terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O BARRIL DE TRÓIA, OU COMO O CRUDE SE INFILTRA NAS FENDAS



Rui Peralta, Luanda

I - A morte, no passado mês de Outubro, de Christophe de Margerie, presidente e  Diretor-geral da TOTAL, foi motivo de unânimes e rasgados elogios e pêsames, à pessoa do presidente e à TOTAL. Alias, elogios e manifestações de pesar são os únicos elementos que encontramos, sobre este assunto, no discurso jornalístico, que mais parece integrar uma enorme campanha de marketing e de limpeza da imagem da TOTAL, uma tentativa simultaneamente ideológica (escamoteando a relação entre imperialismo e capital) e de remodelagem da Historia (esquecendo factos e alterando relatos e memorias, como por exemplo as relações com o apartheid, a corrupção, influencia sobre legisladores, negócios lucrativos com o Estado francês à custa dos contribuintes, etc.).

Ouvindo, lendo e vendo os meios de comunicação ficamos com a sensação de que estão a esconder-nos algo, pois deparamos, repentinamente, com "uma boa alma", um "humanista", á frente da TOTAL, assim como descobrimos a "importância da TOTAL para a humanidade". François Hollande refere que o ex-presidente da TOTAL "defendia, com talento, a excelência e o êxito da tecnologia francesa no estrangeiro". Valls, Macron e Chêvênement qualificaram o malogrado de "grande capitão da indústria. Sarkozy afirmou que o falecido tornou a "globalização mais sociável" e a MEDEF, a associação patronal francesa, pela voz de Pierre Gattaz, considera Margerie um "visionário".

A TOTAL (presidida por Margerie desde 2007) é a sucessora da CFP, formada em 1924, com o objectivo de explorar petróleo no Médio Oriente, mas que diversificou as suas actividades aos sectores do gás, refinaria, distribuição e química, implementando-se em mais de 130 países. Em 1985 a CFP transformou-se em TOTAL-CFP e em 1991 assume-se como TOTAL. 8 anos depois transformou-se em TOTAL-FINA (apos a fusão com a PETROFINA) e já no século XXI funde-se com a ELF-AQUITAINE.

O grupo é um das "majors", ou seja, uma das seis maiores  companhias petrolíferas privadas. O seu volume de negócios ascendeu, em 2013, aos 288 mil milhões de USD, ano em que teve um lucro de 11mil e 200  milhões de USD e ocupa a posição 100 da lista das maiores 500, elaborada pela Fortune. Mas a História da companhia não se limita ao mundo dos negócios e dos mercados, encontrando-se ligada a acontecimentos de caracter geopolítico e geoestratégico. Vejamos alguns factos que constituem esta actividade camuflada da TOTAL.

A CFP implantou-se na Africa do Sul em 1956, nos sectores mineiro, carvão, energia, caminho-de-ferro e na distribuição de combustível (detendo mais de 700 estações de abastecimento de combustíveis). Foi o principal fornecedor das Forças Armadas e da Policia do apartheid, iludindo o embargo imposto pela ONU em 1977.

Os "oleodutos secretos" da TOTAL na África do Sul durante o regime do apartheid transportaram petróleo para o país e no retorno levaram, para França, uranio, via Marselha. Desta forma o apartheid contornava o embargo petrolífero internacional, trocando, através da TOTAL-CFP, uranio por petróleo. Para o apartheid o negócio constituiu uma tábua de salvação e para a TOTAL foi uma lucrativa actividade, que permitiu-lhe uma importante posição no sector mineiro.

II - Os Camarões na década de 70 são submetidos a um dos mais repressivos regimes neocoloniais, sob direcção de Paris. O presidente Hamadou Ahidjo (um títere da França) tem na ELF um parceiro omnipresente em toda a vida económica e financeira do país. A ELF controlava o sector petrolífero camaronês e financiava o regime de Ahidjo, assim como o do seu sucessor, Paul Biya, que ampliou as benesses dos seus parceiros (ou patrões?), concedendo-lhes isenções fiscais e abrindo-lhes as portas a novas áreas de negócios no país.

Na Republica do Congo (o "Petit Congo") em 1997 a ELF apoia Sassou-Nguesso, apos 4 meses de guerra civil, financiando as milícias de Sassou e utilizando as estruturas logísticas da empresa no fornecimento de armas, munições e equipamentos a estas milícias. Aliás o tráfico de armas è uma prática em que a multinacional francesa, sob o nome de CFP, ELF ou TOTAL, parece ser experiente, se levarmos em conta as operações efectuadas pelo grupo empresarial durante a guerra do Biafra. Know-how que foi, também, aproveitado no Gabão, com a ELF a apoiar financeiramente Omar Bongo.

Em 1992 o grupo francês inicia a sua actividade na Birmânia, num período em que o regime militar birmanês era acusado da prática de trabalho forçado pela Organização Internacional do Trabalho. Em 2001, perante a continuidade das acusações, o presidente do "Comité de Ética" da ELF declarou que quando a empresa "tomava conhecimento de algum caso esforça-se por compensar o trabalhador". Hoje a TOTAL é o principal investidor estrangeiro no país, detendo 32% da massa de investimento estrangeiro, posição que foi reforçada pela administração de Margerie que, em 2012, adquiriu 40% de um bloco de exploração.

Na Nigéria, país onde o grupo já tinha um historial de actividades diversas (explorando as dinâmicas que conduziram á guerra do Biafra), a TOTAL, no início deste ano, foi acusada de expulsar milhares de camponeses no Estado de Rivers (Rivers State) e um colectivo de ONG's concedeu o prémio Pinóquio á empresa, com o seguinte comentário: "Na Nigéria a TOTAL impôs o seu império dividindo as comunidades locais e multiplicando os programas de sustentabilidade e de responsabilidade social empresarial para melhor esconder o desastre ambiental e a apropriação de terras (...) ". Este não foi o primeiro prémio que a TOTAL recebeu. Em 2008, grupos ambientalistas concederam á ELF o prémio "Mãos sujas, bolsos cheios" e em 2009 a ELF foi "agraciada" com o prémio "Um para todos, todos para mim".

Na Líbia, em Março de 2011, um representante da TOTAL foi enviado para Bengasi, com o objectivo de "animar" os bandos armados, enquanto no Eliseu enviados do grupo apelavam para uma intervenção militar francesa no país e exigiam que o governo francês  reconhecesse o Conselho Nacional de Transição da Líbia (CNT). Alguns meses depois o ministro francês dos negócios estrangeiros declarou: "(...) esta operação na Líbia é cara, mas é um investimento para o futuro". Em Setembro o CNT anunciava que 35% do crude líbio passaria a ter a França como destino. Um país desintegrado, um conflito que causou mais de 60 mil mortos, eis o custo dos interesses da TOTAL na Líbia.

Existem ainda os negócios do grupo no Mali, que abrangem as mais importantes reservas de crude e de gás no país, na região de Taoudenni. O bolo foi partilhado com a Argélia, a Mauritânia e o governo maliano. Também com a China foi efectuado um consórcio para exploração de petróleo e gás maliano. A presença militar francesa levou o governo maliano a conceder á França licenças de exploração, que acabaram nas mãos da TOTAL, beneficiando a empresa de uma vasta área de exploração cujas licenças foram gratuitas.

III - A TOTAL é um império assente na sua actividade principal - o sector petrolífero - com extensões robustas nos sectores mineiro e energia e uma forte componente de sectores financeiros. As fusões sucessivas (ELF, AQUITAINE, PETROFINA) foram efectuadas em conluio e sob protecção do Estado francês, reforçando o carácter monopolístico do grupo. Em 2013 a ELF detinha um capital de 204 mil milhões de euros, um volume de negócios de 190 mil milhões de euros e lucros de 8mil 440 milhões de euros. Os felizes acionistas do grupo contam com nomes como o PNB-PARIBAS (que em 1924, quando surgiu a CFP, denominava-se Banco de Paris e dos Países Baixos), um dos líderes mundiais no negócio de matérias-primas, em particular de petróleo e gás, para além de ser o banco de serviço da TOTAL, em todas as operações financeiras e bancárias do grupo.

Os lucros fabulosos da TOTAL (13mil e 900 biliões de euros em 2008; 7,8 milhões em 2009; 10 mil 280 milhões em 2010; 12 mil e 300 milhões em 2011 e 10 mil e 700 milhões em 2012) permitiram que pagasse aos seus acionistas cerca de 34 mil milhões de euros entre 2005 e 2010, cerca de 45% dos seus lucros. A estes dados devem-se acrescentar as benesses fiscais: em 2010 a TOTAL não pagou qualquer imposto sobre as suas sociedades em França.

Sem dúvida! São totalmente felizes os acionistas da TOTAL...mesmo que á custa dos contribuintes franceses e dos povos cujos países são "mercados promissores"...

IV - Em Angola a produção petrolífera iniciou-se em 1955, na concessão terrestre do Kwanza. Nos anos 60 começa a exploração na concessão offshore de Cabinda, cuja produção teve início em 1968. Cinco anos depois, o petróleo assume a primeira posição como fonte de receitas de exportação, ultrapassando o café.

Após a independência o governo constituiu, em 1976, a Sociedade Nacional de Combustíveis (SONANGOL) e em 1978 o Estado assumiu o monopólio da propriedade dos recursos petrolíferos nacionais, por força da Lei 13/78, que regula as actividades petrolíferas no país. Neste quadro a SONANGOL torna-se a concessionária exclusiva para a pesquisa e exploração, com a capacidade, concedida pela lei, de associar-se a parceiros estrangeiros para obter os recursos necessários á pesquisa, desenvolvimento e produção. A SONANGOL cria joint-ventures com as empresas petrolíferas estabelecidas no território desde a época colonial: Cabinda Gulf Oil Company (CABGOC, que após 1984 torna-se subsidiária da CHEVRON) PETROFINA (mais tarde fundiu-se com a ELF-AQUITAINE, na TOTAL) e TEXACO (estas duas ultimas produziam em concessões terrestres nas bacias do Kwanza e do rio Congo).

Nos anos 80 e 90 a CHEVRON, a ELF e a TEXACO realizam novos investimentos em águas rasas e, no início da década de 90, iniciam a prospeção em águas profundas, após o governo ter atribuído 17 novos blocos demarcados a profundidades entre os 200 e os 1500 metros de profundidade (blocos 14 a 30). Em 2001 a CHEVRON-TEXACO, a EXXON-MOBIL, a BP e a TOTAL-FINA-ELF já tinham descoberto 35 campos petrolíferos nos blocos 14, 15, 17 e 18 (águas profundas).

Esta bem-sucedida exploração e os relativamente baixos custos de produção da indústria petrolífera nacional constituíram dois factores que, associados à definição dos três primeiros blocos (31, 32 e 33) de águas ultra-profundas (mais de 1500 metros de profundidade) conduziram à intensificação da concorrência entre as petrolíferas, que ofereceram ao governo angolano elevados "prémios de assinatura" (prémios pagos de uma só vez e à cabeça, pela obtenção de contratos de prospeção e produção). BP, ELF e EXXON (que lideravam os consórcios vencedores dos concursos) pagaram, ao todo, 935 milhões de USD em prémios, o que permitiu ao governo colmatar a crise de 1998/1999, causada pela queda dos preços do barril.

O desenvolvimento dos novos campos em águas profundas permite um novo impulso na produção petrolífera em território nacional. O primeiro desses campos foi o do Kuito, no Bloco 14, explorado pela CHEVRON, cuja produção iniciou-se em 2001, seguindo-se o Girassol, no Bloco 17, da TOTAL-FINA-ELF, em finais de 2001. Em 2002 a produção de Angola ultrapassava os 900 mil barris por dia (bpd), sete vezes mais do que na década de 80. A CHEVRON tornou-se a maior operadora em Angola, seguida da TOTAL.

V - No período pós-independência o petróleo assumiu o comando da macroeconomia angolana, afectando o aparelho de Estado ao nível político-militar e económico. Relações internacionais, governação, quadro institucional, superestrutura cultural e ideológica, nada escapa ao domínio do sector petrolífero (submetido á lógica dos monopólios globalizadores), que transformou o país num "mercado promissor" (apesar da guerra - embora tudo se tenha passado em função desta - que, na segunda metade dos anos 80, é condicionada aos interesses do sector a curto e medio-prazo, na dinâmica interna através das elites beneficiadas pela expansão do sector e nas dinâmicas externas, com as alterações de procedimentos dos USA, da França e do Reino Unido).

O Estado controla receitas petrolíferas volumosas e sem paralelo na História económica de Angola (pré-colonial, colonial e pós-colonial) e este facto está na origem da extrema dependência do país em relação ao recurso petrolífero (o sector diamantífero e/ou mineiro estão muito distantes de assumirem uma posição comparável à do petróleo e a agricultura ou a agropecuária, devido á inexistência de uma reforma agrária e á guerra, é um sector completamente destroçado e esquecido, embora eternamente relembrado no discurso oficial). Esta dependência em relação ao petróleo é nefasta e pode originar períodos indefinidos de crise, que em caso de maior diversificação da actividade económica poderiam não ter um impacto significativo, mas que na actual situação revelam-se preocupantes, pelo menos em dois sentidos: obstaculizam o desenvolvimento e incapacitam o aparelho produtivo.

As crises de 1985/1986 e de 1998/1999, tal como a actual, foram provocadas pela debilidade provocada pela dependência. Tudo vacila, no espaço económico nacional, com a queda do preço do barril e isso é, no mínimo, gerador de instabilidade, não no adormecido corpo económico e social, mas nas galáxias da elite e nas orbitas em que decorre o seu aparente movimento. 

A economia nacional habituou-se a viver das receitas petrolíferas, ou seja, das mais-valias geradas por um recurso não renovável, que no momento actual sofre o efeito da queda da procura (o arrefecimento do crescimento chinês e da industria indiana) e da concorrência dos sectores energéticos alternativos. Por outro lado, os mecanismos de redistribuição das receitas favoreceram os sectores ligados ao aparelho de Estado e as "famílias" historicamente formadas na economia colonial (uma espécie de burguesia comercial autóctone, que em alguns casos não se expandia devido ao colonialismo) que infiltraram o aparelho político e militar e que terminaram por ter um papel de domínio no aparelho económico, que não correspondia ao seu real peso e importância social.

VI - As alterações provocadas pela Paz e os elevados investimentos efectuados continuam a padecer de uma lógica que é inerente às elites parasitárias e predatórias, alimentadas pelo desperdício das receitas petrolíferas num país mergulhado no esforço de guerra. A diversificação das actividades económicas produtivas nacionais irão demorar a surtir efeito até porque a lógica dominante ainda não se enquadrou nessa perspectiva. Muita água passará sobre o moinho e muita farinha será moída na sua mó até que as reformas necessárias sejam implementadas.

A realidade da economia angolana encontra-se distorcida e em muitos casos é um truque de ilusionismo. As multinacionais globalizadoras que introduziram-se no país através do sector petrolífero geraram grande parte  destas distorções, que assumem visibilidade na especulação imobiliária ou nos valores fabulosos dos alugueres das casas e apartamentos, por exemplo. O auge da distorção é o facto de viver em Luanda (uma cidade com infraestruturas deficientes, sem transportes colectivos urbanos, rede de água e electricidade extremamente precárias e péssimas condições de comunicação, parando por aqui para não tornar a lista extensa) ser tão caro como viver em Tóquio.

A conquista da Paz, a nova realidade constitucional, o esforço realizado no fortalecimento das instituições democráticas foram passos importantes na definição do rumo para um futuro melhor e para um presente mais digno. Mas torna-se necessário alargar e apurar os mecanismos participativos e urge democratizar a vida económica e social, sob pena de perdurar a lógica neocolonial do Capital.

Da opção entre lógica do Capital e lógica da Solidariedade dependerá o futuro de Angola. A sua posição na economia-mundo como "mercado promissor" (logo circo de ilusões) ou como espaço de Liberdade e de Justiça Social no continente africano, depende da opção entre as duas lógicas, ou seja, a subordinação aos interesses dos monopólios globalizadores ou a  afirmação da soberania popular.

Ao Povo Heróico e Generoso só  resta um caminho: estarmos juntos na continuidade da Luta e na certeza da Vitória...

Fontes
Bouamama S. TOTAL y de Margerie: Petroleos y gas del color da la sangre http://www.rebelion.org 11/2014
AFP 21/10/2014
Koula Y. Petrole et violences au Congo-Brazzaville: Les suites de l'affaire ELF Ed. L'Harmattan, Paris, 2006
Bureau International du Travail Informes 2002-2003 OIT, Geneve, 2004
Pean, P. Nouvelles affaires africaines: Mensonges et pillages au Gabon Ed. Fayard, Paris, 2014
Hodges, T. Angola: Do Afro-estalinismo ao Capitalismo selvagem Ed. Principia, Cascais, 2002
IMF 2002, Angola: Recent Economic Developments IMF, Washington D.C., 2003

CONFERÊNCIA SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS DE LIMA E SEUS PROTAGONISTAS




Que países podem promover maiores avanços na proteção do clima, quais poderão tentar frear as iniciativas, e por quê? Um perfil dos protagonistas da Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, em Lima.

As últimas conferências do clima promovidas pelas Nações Unidas terminaram em frustração, sem que fossem atingidos acordos visando a redução das mudanças climáticas globais. Assim, é estranhamente positivo o ambiente na 20ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 20), que se realiza de 1º a 12 de dezembro na capital peruana, Lima.

O motivo por que até mesmo especialistas veteranos estão cautelosamente otimistas, são os ambiciosos planos para redução de emissões de dióxido de carbono, anunciados em novembro pela China e os Estados Unidos. Os analistas consideram esse passo importante: apesar de, juntas, as duas potências econômicas produzirem a mesma quantidade de CO2 que o resto do mundo, elas têm se especializado em frear as iniciativas globais de proteção ao clima.

Programa "colossal"

Reimund Schwarze, especialista em política climática internacional do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental (UFZ), chama a atenção para a relevância de a China ter assumido sua responsabilidade política. Até então, o país se considerava "em desenvolvimento", usando isso como argumento para defender suas emissões.

"Agora os chineses dizem: 'Bem, como maiores emissores de CO2 do mundo, temos uma responsabilidade própria, e nisso estamos sozinhos'", observa o economista. Concretamente, isso significa que, pela primeira vez, Pequim anunciou uma data para a redução de seus gases-estufa: 2030.

No entanto, permanece totalmente indefinido o que acontecerá até essa data, pois o presidente chinês e secretário-geral do Partido Comunista, Xi Jinping, ainda não divulgou quaisquer dados concretos. Nesse aspecto, o chefe de Estado dos EUA, Barack Obama, já foi mais longe. Ele promete que até 2025 seu país restringirá o CO2 emitido entre 26% e 28%, em relação aos níveis de 2005.

Washington e Pequim também planejam cooperar para expandir as energias renováveis. A China anunciou o aumento em 20% da utilização de energias verdes, nos próximos 16 anos.
"É realmente um programa colossal", saúda Schwarze. "No entanto, ao se suprimir a utilização do carvão mineral, não ficou claro quais tecnologias estão por trás das alternativas. Possivelmente trata-se de grandes usinas hidrelétricas, que também não deixam de ser problemáticas."

UE como região-modelo

A mudança da postura sino-americana poderá significar para a União Europeia, que costuma pressionar por alvos mais ambiciosos nos cortes das emissões de CO2, a perda seu papel de liderança na proteção do clima.

Ainda assim, em outubro de 2014 a UE se tornou a primeira região global a anunciar metas climáticas concretas, em antecipação à conferência de Lima. Após intensas discussões, os Estados do bloco concordaram em reduzir a emissão de gases do efeito estufa em 40% até 2030, em comparação aos níveis de 1990.

"Essas metas ainda são, certamente, ambiciosas, e a UE continua sendo vista como líder", comenta Schwarze. Sönke Kreft, líder da equipe de políticas climáticas internacionais da ONG alemã Germanwatch, é, por sua vez, mais crítico. Pois quem pretenda ter liderança global em Lima e convencer as outras nações, também precisa de grande credibilidade em sua própria política climática.

"A redução de 40% simplesmente não basta. Na verdade, precisaríamos de 55% para atingir as nossas metas", afirma Kreft, referindo-se ao limite, estabelecido pela comunidade internacional, de 2ºC de aquecimento global até 2050, em relação ao início da industrialização.

Índia, a grande incógnita

Schwarze ressalva que a Índia é "a grande incógnita", no quarteto completado pela UA, China e EUA. E sem ela, "nenhum acordo sobre as mudanças climáticas terá êxito". De fato, nos últimos meses o país de 1,3 bilhão de habitantes e terceiro maior emissor de gases-estufa tem se mostrado extremamente reservado em questões climáticas.

O presidente indiano, Pranab Mukherjee, não compareceu à cúpula do clima em Nova York, em setembro, enviando em seu lugar o ministro do Meio Ambiente Prakah Javadekari. A Alemanha, aliás, agiu da mesma forma.

Nova Déli igualmente se absteve da recente conferência de doadores para o Fundo Verde do Clima, realizada em Berlim. Assim como a China, o país não enviou representantes, esquivando -se, assim, do financiamento de medidas de proteção do clima. Aparentemente, o primeiro-ministro Narendra Modi deu maior importância à COP 20 em Lima, onde se encontra uma delegação de alto escalão do governo indiano.

Pontos de atrito e chances

Espera-se lançar em Lima as bases para um novo acordo, contendo um cronograma para a diminuição das emissões de CO2 em mais de 190 países. Os Estados exportadores de petróleo, em especial, adotam uma postura refratária a metas climáticas mais abrangentes. Porém mesmo entre as nações favoráveis a um acordo vinculativo, são numerosos os pontos de conflito.

Sönke Kreft acredita que os diferentes graus de contribuição – "quem faz o quê" – serão alvo de debates acalorados. E Reimund Schwarze antecipa atritos, contrapondo os EUA e a UE, de um lado, à China, do outro.

Quanto à Índia, ele acredita que o modo mais fácil de convencê-la será apoiar seu setor de energia com tecnologia e expertise. E para a Alemanha essa seria uma ocasião de se engajar nessa área específica do auxílio ao desenvolvimento, complementa o economista do Centro Helmholtz.

Clara Walther (rc) – Deutsche Welle

50 ANOS DE RUMO COMUM



Martinho Júnior, Luanda

1 – A 2 de Janeiro de 2015 completar-se-ão 50 anos desde o encontro em Brazzaville do Che com a direcção do MPLA sob chefia do Presidente do MPLA que viria a ser o fundador da nação, o dr. António Agostinho Neto.

Nessa altura deu-se início à saga comum de 50 anos de luta que reuniu os revolucionários cubanos, os internacionalistas e os membros do movimento de libertação em África, uma saga que permitiu o fim do colonialismo, a independência das que foram colónias portuguesas, o fim do “apartheid”, a independência da Namíbia e do Zimbabwe, a instauração da democracia representativa na África do Sul e em toda a África Austral, assim como o início do imenso resgate que há a realizar em prol do desenvolvimento sustentável que começa já a abranger todo o povo angolano e os povos da parte austral do continente africano.

2 – Lembro esse encontro um mês antes do marco de sua memória histórica, a 2 de Dezembro de 2014, pois hoje as Forças Armadas Revolucionárias de Cuba perfazem 58 anos, quer dizer: as FAR ainda não tinham uma década de existência quando ele ocorreu e a experiência internacionalista em África, em teatros tão distintos como a Argélia, a Guiné Bissau, a Etiópia, os Congos ou Angola, ao longo deste meio século, traduziu-se em muitas vitórias que contribuíram para tornar o mundo melhor, mais justo, mais digno sobretudo para os povos e as nações de África!

A Embaixada de Cuba realizou em Luanda, no Museu Militar sito à Fortaleza de São Miguel, uma celebração que é, pelo seu significado, também extensiva às Forças Armadas Angolanas, enquanto emanação duma trajectória cujo rumo de libertação beneficia hoje da paz, da possibilidade do aprofundamento da democracia e da possibilidade de trazer benefícios para o povo angolano, que nunca antes deles alguma vez beneficiou!

3 – Nada do que foi realizado de há 50 anos a esta parte foi desconexo, ou desgarrado: nesses 50 anos houve um sentido para a luta, com as etapas a serem sucessivamente vencidas, por vezes penosamente vencidas, mas pôde-se traçar a lógica com sentido de vida que nos conduziu às actuais políticas de Reconstrução Nacional, de Reconciliação e de Reinserção Social, numa Angola independente e soberana e nos anima nas melhores expectativas em relação ao futuro!

Em momento algum Cuba Revolucionária e as suas FAR se alhearam desse processo de libertação e dignidade, mesmo depois do Acordo de Nova York!

Efectivamente Cuba transferiu os seus esforços de participação na saga comum em reforço da educação e da saúde, assim como em outros sectores, como o da construção.

O que antes foi feito de armas na mão, permitiu alcançar a paz e garantiu o início do imenso resgate em benefício de todo o povo angolano, resgate esse de que Cuba é parte integrante ao unir os seus esforços aos dos angolanos.

O protagonismo comum, desde as mais difíceis trincheiras, é um exemplo de coerência para o Não Alinhamento activo, que honra o internacionalismo da Revolução Cubana e o Movimento de Libertação em África!!!

É também um exemplo para aqueles que procuram a paz digna que todos os povos merecem! 

Foto: Visão da sala onde decorreu o acto comemorativo solene do 58º aniversário das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, no Museu Militar situado na Fortaleza de São Miguel em Luanda - 2 de dezembro de 2014.

Brasil - Operação Lava Jato: "O que acontece na Petrobras acontece no Brasil inteiro"




Na CPI, Paulo Roberto Costa, delator do esquema de corrupção na Petrobras afirma que a maioria das obras públicas são alvo de desvio de verba

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, afirmou que o esquema de pagamento de propina descoberto na Petrobras não é exclusividade da estatal. “O que acontece na Petrobras acontece no Brasil inteiro, nas rodovias, ferrovias, nos portos e aeroportos”, afirmou, durante reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras.

Paulo Roberto Costa denunciou um esquema de propina nas diretorias da estatal para beneficiar partidos políticos com 3% do valor dos contratos com empreiteiras. Ele é apontado pela PF como "operador político" da organização criminosa, enquanto o doleiro Alberto Youssef é tido como o "operador financeiro". Costa disse estar “extremamente arrependido” de ter aceitado a indicação para a diretoria em 2004, segundo ele por meio do PP, um dos partidos que, como o PT e o PMDB, são apontados como beneficiários do esquema.

“Infelizmente aceitei uma indicação política para a diretoria. Estou extremamente arrependido de ter feito isso.” O ex-diretor reforçou que as indicações políticas acontecem desde o governo do ex-presidente José Sarney. Esta é ao menos a segunda vez que Costa faz esse "diagnóstico" sobre a estatal."Desde que eu me conheço como Petrobras, as diretorias e a presidência da Petrobras foram sempre por indicação política. Eu dava sempre o exemplo (...) ninguém chega a general se não for indicado. Você, dentro (...) das Forças Armadas, [se não tiver indicação], para como coronel e se reforma como coronel", disse Costa.

Nesta terça-feira 2, Costa reafirmou aos parlamentares a veracidade do que disse na delação premiada. “Tudo que eu falei na delação, que eu não posso abrir aqui, eu confirmo. A delação é um instrumento sério e não pode ser usado de artifício, de mentira”, disse. Segundo o ex-diretor, foram 80 depoimentos em mais de duas semanas de delação. Costa ressaltou que, a cada depoimento que deu, apresentou provas para corroborar as informações. "Vários fatos foram apresentados, e os que não foram apresentados eu indiquei quem poderia falar sobre os fatos."

Segundo Costa, a decisão de aceitar a delação foi feita depois de pedidos de sua família. “Paulo, por que só você? E os outros? Você vai pagar sozinho por uma porção de coisas que estão erradas? Fiz a delação por respeito e amor à minha família.”

Nestor Cerveró

Costa participou nesta terça de uma acareação com o ex-diretor da Área Internacional da estatal Nestor Cerveró, apontado pelos delatores como integrante do esquema. Cerveró seria, indica a investigação, responsável por repassar dinheiro para o suposto operador do PMDB no esquema, o lobista Fernando Soares, conhecido como “Fernando Baiano”.

“Eu desconhecia qualquer esquema de ilícito nas diretorias da Petrobras, como um todo”, afirmou Cerveró ao ser questionado pelo deputado Afonso Florence (PT-BA), que atua como relator na comissão em substituição a Marco Maia (PT-RS), afastado para tratamento de saúde. "Ratifico que não recebi propina”, disse Cerveró.

Na condição do diretor responsável, à época, pela compra da refinaria de Pasadena, Cerveró negou que tenha havido pagamento de propina nos contratos referentes a essa transação e em outros da Petrobras. “Eu desconhecia. Pelo fato de desconhecer, para mim não havia [pagamento de propina]”, voltou a afirmar Cerveró. Em seguida, questionado sobre uma carta escrita por ele que propiciou a compra da refinaria, ele disse que não recebeu propina por isso. “Eu não recebi nada, eu fiz um procedimento normal. Eu não recebi nada por essa carta”, disse.

Sobre o assunto, Paulo Roberto Costa se limitou a dizer que reitera o que já disse ao juiz Sérgio Moro, nos depoimentos que prestou em Curitiba. Em setembro, o Jornal Nacional divulgou com exclusividade que Costa havia admitido ao juiz que recebeu, ele próprio, 1,5 milhão de reais de propina pelo contrato da refinaria de Pasadena.

Cerveró contou que sua defesa está sendo paga pela Petrobras por meio de um seguro que é feito pela companhia para custear a defesa de seus funcionários em processos que estejam relacionados à gestão. “Esse seguro só cobre a defesa. No caso de condenação ou dolo comprovado o seguro tem que ser ressarcido pelo responsável”, esclareceu em seguida.

Nestor Cerveró começou a acareação comunicando aos parlamentares que não irá responder perguntas formuladas com base em vazamento de informações do processo à imprensa. “Não vou responder a perguntas que sejam extraídas de possíveis vazamentos ou ilações da mídia. Não vou responder perguntas que eu desconheço e que os senhores também desconhecem”, disse.

Na foto: Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró - Antonio Cruz/ Agência Brasil

Carta Capital - Com informações da Agência Câmara e da Agência Brasil

Leia mais em Carta Capital

Brasil: Negros correspondem a mais de 60% da população carcerária



 Afropress, com informações da ONG Conectas

Brasília - Dados divulgados na semana passada pelo Ministério da Justiça escancaram o que a sabedoria popular já sabe: mais de 60% das pessoas que estão recolhidas às prisões, que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, chama de “masmorras medievais”, são pretos e pardos, vale dizer, negros. Segundo dados da mais recente Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD 2013), do IBGE, negros representam 53,1% da população brasileira.

Até junho de 2013 (os dados estão sendo divulgados com atraso de um ano, provavelmente por causa das eleições), o Brasil tinha 574.027 pessoas presas – a quarta maior população carcerária do mundo. Do total de pessoas presas 289.843 são pretas e pardas (86.311 pretas e 221.404 pardas). Os brancos são cerca de 176.137, os amarelos, 2.755, indígenas 763 e 11.527 são classificados como “outras”, ou seja, não se enquadram na terminologia adotada pelo IBGE, que define cinco categorias: preto, pardo, amarelo, indígena e branco.

"O retrato pintado pelos números do Ministério da Justiça é claro ao determinar quem é o alvo preferencial da política penitenciária: o jovem, negro e pobre. O sistema penal é seletivo, afirma Rafael Custódio, coordenador do Programa de Justiça da Conectas, ONG que estuda a situação do sistema carcerário. O diagnóstico feito pela Conectas é devastador: o sistema está falido, afirmam seus técnicos.

Mulheres

Também o número de mulheres pretas e pardas no sistema prisional supera em quase o dobro o número de mulheres brancas: estão recolhidas às cadeias 17.872 mulheres pretas e pardas, contra 9.991 mulheres brancas. As mulheres orientais são 124 e as indígenas 50. Outras 719 não identificaram sua cor/raça.

Além de pretos e pardos, o sistema também seleciona pelo grau de instrução que atinge no geral as pessoas pobres: 74% têm menos de 35 anos e 70% não passou do ensino fundamental.

Em população carcerária o Brasíl, que tem uma população de 202,1 milhões, só fica atrás dos Estados Unidos, China e Rússia. Dos três países, porém, só a Rússia tem população inferior a população brasileira – 143,5 milhões. Os EUA tem 316,1 milhões habitantes e a China 1,357 bilhões.  

A taxa de encarceramento, índice que calcula o números de presos em cada grupo de 100 mil habitantes, pulou de 287,31 para 300,96, em apenas seis meses. Segundo os dados do Ministério da Justiça, analisados pela ONG Conectas, entre 1992 e 2013, a taxa de encarceramento cresceu aproximadamente 317,9%, passando de 74 para 300,96. Nos Estados Unidos, o aumento foi de quase 41%. Na China, de 11%. A Rússia foi o único país  do grupo a registrar redução de cerca de 4%.

Sem acesso à Justiça

Além de ser a população majoritária do sistema carcerário, os negros sofrem o problema crônico que atinge, em geral, a população mais pobre: a falta de acesso à Justiça. De acordo com levantamento de 2013 da Associação Nacional de Defensores Públicos (Anadep) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Brasil conta hoje com 11,8 mil juízes, 9,9 promotores e apenas 5 mil defensores. Só no Fórum da Barra Funda, em São Paulo, Estado que abriga 35% do dotal de presos, cada defensor é responsável por 2,5 mil processos criminais.

O sistema de Justiça, por outro lado, não garante justiça: segundo os novos dados do Ministério, mais de 43,8% dos presos brasileiros não têm condenação definitiva (no balanço anterior, de dezembro de 2012, eles somavam 41,8%). Esse quadro é responsável pela superpopulação das unidades prisionais e pelo consequente aumento nas violações contra os internos. Em todo o país, faltam 256 mil vagas.

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Angola - Cabinda: PADRE CONGO CRITICA IGREJA CATÓLICA




O ex-prelado católico diz que a Igreja tornou-se no "no braço direito" do Governo em Cabinda, o que "é uma vergonha"

Manuel José – Voz da América

O ex-padre católico  Casimiro Congo, que formou a sua própria igreja em Cabinda, lançou um forte ataque verbal contra a Igreja Católica acusando-a de ser “uma autêntica vergonha”.

A igreja formada pelo Padre Casimiro Congo foi recentemente encerada pelas autoridades que alegam que este não cumpriu os preceitos da lei para  a sua legalização.

A igreja do Padre Congo em Cabinda mantém-se impedida de receber fieis e com a policia a ocupar o local,

"A Igreja Católica Romana já deu o que tinha a dar, não tem a liberdade de conduzir e dar vida aos filhos de Deus em Cabinda, a minha igreja representa neste momento, liturgicamente, biblicamente, a grande forca, não a única mas uma das grandes forcas vivas de Cabinda e neste momento há tantos católicos a abandonar a igreja para virem para a minha, mesmo perseguidos", relata o Padre Congo.

Ele deu como exemplo da colaboração que diz existir entre o Estado angolano e a hierarquia católica um recente incidente em Subantando onde os crentes locais “revoltaram-se e fecharam a igreja”.

O bispo teria tentado resolver o problema mas face à sua incapacidade foi a administração municipal que interveio, algo que o Padre Congo diz não se justificar porque o Governo “se diz laico”.

O Executivo interveio neste caso, acrescentou, “porque o Governo confia na Igreja Católica Romana como seu braço direito, na destruição de muitas coisas como a língua que está a ser destruída pela Igreja Católica”.

“Eu não sou contra por amor de Deus, eu amo profundamente a igreja, só que ela não está a ser a igreja que eu pensava”, disse o Padre Congo, para concluir: "Em Cabinda é uma autentica vergonha".

PERDER MILHÕES EM “PETRODÓLARES” PARA MANTER O MERCADO



Benjamim Formigo – Jornal de Angola, opinião

A reunião da OPEP do passado dia 27 apenas tornou ainda mais evidente a divisão entre os seus membros e o domínio dos países do Médio Oriente, em particular da Arábia Saudita no cartel.

O facto do encontro não ter feito rigorosamente nada, não foi surpreendente dada a postura saudita desde o Verão e só por si foi o quase formalizar de uma guerra à exploração de xistos betuminosos em que os Estados Unidos se lançaram e que é parcialmente responsável pela queda brutal do preço do crude dos 115 dólares por barril) em Junho, para 80 em meados de Novembro tendo atingido imediatamente a seguir à reunião do cartel para 72 dólares por barril.

A entrada em força do “fracking” norte-americano no mercado acrescentou quatro milhões de barris diários À produção global de 75 milhões que já era excessiva. Tudo começou em meados da primeira década deste século, na sequência do crescimento constante, quando a procura do petróleo excedeu de tal modo a oferta que o crude atingiu entre 2007 e 2009 um máximo de 140 dólares. Uma subida que coincidiu com a crise financeira desencadeada por múltiplas irregularidades da banca norte-americana. De tal modo foi a recessão que o Petróleo caiu para menos de 50 dólares por barril para retomar pouco depois de forma moderada até ao ultimo Verão. Concomitantemente com os preços acima dos 100 dólares o barril, algumas empresas norte-americanas lançaram-se na exploração dos xistos betuminosos através de uma técnica cara e difícil de exploração horizontal. O custo do petróleo no mercado valia bem o custo de extracção entre 60 e 80 dólares o barril, conforme a zona do Texas e Norte Dakota. Os EUA reduziram em mais 30 por cento a sua dependência do petróleo importado.

A questão de facto deixou de ser na óptica dos sauditas e de muitos analistas a manutenção dos preços do crude acima de 80 dólares por barril, preferencialmente em torno dos 100 dólares, mas uma luta por não perder posições no mercado a favor do crude mais barato vindo do “fracking”. Daí que os países do Golfo, com a Arábia Saudita à frente, empurraram a OPEP para a manutenção da produção actual de 30 milhões de barris diários mesmo a custo quase se não mesmo deficitário para não ceder clientes aos americanos. 

Os países com maiores dificuldades vão manter ou mesmo subir a sua produção baixando eventualmente os preços. E é aqui que a estratégia saudita pode falhar. Arábia Saudita, Kuwait, EAU, dispõem de reservas que lhes permitem manter os correntes níveis de despesa publica e programas sociais vendendo o petróleo a preços de “dumping” (já o fizeram uma vez), contudo outros países como a Venezuela, Nigéria, o Irão, entre ouros, não têm as reservas árabes e têm compromissos externos consideráveis. Mas também aqui surge um factor tradicionalmente imprevisto: a Rússia que, segundo os seus dirigentes e analistas, pode subir a produção de petróleo e gás, descer os preços, conseguir rendimentos próximos dos que tem actualmente, sobretudo após a conclusão do gasoduto chinês. As sanções económicas até agora serviram aos americanos mas comprometeram a retoma europeia e a UE está à beira da terceira recessão em seis anos. Agora que se aproxima o final do ano e as principais economias europeias, com a aparente excepção da Alemanha, apresentam défices superiores ao admissível no tratado do euro e a Alemanha a rever em baixa o seu crescimento, a senhora Merkel, conhecidas as suas boas relações com Putin, pode conseguir tirar um coelho da cartola e a UE dar a volta às sanções de que os americanos pretendem tirar proveito com a exportação para a Europa do seu gás sobretudo se Vladimir Putin baixar os preços. 

A cada 10 por dento de descida dos combustíveis corresponde 0,1 por cento de crescimento económico. Mas o crescimento só ocorre se o mercado quiser comprar. Aí entram de novo os produtores tradicionais que são também os grandes consumidores. O aumento das suas receitas traduz-se num aumento das suas despesas que beneficiam as economias desenvolvidas.

A estratégia saudita pode de facto levar a uma descida de preços do crude que ponha fora do mercado uma parte das empresas do “fracking” todavia é bom não esquecer que também elas constituirão reservas para esta eventualidade que poucos previam.

O preço do petróleo e do gás tornou-se mais um problema geoestratégico do que uma questão de mercado. Os grandes devedores entre os produtores de petróleo, como a Venezuela, da OPEP, ou o México (não OPEP) podem jogar a cartada do incumprimento colectivo ou do dumping. O Irão cujo crescimento estava previsto pelo FMI era de 1,5 por cento este ano e 2,5 por cento em 2015 fica numa situação complicada com os preços do crude abaixo dos 100d dólares e pode achar inútil o diálogo com o Ocidente. Depois vem a Líbia, a retomar a produção, a Argélia, chave para suster movimentos como o autoproclamado Califado da Síria e do Levante ou movimentos desestabilizadores na África Central. 

A estabilidade confusa no mundo desenvolvido pode sê-lo ainda mais se o jogo não tiver regras. Aguentar esta guerra vai implicar sacrifícios de todos os lados a menos que impere o bom senso de fazer contas e encontrar um “break even” que satisfaça toda a gente.  A guerra não é pela obtenção de um preço mas a manutenção de quotas de mercado.

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SER AFRICANO NÃO É CRIME




Como aqui se escreveu, cerca de 40% das Pequenas e Médias Empresas (PME) mundiais não olham para a África como um mercado atractivo, com oportunidade de crescimento e de negócio.

Orlando Castro - Folha 8 Diário, opinião

Razões? O estudo feito pelo pelo The Economist Intelligence Unit (EIU) aponta o baixo consumo médio em África, os desafios culturais e de infra-estrutura, bem como a corrupção e o risco político.

Embora não fale, o principal temor tem a ver com o facto de esta zona do mundo ser habitada por… negros.

Não é assim? Na verdade fico virado do avesso quando, e em Portugal isso é mais do que comum, africano é sinónimo de negro e angolano é sinónimo de empregado da construção civil ou de mulher da limpeza.

Dir-me-ão que não é uma questão de racismo mas, talvez, de ignorância. Na melhor das hipóteses admito que seja uma simbiose das duas.

De qualquer modo chateia ver, por exemplo, uma Comunicação Social supostamente nada racista e intelectualmente válida a confundir a estrada da Beira com a beira da estrada.

Estou farto de, entre dois eventuais autores – um negro e outro branco – de um qualquer crime, o suspeito principal ser sempre o negro. Estou farto dos discursos e das práticas racistas que, depois de tantos anos de democracia, associam a população negra a toda a criminalidade.

Para além de os dados estatísticos da população prisional portuguesa não permitirem tão leviana conclusão, os problemas devem ser analisados não em função da cor mas sobretudo da realidade social, económica, política e cultural em que se inserem.

Por alguma razão Portugal está na cauda Europa e, com a sua manifesta mas não assumida ignorância, contribui para que Angola (por exemplo) esteja (ainda esteja) no estado em que se encontra. Para o bem (de uns poucos comparsas) e para o mal (da grande maioria).

Ao passar a imagem de que africanos só são negros, de que os culpados são quase sempre negros, Portugal corre o sério risco de arcar com o rótulo de – para além de último descolonizador – ser um país racista.

Mas, em Angola passa-se algo de semelhante. Em Portugal sou angolano, em Angola sou português. Ou seja, esteja onde estiver nunca sou o que, de facto, de coração e de alma, sou: Angolano.

Quando digo, e digo sempre que posso, que sou angolano (branco por circunstâncias que nada têm de opção pessoal…), não o faço por inferioridade de qualquer tipo nem por superioridade de qualquer espécie. Digo-o porque o sou e o sinto, sem que isso constitua uma maior ou menor valia. Será difícil entender isso?

E, já agora, continuo sem perceber (será também racismo? Será ignorância?) a razão que leva a Comunicação Social portuguesa a dar mais importância ao que se passa numa qualquer comunidade que nunca ouviu falar de Portugal e da qual os portugueses nada sabem, do que aos países africanos, ditos irmãos, que estão mesmo aqui ao dobrar da esquina.

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São Tomé e Príncipe: Príncipe e a Dupla insularidade – Oportunidade ou Limitação



Danilo Salvaterra – T+ela Nón (st), opinião

Muito se tem falado dos efeitos da “dupla” insularidade da Ilha do Príncipe face às perspectivas de desenvolvimento. É verdade que a insularidade torna difícil ou, mesmo, encarece qualquer medida que vise o desenvolvimento.

Entretanto, e dado que não é possível mudar a Ilha do local onde ela se encontra, partilho convosco o clássico exemplo da  empresa de calçados  que terá enviado dois consultores em prospecção de oportunidades de negócios para um certo país.

O primeiro consultor não encontrou oportunidades alegando que ali as pessoas não usavam sapatos. O segundo comunicou em relatório a existência de óptimas perspectivas de negócios.

Tal como o segundo consultor, mais do que lamentar da insularidade, a governação da ilha deve encontrar vantagens no que aparentemente se apresenta como constrangimentos. A insularidade e a pequenez tanto territorial como populacional da Ilha do Príncipe podem ser as reais vantagens.

Uma vez que não podemos mudar de localização, manda a ousadia e sensatez que entendamos conceitos como vantagens competitivas para delas podermos tirar proveitos. Ter o mar como o vizinho mais próximo, protege-nos de surtos de epidemia ou facilita o controlo. A dimensão reduzida retira-nos qualquer ambição expansionista, logo, ganhamos em capacidades de aceitação em mediação de conflitos.

Reduzida dimensão populacional, facilita-nos nas politicas de educação e erradicação da pobreza. O mar dá-nos, para além da pesca, capacidade de chamar para nós a instalação de institutos de observação marinha. Há um manancial de potencial que essa insularidade nos possibilita.

Gastos em ideias vagas e dogmáticas são soluções custosas que simplesmente tornam-nos mais pobres.

Os recursos que nos são disponibilizados precisam ser geridos e aplicados em soluções ousadas e duradouras. Precisamos olhar para o mar, nosso vizinho mais próximo, e com ele dialogar em nosso proveito. Sonhos pequenos, não nos levam a lado algum.

Ao longo dos tempos, com justificações da insularidade, hoje apelidada de dupla, temos desperdiçado recursos em projectos pequenos e desenquadrados dos desafios do mundo global. São deles exemplo a assumida electrificação, as casas sociais, os centros de saúde comunitários, as construções das “autopistas rurais”, etc.

Precisamos preparar o futuro. O nosso futuro exige um repensar de tudo. Repensar a educação, repensar a saúde, pensar nas cidades e nas pessoas.

Precisam as autoridades do arquipélago entender que o mundo global e competitivo não aceita justificações; logo, se quisermos sobreviver, teremos que imitar os melhores e as boas práticas.

A dupla insularidade é uma bênção de Deus, precisamos de ousadia para dela tirar proveito, sonhando e realizando coisas nunca antes feitas.

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Primeiro-ministro de São Tomé demite mais de 20 diretores da administração pública




O recém-empossado primeiro-ministro de São-Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, demitiu hoje mais de duas dezenas de diretores da administração pública, nomeando os seus substitutos, no final da primeira reunião do conselho de ministros do novo governo.

Entre os diretores demitidos figuram os da Rádio Nacional (RNSTP), da Televisão São-tomense (TVS), da Agencia STP Press, da Empresa de Agua e Eletricidade (EMAE) e da Empresa Nacional de Segurança Aérea (ENANA).

"Não é admissível em democracia que organismos com responsabilidades acrescidas no Estado e na nossa sociedade não prestem contas das suas atividades e desempenho, bem como não é aceitável que funcionários permaneçam nos seus cargos indefinidamente e de modo intocável, sem que sejam inspecionados e avaliados para se aquilatar da sua competência para continuar no exercício do cargo", disse Patrice Trovoada, que tomou posse no sábado, no final da reunião de dois dias do conselho de Ministros.

"É preciso que neste novo ciclo inauguremos uma nova conceção do poder e do seu exercício, que não seja como no passado, focado sobre os "inimigos do povo" e nas dicotomias entre "os puros e os impuros, os genuínos e os adulterados, antipatriotas" e os "patriotas"", afirmou.

O primeiro-ministro são-tomense instou os membros do seu governo a proceder a um inventário "célere mas exaustivo" de todos os atos praticados pelo anterior governo, liderado por Gabriel Costa, que "não correspondem às boas praticas e aos interesses nacionais".

"Primeiro para que sejam devidamente identificados o erros cometidos, segundo para que todos possam compreender exatamente em que condições o XVI governo constitucional assume o comando do país e, sobretudo, para que os mesmo erros não se repitam indefinidamente como se de uma sina de tratasse", disse Patrice Trovoada num "discurso de orientação" aos membros do seu governo.

Patrice Trovoada fez um balanço negativo dos dois anos do governo de Gabriel Costa, sublinhando que "gerou mais atrasos, aumentou a ignorância, fomentou mais ódios, acirrou as incompreensões, agudizou as discriminações".

"Enraizaram-se os ressentimentos, multiplicaram-se as perseguições, tudo para perpetuar o 'status quo', ou seja o subdesenvolvimento do nosso país e o domínio de um punhado de poderosos contra outros", adiantou.

O primeiro-ministro são-tomense considerou que para o êxito da missão do novo governo é necessário que seja instituída a obrigatoriedade das inspeções, avaliações de desempenho e prestações de contas periódicas e generalizadas.

No discurso de orientação politica aos membros do seu governo, Patrice Trovoada lembrou ainda que "o povo espera exemplo, trabalho, verdade, diálogo construtivo, sério e permanente, proximidade e transparência nos atos e resultados".

O novo chefe do governo são-tomense garantiu que quer "pôr fim às perseguições político-partidárias com, por vezes, cumplicidades no sistema judiciários e nas forças de segurança".

"O povo espera que ponhamos fim às querelas interpessoais, às discriminações, à má gestão da coisa pública, ao sectarismo, as injustiças, enfim, que ponhamos fim a corrupção e as desmandos que tomaram conta do nosso país", concluiu Patrice Trovoada.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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