disso, e, se Obiang prometeu criar uma comissão supervisora das finanças, esta perdeu o sentido ao saber-se que os membros seriam nomeados pelo líder.

Segundo a ONG Transparency International, a Guiné Equatorial é um dos 12 países mais corruptos do mundo. A família do governante tem mansões, terrenos e automóveis de luxo, especialmente o filho e putativo sucessor Teodoro - conhecido por Teodorín -, acusado em tribunais dos EUA e França, que já lhe congelaram bens. Ex-ministro da Agricultura - ganhava 5000 euros por mês, o que não chega para a vida que leva -, passa mais tempo em Paris do que na Guiné Equatorial e também tem casa em Malibu, São Paulo, Buenos Aires e Cidade do Cabo, carros Bugatti, Bentley e Lamborghini, um avião, quadros de Renoir, Degas, Gauguin ou Matisse, 300 garrafas de vinho Château Petrus e muitos pertences do cantor Michael Jackson e do estilista Yves Saint-Laurent, comprados em leilões. Espanha também investiga Teodorín e a mãe, Constancia, por terem criado a empresa fantasma Eloba, que nem pagava aos empregados. Roberto Berardi, um italiano que é sócio da Eloba, está preso em Malabo. A reação do ditador às investigações - que envolvem ainda um genro e um sobrinho, ambos ministros - costuma ser desqualificar ou até processar quem as lança ou divulga. Pelo sim pelo não, nomeou o filho vice-delegado permanente do país junto da UNESCO, um posto que lhe garante imunidade diplomática.

3. Repressão

Quando derrubou o tio Francisco Macías (primeiro Presidente do país) - que mandara matar dezenas de milhares de pessoas, incluindo vários parentes, entre eles um irmão de Teodoro Obiang -, o novo governante prometeu um recomeço. Estava-se a 3 de agosto de 1979 e, a título de comparação, em Portugal o Presidente da República era Ramalho Eanes (no primeiro mandato) e a primeira-ministra Maria de Lourdes Pintasilgo. Obiang concedeu amnistia aos presos políticos e pôs fim ao sistema de trabalhos forçados vigentes. Levou o tirano deposto a tribunal por genocídio, e Macías acabou fuzilado a 29 de setembro. O novo regime foi honrado com visitas do rei de Espanha e do Papa João Paulo II, como vai ser este ano com a adesão à CPLP. Do que nunca se falou foi do papel que Obiang tivera no regime derrubado. Governador militar da ilha de Bioko, o então jovem tenente chefiara a Guarda Nacional e foi diretor da prisão da Praia Negra, um inferno onde iam parar os prisioneiros políticos. Ali eram detidos em solitária, sem comida nem água, torturados, humilhados, executados à paulada com barras de ferro, obrigados a dançar à noite, ao ar livre, e agredidos com ferros incandescentes quando ficavam cansados. Por algum motivo foram escolhidos, para o julgamento de Macías, apenas crimes que não implicassem Obiang. E nada mudou com o novo Governo, ao ponto de uma inspeção da ONU ter considerado, em 2002, que a tortura é "o meio normal de investigação" na Guiné Equatorial.

Pulsos quebrados, mutilações, violações e choques elétricos são prática comum, segundo investigações do Departamento de Estado dos EUA. Faltam justiça, liberdade de expressão e informação onde sobram execuções extrajudiciais e raptos pelo Governo. Num apontamento especialmente macabro, Obiang foi, à semelhança dos déspotas Idi Amin (Uganda) e Bokassa (República Centro-Africana), acusado de praticar canibalismo contra inimigos.

4. Culto da personalidade

Francisco Macías, antecessor de Obiang, era o protótipo do tirano egocêntrico, endeusado como "Líder de Aço" ou "Único Milagre" e com o título oficial de "Presidente Vitalício, Major-General das Forças Armadas Nacionais e Grão-Mestre da Educação, Ciência e Cultura".

Do sobrinho Teodoro, o mínimo que se pode dizer é que quem sai aos seus não degenera.

O "Cavalheiro da Grande Ilha de Bioko, Annobón e Río Muní" ou, se preferirmos uma versão mais breve, "O Libertador" ou "O Chefe" chegou ao ponto de propor à UNESCO - que, pasme-se, aceitou - a criação do Prémio Internacional UNESCO-Obiang Nguema Mbasogo para Investigação nas Ciências da Vida, em 2012, para o qual doou três milhões de dólares. O galardão visa distinguir quem contribui para melhorar a qualidade de vida dos demais, feito de que é duvidoso que o próprio patrocinador do prémio se possa gabar.

Isto gerou uma onda de protestos contra a UNESCO. O culto da personalidade vai ao ponto, segundo a BBC, de a rádio estatal ter chamado a Obiang "Deus do país", assegurando que o Presidente está "em contacto permanente com o Todo-Poderoso", pelo que "pode decidir matar sem que ninguém lhe peça contas e sem ir para o Inferno". É de notar que a rádio oficial é a principal fonte de informação e que a única rádio privada pertence a Teodorín. Os discursos oficiais terminam sempre com votos de longa vida não à nação mas ao Presidente, cuja cara aparece um pouco por todo o lado, de cartazes na rua (incluindo um a desejarlhe Bom Ano Novo) às roupas dos cidadãos comuns. Por toda a parte há ruas cujos nomes comemoram a insurreição que levou Obiang ao poder. É o Chefe de Estado não monárquico há mais tempo no poder em todo o mundo - 35 anos - e não há sinais de que tencione sair, por mais que vá preparando o primogénito, Teodorín, para a sucessão. Um alegado cancro da próstata poderá, para este efeito, ter mais influência do que a diplomacia global, caso o sátrapa lhe não resista ou algum movimento de descontentes aproveite uma das suas frequentes idas ao estrangeiro para tratamento para realizar um golpe.

5. Farsa democrática

Depois da rapidez que exibiu em depurar o regime de Macías, Obiang apressou-se a declarar que o país ia tornar-se uma democracia multipartidária. A história seguiu, todavia, outras vias: as primeiras eleições presidenciais só se realizaram 10 anos após o golpe (inicialmente, Obiang fez-se aprovar na presidência em referendo) e, como as que se lhe seguiram, foram tudo menos livres e justas, segundo os observadores internacionais. Se em 1989 o Presidente não teve adversários, em 1996 houve-os, mas acabaram por boicotar o ato eleitoral devido à falta de equidade. Obiang venceu com 97,8%. Em 2002, perante novo boicote dos adversários, o seu total nacional foi ligeiramente pior (97,1%), mas conseguiu a proeza de ter tido, num dos círculos eleitorais e segundo dados oficiais, 103% dos votos! Já em 2009, o resultado caiu para 95,4%. Deixando ao leitor a tarefa de calcular dentro de quanto tempo será plausível, a este ritmo, que alguém o bata nas urnas, recordemos que, em legislativas, o seu Partido Democrático da Guiné Equatorial (uma designação de questionável exatidão) venceu sempre destacado, e a oposição nunca ultrapassou os 12 deputados, num Parlamento com 80. Atualmente, tem apenas um, e no Senado, criado na revisão constitucional de 2011, o Presidente tem a prerrogativa de nomear 15 dos 70 membros.

E se a Lei Fundamental introduziu a limitação dos mandatos, Obiang frisou em entrevista à veterana Christiana Ammanpour, da CNN, que as alterações não eram retroativas. Nada que admire num dirigente que, em 2006, perguntou: "Que direito tem a oposição de criticar as ações de um Governo?" O jornal britânico "The Guardian" conta que um delegado eleitoral do partido oposicionista Convergência para a Social-Democracia já teve de assinar, com uma arma apontada à cabeça, o relatório da contagem oficial de votos, embora houvesse representantes do Governo a votar por aldeias inteiras. 

Expresso – foto Getty

Caso Jesus: Sporting nega a intervenção da Holdimo e Guiné Equatorial




Os leões desmentiram em comunicado no site oficial do clube a intervenção da Holdimo e do governo da Guiné Equatorial no que respeita ao caso de Jorge Jesus.

O futebol português anda a fervilhar nos últimos dias - o turbilhão dapassagem de Jorge Jesus do Benfica para o rival Sporting foi já confirmado, Jesus será o próximo treinador do Sporting Clube de Portugal, numa jogada de Bruno de Carvalho que deixou a Luz em alvoroço. Na sequência destas notícias, surgiu a público uma questão relativa ao salário de Jorge Jesus. Fala-se na falta de capacidade financeira do Sporting para dar um falado salário de cerca de 6 milhões de euros e numa possível intervenção da Holdimo e do Governo da Guiné Equatorial neste propósito.

Contudo, o clube lançou um comunicado no qual desmentia tudo isso:

O Conselho de Administração do Sporting Clube de Portugal, Futebol - SAD, vem repudiar de forma veemente todas as notícias hoje publicadas e/ou difundidas dando conta da intervenção de entidades externas ao Clube, nomeadamente de Álvaro Sobrinho e da HOLDIMO (tendo esta uma participação no capital social da Sociedade de 29,9%), de investidores da Guiné Equatorial ou outros, em quaisquer negócios relativos à sua actividade, para além dos naturalmente decorrentes do seu estatuto de accionista.

Ainda na sequência deste tema, o Vice-Presidente do clube, Carlos Vieira, abordou a situação na CMTV, afirmando que o Sporting tem capacidade para investir caso seja necessário.

Vavel

Guiné Equatorial falha reunião da CPLP em Lisboa sem dar explicações




Lisboa, 06 jun (Lusa) -- A Guiné Equatorial faltou hoje a uma reunião da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), "sem dar indicação das razões", disse à Lusa o ministro da Agricultura e Pescas de Timor-Leste, país na presidência desta organização.

"Não temos informação nem indicação das razões para não ter marcado presença na reunião", disse o ministro timorense Estanislau Aleixo da Silva, no final da segunda reunião extraordinária de ministros dos Assuntos do Mar, que decorreu hoje em Lisboa.

O responsável salientou, no entanto, que "ontem, [sexta-feira], [o representante da Guiné Equatorial] esteve presente em Belém, fez uma intervenção como membro da CPLP", referindo-se ao encontro da Semana Azul, que decorreu sexta-feira, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

A Guiné Equatorial aderiu à CPLP no verão do ano passado, tendo sido muito criticada a sua entrada, nomeadamente pelo desempenho em termos de direitos humanos e por a língua portuguesa não ser falada no país.

MBA // MAG

Do internacionalismo proletário à globalização, histórias de chineses e cubanos em Angola




Pequim, 07 Jun (Lusa) - Como a sua avó, a cubana Sheila Borges Gonzalez também foi trabalhar para Angola, mas agora ao serviço de uma multinacional chinesa de telecomunicações e não em nome do internacionalismo proletário.

"Angola é um país novo, em fase de grande desenvolvimento", diz Sheila Gonzalez, empregada da empresa Huawei em Luanda desde 2011.

Sheila Gonzalez, 29 anos, é formada em economia pela University of International Business and Economics (UIBE), uma conhecida escola superior da especialidade, situada em Pequim.

Numa entrevista à agência Lusa nas vésperas da visita do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, Sheila conta que sempre trabalhou na área das telecomunicações, primeiro em Cuba e depois em Angola.

O seu colega Wang Teng, 33 anos, formado em administração, também trabalhava em Cuba antes de a Huawei o contratar para Angola, em 2011.

"No início foi difícil, mas depois acostumei-me", diz. "Angola é um país de oportunidades e já criou muitos milionários".

O nome angolano de Wang Teng traduz a sua integração no país: "Kilamba Kiaxi", o pseudónimo adotado pelo primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, durante a luta pela independência nacional.

Aquele técnico chinês diz que já se "acostumou" também a gastronomia local, mas normalmente come na cantina da sua empresa, dirigida por um 'chef' chinês.

Líder mundial de equipamentos e redes de telecomunicações, fundada em 1988 no sul da China, a Huawei emprega cerca de 170.000 pessoas em mais de 150 países e regiões, duzentas das quais em Angola.

"Luanda é uma cidade muito internacional. Americanos, europeus, chineses - todo o mundo está agora em Angola", afirma Wang Teng.

A comunidade chinesa, estimada em cerca de 250.000, é uma das maiores e segundo uma técnica angolana de passagem por Pequim, Angola "tem já uma geração de meninos morenos com olhos rasgados", filhos de casamentos mistos.

"Depois de ficarem algum tempo, os chineses concluem que Angola não é só petróleo e começam a investir também na agricultura, que veem como uma nova oportunidade", comentou a técnica, que pediu para não ser identificada.

Entre os cubanos, sobretudo médicos e professores, "alguns também acabam por constituir família em Angola".

Segundo Sheila Gonzalez, "o clima é parecido" e quem fala espanhol "apanha depressa o português".

No seu caso, há ainda uma história familiar "muito forte" ligada a Angola.

Após a independência do país africano, em novembro de 1975, e até ao final de década de 1980, milhares de soldados cubanos lutaram ao lado das tropas do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) contra a África do Sul e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

"A minha avó trabalhou como enfermeira em Angola", contou Sheila Gonzalez.

Nessa altura, o mundo estava dividido em dois blocos antagónicos, liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética, e a China, que no auge do diferendo ideológico com Moscovo, chegou a apoiar a UNITA, ainda não era o que é hoje: a segunda economia do planeta.

O Presidente Eduardo dos Santos inicia na próxima segunda-feira uma visita de seis dias à China, vista em Pequim como uma oportunidade para "injetar um novo ímpeto" nas relações sino-angolanas.

AC // VM

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