segunda-feira, 20 de outubro de 2014

HISTÓRIAS DO FUTURO (2)



Outono em Madrid

Rui Peralta, Luanda (continuação - ler anteriores)

IV - Existem quatro grandes Federações de Zonas Autónomas: A União das Republicas Bolivarianas da América, a Federação do Caribe, a Federação Verde do Canadá e a União Austral.

A União das Republicas Bolivarianas da América, composta pela Venezuela, Equador, Peru, Chile e Bolívia, para além de parte da Colômbia, partilha o MERCOSUR com a CCI, embora tenha na Colômbia uma situação de guerra generalizada entre a zona bolivariana do país e as áreas dominadas pelos monopólios da CCI (com as quais está em curso um processo de negociação) e pelos gangues da Casa de Narquino, financiadas e suportadas pelos USA. As Republicas Bolivarianas são grandes espaços de liberdade e de igualdade, estados plurinacionais onde convivem, no mais estrito cosmopolitismo e respeito pelas identidades culturais, os povos indígenas da região e os restantes habitantes de origem diversa.

A Federação do Caribe é uma Federação arquipelágica, composta por Cuba, Republica Dominicana, Haiti, Porto Rico. Jamaica, Trinidad y Tobago e Ilhas Caimão. É uma vasta região que vive em estreita colaboração com a União das Republicas Bolivarianas da América e tem um relacionamento pacífico com a CCI. A sua base política é extremamente diversificada, englobando vastas comunidades socialistas e comunistas (em Cuba e Porto Rico), enclaves verdes social-democratas (Republica Dominicana e Trinidad y Tobago) eco-socialistas e de culturas alternativas (Jamaica, Ilhas Caimão e Haiti). As restantes ilhas do Caribe são bases da CCI, da U.E (caso das Bahamas) ou dos USA. 

A Federação Verde do Canadá é um enclave verde, que para além do Canadá anglo-saxónico engloba a Republica Socialista do Quebeque. É um espaço pluridimensional onde convivem, em regime comunitário diversas comunidades socialistas, verdes, anarquistas e libertárias e uma das áreas de abastecimento dos nómadas, que ali implementaram bases logísticas (as restantes localizam-se no Caribe e na Austrália).

Na União Austral - formada pela Austrália e Nova Zelândia - coabitam as comunidades aborígenes e maoris, com enclaves socialistas libertários e de culturas alternativas. Sidney é um enclave eco-socialista, em reconstrução, pois as lutas contra os gangues da Casa Amarela assumiram grandes proporções, assim como em Adelaide, uma comunidade de culturas alternativas. Na Nova Zelândia as comunidades maoris e as comunidades eco-socialistas e alternativas assumem a gestão dos seus espaços. Foram os neozelandeses a manterem o suporte logístico às comunidades australianas durante o longo período de conflito com os gangues, na Austrália, antes da formação da União.        

V - A América Central caiu nas mãos dos gangues e tanto as zonas autónomas, como as dos monopólios foram aniquiladas, sendo as suas populações exterminadas ou escravizadas, para serem usadas nas plantações de coca e marijuana, ou trabalharem nas minas. O Panamá é controlado pela Casa de Narquino (gangue colombiano), a Costa Rica, Guatemala e Salvador, pelos Consórcios da Família Centro-América, sendo os restantes territórios palcos de uma guerra interminável entre gangues mexicanos, russos, brasileiros e chineses.

A mesma situação é vivida em parte da Ásia, como as Filipinas, Indonésia, Nova Guiné Malásia e Tailândia, inteiramente nas mãos dos gangues da Casa Amarela. A Indochina, Coreia Unificada e Japão pertencem á CCI, por pressão de Pequim, que logo depois do Grande Colapso e em colaboração estreita com a Federação Russa, tomaram uma posição de força e ocuparam militarmente estas áreas.

O Japão é hoje uma Republica e Tóquio uma grande Zona Económica Exclusiva da CCI. O Imperador e respectiva família foram assassinados durante o Grande Colapso e as forças de ocupação da CCI eliminaram as bolsas de resistência. Grande parte da classe politica e empresarial japonesa receberam os chineses e os russos de braços abertos, porque a invasão era a única garantia de estabilidade do país. A CCI eliminou toda a concorrência dos gangues no país.

A Indochina e a Coreia Unificada, foram integradas na CCI, de forma pacífica e a pedido dos próprios governos, que no caso da península indochinesa estavam ameaçados pelos gangues da Casa Amarela. A Coreia Unificada fez uma adesão absolutamente consensual e é hoje uma das principais zonas administrativas dos monopólios do Capitalismo BRICS.

VI - A vida nos Sovietes e zonas piratas é complicada, pois implica um estado de alerta permanente, embora muito mais saudável do que viver na putrefacção alienante dos monopólios ou ser escravo de gangues. O Soviete de Numancia, por exemplo, tem os serviços comunitários essenciais á sobrevivência, como a água, energia e saneamento básico, clínicas, um hospital, um centro politécnico (lembro que nos Sovietes e nas zonas piratas não existem crianças) serviços de limpeza geral para os espaços públicos, sistemas de manutenção geral, de comunicação e transportes, serviços farmacêuticos e outros.

Todos os dias estão abertos, a qualquer hora, teatro, cinema, concertos, espectáculos de rua, performances artísticas e cada quarteirão está equipado com uma galeria de arte. Meetings, palestras e conferências são um hábito nos grandes espaços do Soviete. Imensas bibliotecas locais, para alem das inúmeras digitais, espaços verdes e grandes áreas de exercitação física, áreas para meditação e espaços de reflexão (construídos a partir das igrejas), constituem parte da elevada qualidade de vida neste Soviete.

Existem alguns problemas com a alimentação, pois os monopólios bloqueiam constantemente as linhas logísticas, o que cria inúmeras dificuldades no abastecimento de bens alimentares. Para superar este problema, foi criado um imenso parque de contentores frigoríficos, onde os bens alimentares e perecíveis são armazenados. Grande parte destes bens é transaccionada pelos nómadas e pelas suas inúmeras redes de trocas de mercadorias e bens culturais.

O Soviete de Numancia é uma zona de trabalho-zero, ou seja, aqui não existem funções laborais, para além das necessárias ao funcionamento do Soviete. Desenvolvem grandes processos de automação e tem um centro cibernético e de investigação energética. Como não é uma zona ecologista, utiliza gasóleo, gasolina, petróleo e urânio, para além da rede solar, hidráulica, eólica e os biocombustíveis. Desenvolve processos diversos na robótica e nanotecnologia, o que conseguem graças aos sucessivos ataques e assaltos que efectuam aos laboratórios dos monopólios, instalados em Madrid.

Decorrem negociações com um grupo de nómadas que pretende sedentarizar-se no Soviete. São judeus e pretendem estabelecer um kibutzin em Numancia. Há espaço mais do que suficiente para a instalação do kibutzin e todas as comunidades do Soviete são favoráveis á sua instalação. Os kibutzes são eco-socialistas e dominam as técnicas de agricultura biológica, criação de animais e de energia solar e eólica, para além dos seus conhecimentos na utilização da biomassa, não só para fins energéticos, mas também alimentares e na farmacologia. Outro grande contributo dos kibutzes é a sua vasta experiencia nas redes de distribuição e logística, alem de proporcionarem uma maior afluência de nómadas, principalmente os de origem tuaregue e berbere, que lidam com a comercialização de armas, equipamentos militares e munições, o que deixará o Soviete em condições de empreender a formação de uma Republica, pois poderá escorraçar os monopólios da UE instalados nas zonas limítrofes e juntarem-se a duas ou mais zonas autónomas adjacentes.

Os mais velhos poderão não ir a tempo de participar nesses acontecimentos, pois aproxima-se a idade de serem acolhidos numa Republica. Geralmente, os do Soviete de Numancia, passam os restos dos seus dias, tranquilamente, na Republica Livre de Hortaleza, uma zona de trabalho-zero e um mercado alternativo, ponto de encontro dos nómadas. Aí contactam os filhos e familiares, que habitam em diferentes zonas (No meu caso tenho família no Soviete de Lisboa, na Federação do Caribe, na Republica Verde de Fuencarral-El Pardo, no Soviete de Legazpi e na zona pirata de Goya e um parente nómada, do grupo judeu-palestiniano Diáspora Vermelha). Nos Sovietes as famílias reúnem-se uma vez por ano, quanto muito e quando as circunstancias o permitem, mas os mais velhos já não têm a agilidade suficiente para visitar Sovietes ou zonas piratas.
        
VII - Ainda não vos descrevi a actual situação em África, continente re-colonizado e completamente destroçado, onde foram cometidos, depois do Grande Colapso as maiores barbaridades, que fazem parecer grandes tragédia humanas (o comércio de escravos, o Holocausto, Gaza, Ruanda, Arménia, Curdistão e inúmeras outras) a infelicidades menores.

O norte de África, após o Grande Colapso (que sucedeu a um período que começou como Primavera e que acabou como um Inverno Gelado), sofreu imensas alterações. Da Mauritânia ao Egipto, passando por Marrocos, Argélia, Líbia e Tunísia, toda a região litoral, atlântica e mediterrânica (que engloba todo o Magreb) é uma vasta área periférica da U.E. Mas é a única, para além da África do Sul, Lesoto, Botswana, parte da Zâmbia, Namíbia e Zimbabwe, que possui habitantes. O resto da população africana desapareceu devido às epidemias que atacaram o continente pouco antes do Grande Colapso (e que, segundo alguns autores, foram factor de aceleração deste processo).

Toda a vida, animal e vegetal, morreu, em menos de dois anos. A OMS foi incapaz de dar uma resposta perante a rapidez das sucessivas epidemias que afectaram o continente, dizimando milhões de seres humanos e todo o património biológico africano. As áreas que sobreviveram foram divididas entre a U.E. e a CCI. O resto do continente é um imenso deserto, atravessado por ventos fortíssimos e por vagas de calor que atingem os setenta graus, no pico solar. É um continente inóspito, onde apenas as plataformas petrolíferas e a actividade mineira prevalece como marca humana.

Os monopólios reagiram de imediato às epidemias, que afectaram a sua actividade. Os trabalhadores empregues pelos monopólios da U.E, dos USA e da CCI, são técnicos altamente especializados, que sujeitam-se á manipulação genética para serem imunes às epidemias e melhor se adaptarem ao calor do deserto em que o continente africano tornou-se.

Os rios secaram e as reservas aquíferas, imensa riqueza de África, foram contaminadas pelas bactérias e vírus fatais. Os monopólios chineses ainda tentaram as técnicas de purificação de água, mas depois das descobertas realizadas nos laboratórios russos e brasileiros, que desenvolveram processos industriais, extremamente baratos, de fabricação de água potável, os projectos de purificação das reservas aquíferas foram abandonados, devido aos seus elevados custos.

A CCI estende os seus domínios no continente em toda a faixa litoral Atlântica da África do Sul e a todo o litoral Indico até Nairobi. Não tem mais de dez milhões de habitantes, em toda esta extensão. Acima de Nairobi não existe actividade humana. Quanto á U.E. controla o litoral do Norte de África e o litoral atlântico até Angola. Toda esta região continental litoral não tem mais de quinze milhões de habitantes. As ilhas africanas do Atlântico são controladas pela U.E e as do Indico pela CCI. A presença dos USA apenas se faz sentir nos acordos existentes com a U.E e a CCI, nos sectores petrolíferos e diamantíferos, ficando completamente afastados dos restantes sectores mineiros (ouro, urânio, quartzo, etc.)  

A Grande Calamidade Africana (como ficou conhecida esta tragédia) afectou o clima mundial e todo o ecossistema global, passando a existir apenas uma estação seca e fria e outra quente e húmida (muito chuvosa), a nível global. Os níveis de água do mar subiram mais de seis metros, nos últimos anos e grande parte das cidades ficaram submersas ou foram reconstruídas noutros pontos (principalmente na U.E. e na CCI, que aproveitaram a subida do nível do mar para relançarem a actividade económica e construírem grandes centrais de energia das marés nas zonas ribeirinhas).

É curioso que a subida do nível do mar, apesar de ter afectado todo o mundo, acabou por constituir uma tábua de salvação para as economias profundamente debilitadas (mas implicou o desaparecimento de muitas nações e estados arquipelágicos), não só em termos de reconstrução e de obras públicas, como também em termos de relançamento da exploração dos recursos pesqueiros e marítimos e com especial enfoque no sector energético. Países inteiros, na U.E e na CCI foram transformados em grandes centrais geradoras de energia e muitos deles estenderam as suas cidades para as áreas submarinas e para as ilhas artificiais. Largos milhões de pessoas vivem, actualmente, da produção de energia proporcionada pelo mar (ondas e marés, embora existam tecnologias relacionadas com o aproveitamento das correntes submarinas).

Os USA perderam mais de um terço do seu território, para o mar, mas ganharam grandes balões de oxigénio para a sua economia. O mesmo se passou na Ásia, onde até os gangues souberam aproveitar a subida do nível de água do mar e mantêm em funcionamento grandes centrais de energia.

VIII - A formação do Soviete de Numancia, foi consequência de uma terrível e prolongada batalha, levada a cabo quarteirão a quarteirão e na fase mais critica, edifício a edifício e que destruiu grande parte de Numancia. Tudo começou em 2015, com as grandes movimentações de ocupação, contra o desemprego, o mercado de habitação e os cortes orçamentais na saúde e na educação. O governo espanhol, sob forte pressão interna e externa, reagiu de forma brutal e a Guardia Civil fez mais de trezentos mortos e dois mil feridos, para além de cinco mil detenções.

Perante tal demonstração de força o movimento popular alterou as suas formas de luta e após grandes discussões sobre a forma de actuação, surgiram grupos que optavam por acções armadas e directas. O primeiro deles foi a Guarda Vermelha ainda nesse ano e em 2017 surgiram os Núcleos Proletários Armados, a Resistência Popular, as Células Piratas, a Legião Vermelha, a União Nómada e a Vanguarda Libertária. Em paralelo foram criados cibercomandos, como os Comandos Libertários, a Linha Vermelha, o Olho do Pirata, a Democracia Directa, o Democracia Digital e a Causa Pública.

Tudo isto foi acompanhado por uma radicalização na actuação dos novos dirigentes sindicais, que romperam com as anteriores estruturas. Em simultâneo e á margem deste processo surgiram Conselhos Operários e as mais diversas associações de trabalhadores e desempregados, rurais e urbanos. Em 2019, todos estes grupos, associações, cibercomandos, conselhos, comissões e sindicatos, decidem criar uma Junta de Coordenação e uma Assembleia Popular. Um ano depois as ruas de Madrid foram ocupadas de forma pacífica. O governo espanhol e as autoridades da cidade, por ordem dos monopólios, enviaram as suas novas forças de segurança (forças privadas, uma vez que a Policia e Guardia Civil tinham sido extintas, em função dos cortes orçamentais, que inclusive provocaram uma redução substancial dos efectivos militares, passando o sector privado a assumir grande parte das funções de segurança e defesa).

Os confrontos iniciaram-se e numa primeira fase as forças de segurança pareciam ter a situação sob controlo. Mas depois começaram a ser erguidas barricadas e iniciaram-se os atentados com carros armadilhados. O terror espalhou-se nas forças de segurança e ao fim de duas semanas de campanha, já tinham morrido cerca de mil mercenários, para além do enorme número de feridos.

O governo espanhol decidiu-se pela intervenção militar e quando chegaram os primeiros soldados, a Junta Coordenadora optou por um ataque intenso às colunas militares. Com a infantaria e a cavalaria impossibilitadas de passar e a sofrerem enorme pressão, o Estado-maior governamental opta pelos bombardeamentos com artilharia pesada. Estes bombardeamentos foram de tal modo intensos que obrigaram ao recuo das forças revolucionárias. O Exército avançou e ocupou as zonas principais de Madrid, assumindo o controlo da situação. Foi nesta fase que foram iniciados os combates pelo controlo dos edifícios e depois quarteirão a quarteirão. Os cibercomandos tinham conseguido isolar e manipular as comunicações do Exército e ao fim de intensos combates os soldados começaram a render-se ou a abandonarem as suas fileiras. Os combates, edifício a edifício, provocaram imensas baixas. Os feridos das forças revolucionárias eram transferidos para áreas seguras, onde os médicos da Federação do Caribe, que cumpriam serviço solidário, estavam estacionados. 

Madrid optou pelas negociações, oferecendo tréguas, o que permitiu que a insurreição procedesse a medidas de implementação nas zonas insurrectas. Estávamos no auge do Grande Colapso e tanto nós como os monopólios tínhamos de fazer frente aos gangues que assolavam toda a região. O combate aos gangues tornou-se prioritário para ambos os lados e as tréguas foram-se prolongando, mesmo sem haver continuidade nas negociações, até chegarmos á actual situação, caracterizada por uma guerra secreta entre monopólios e zonas autónomas, mas marcada frequentemente pela continuidade de negociações.

X - Recordo-me de um grupo invulgarmente numeroso, composto por cerca de duzentas pessoas (os grupos nómadas mais populosos não passavam de oitenta elementos), que chegou a Numancia. Deduzi que fossem uma coligação de duas ou três comunidades nómadas, mas os responsáveis do grupo explicaram-me que a sua comunidade era apenas composta por cerca de sessenta elementos, sendo os restantes refugiados que estavam aprisionados no Senegal e que foram libertados devido a um ataque efectuado pelos nómadas em Dakar.

Segundo os líderes nómadas, os monopólios da U.E. estavam a criar grandes colónias penais e centros de detenção no Senegal e em Conacri. Para esses centros iam os detidos vindos de varias zonas de África e também nómadas berberes, tuaregues, judeus e palestinianos, capturados pelas companhias de segurança. Os nómadas responderam com uma coligação de comunidades e assaltaram Dakar, destruindo por completo as instalações de segurança e assegurando as rotas vitais para o Centro e Sul do continente africano. Os refugiados que foram libertados pelos nómadas foram enviados para os centros clínicos do Soviete. Hoje fazem parte de uma brigada logística, que foi criada por eles, responsável pelos contactos com os nómadas e pelo seu acompanhamento, nas áreas do Soviete. 

XI - Amanhã partirei para Hortaleza. Fui, finalmente, reformado.

Imagem: Pablo Picasso

Hong Kong: Movimento pró-democracia nega a realidade, a presença de “forças externas”




Líderes de movimento pró-democracia negam interferência de "forças externas"

20 de Outubro de 2014, 20:22

Hong Kong, China, 20 out (Lusa) -- Os líderes do movimento pró-democracia negaram hoje com veemência as declarações do chefe do executivo de Hong Kong, que afirmou que "forças externas" estariam a orquestrar as manifestações em massa.

Num programa de televisão emitido no domingo à noite, o responsável pelo executivo de Hong Kong, CY Leung, culpou as forças estrangeiras pelos protestos em curso na cidade chinesa, mas recusou-se a identificá-los.

As declarações de Leung foram consideradas ridículas pelos líderes do movimento, que insistiram que este foi criado pela necessidade dos habitantes locais por mais liberdades democráticas e pelo crescente descontentamento em relação à desigualdade.

"Os meus vínculos com os países estrangeiros estão limitados ao meu telemóvel coreano e ao meu Gundam (uma série animada com robôs) japonês. E claro todos estes são `Made in China´", disse no domingo, pela rede social Facebook, um dos líderes do movimento, o jovem Joshua Wong.

Cláudia Mo, uma proeminente advogada pró-democracia, acusou o governo de táticas de difamação.

"Não podem sucumbir aos manifestantes e dizer `nós talvez devêssemos fazer concessões?´, mas ao invés disso, tentam denegrir e manchar o movimento. Isto está tudo muito sujo", disse Cláudia Mo à agência francesa AFP.

A imprensa estatal chinesa tem, repetidamente, alegado que "forças anti-China", como os Estados Unidos, estão a manipular os manifestantes, e Pequim já advertiu para não a não-ingerência estrangeira nas manifestações que considera um assunto interno.

CY Leung voltou também a sublinhar que o movimento pró-democracia está "fora de controlo" e pediu uma "solução sensata e pacífica".

Milhares de pessoas em Hong Kong estão na rua pela quarta semana consecutiva, num protesto que visa conseguir o voto direto e universal dos eleitores na escolha do líder do Governo sem qualquer entrave ou pré-escolha por parte do comité eleitoral, um órgão em que a China acaba por conseguir o poder de seleção.

CSR // VM

Supremo Tribunal dá razão a empresas de transportes e proíbe manifestações

20 de Outubro de 2014, 22:19

Hong Kong, China, 20 out (Lusa) -- O Supremo Tribunal da Região Administrativa Especial chinesa de Hong Kong emitiu hoje uma medida cautelar que proíbe a ocupação da zona de Mong Kok, local das concentrações pró-democracia, há 23 dias.

A ordem judicial foi tomada na sequência de queixas interpostas por operadores de transportes públicos de Hong Kong para que as ruas, que foram tomadas pelos manifestantes, recuperem a normalidade.

De acordo com a agência de notícias oficial da República Popular da China, Xinhua, o advogado que representa as empresas afirmou que as manifestações estão a provocar sérios prejuízos a companhias de táxis e de autocarros.

Milhares de pessoas em Hong Kong estão na rua pela quarta semana consecutiva, num protesto que visa conseguir o voto direto e universal dos eleitores na escolha do líder do Governo sem qualquer entrave ou pré-escolha por parte do comité eleitoral, um órgão em que a China acaba por conseguir o poder de seleção.


PSP (CSR) // EL

*Titulo PG

Timor-Leste espera reforçar relações com a Indonésia sob o governo de Jokowi




Jacarta, 20 out (Lusa) - Timor-Leste espera um reforço das relações com a Indonésia durante o mandato do novo Presidente, apesar de Joko Widodo, conhecido como Jokowi, ter "uma política mais voltada para dentro", disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, Constâncio Pinto.

Após dez anos da presidência de Susilo Bambang Yudhoyono, que a 10 de outubro foi considerado o "melhor amigo do povo de Timor-Leste" pelo primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, a Indonésia entrou hoje num novo ciclo de governação, com a tomada de posse do primeiro Presidente do país que não faz parte da tradicional elite política.

"Esperamos que as nossas relações de amizade continuem e fortifiquem cada vez mais", disse à Lusa o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, após participar na cerimónia de tomada de posse em Jacarta, acompanhando o Presidente timorense, Taur Matan Ruak, que recusou prestar declarações.

Constâncio Pinto acredita que "a política mais para dentro do país" traçada pelo novo Presidente "não vai afetar muito" as relações bilaterais.

Ainda assim, defendeu que poderá será necessário um trabalho de "compreensão mútua" e de aprendizagem "sobre a questão de Timor-Leste" com o novo governo indonésio, cuja composição só será revelada amanhã.

O governante afirmou esperar também que, durante o mandato de Jokowi, a Indonésia continue os esforços para promover a entrada de Timor-Leste na Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e que seja possível "chegar a um acordo" quanto à parcela de um a dois por cento de fronteira terrestre que ainda está por resolver antes de discutir as fronteiras marítimas.

Já Cillian Nolan, diretor adjunto do Instituto de Análise Política de Conflitos (IPAC, na sigla em inglês), antecipa que "Timor-Leste será menos prioritário em Jacarta", mas que "as relações calorosas" e "o sentimento de orgulho na relação bilateral ativa e construtiva desenvolvida" entre os dois países permanecerão.

Cillian Nolan, que já trabalhou em Díli como analista, sublinhou que Jokowi e o seu vice-presidente, Jusuf Kalla, não têm uma relação tão próxima com a nação mais recente do Sudeste Asiático como a de Susilo Bambang Yudhoyono, localmente conhecido como SBY.

O ex-Presidente "serviu lá durante a carreira militar, teve um papel importante de coordenação do Ministério dos Assuntos de Segurança em 2001-2002 quando Timor-Leste estava a tornar-se totalmente independente e foi instrumental na criação da Comissão de Verdade e Amizade, que mais tarde ajudou a consolidar as relações bilaterais", justificou.

Na visão do especialista, é igualmente esperada "uma diminuição dos esforços ativos para promover a entrada de Timor-Leste na ASEAN" por parte de Jacarta, embora esse passo seja encarado "como algo do seu interesse", dado que a Indonésia quer ter um "vizinho estável e próspero".

Por seu lado, Meidyatama Suryodiningrat, chefe de redação do jornal indonésio The Jakarta Post e comentador de política externa, entende que se as relações "muito boas" entre os dois países "mudarem, só poderá ser para melhor", embora apresente outrossim dúvidas quanto à atenção que Jacarta colocará na entrada de Timor-Leste na ASEAN.

No primeiro discurso enquanto Presidente da Indonésia, Jokowi sublinhou que o país vai continuar a apostar numa política externa "livre a ativa" e defendeu que chegou a hora de deixar de negligenciar os mares e de regressar ao princípio "Jalesveva Jayamahe" ("No mar vamos triunfar").

Meidyatama Suryodiningrat prevê que a diplomacia e a segurança indonésias passem a concentrar-se sobretudo no mar, sublinhando que "houve uma falta de atenção quanto aos assuntos marítimos no passado".

Depois de 24 anos de ocupação que culminaram com a independência de Timor-Leste, a 20 de maio de 2002, as autoridades de Díli e Jacarta têm estabelecido fortes relações diplomáticas e de cooperação em várias áreas.

AYN // PJA - Lusa

PRESIDENTE DA INDONÉSIA TOMA POSSE COM APELO À UNIDADE




Jacarta, 20 out (Lusa) -- Joko Widodo, o primeiro Presidente da Indonésia sem laços com o regime do ex-ditador Suharto, tomou hoje posse, com uma apelo à unidade e a ambição de reformar a primeira economia do Sudeste Asiático.

"A unidade e o trabalho conjunto são para nós condições prévias para se ser uma grande nação", declarou Joko Widodo, conhecido como Jokowi, que sucede a Susilo Bambang Yudhoyono, no poder durante 10 anos.

Widodo tem como desafio um parlamento controlado maioritariamente pela oposição, agrupada numa coligação liderada pelo seu rival nas eleições presidenciais, o ex-general Prabowo Subianto.

"Não nos tornaremos uma grande nação se estivermos enredados em divisões. Este é um momento histórico para todos avançarmos juntos, para trabalhar e trabalhar", disse no discurso de tomada de posse.

Três meses depois da sua eleição, o antigo governador de Jacarta prestou juramento durante uma cerimónia no Parlamento, na presença de numerosos dignitários estrangeiros, entre os quais o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

Milhares de pessoas saudaram depois o Presidente e vice-presidente, Jusuf Kalla, enquanto estes percorriam de coche a distância até ao Palácio Presidencial.

Mais de 24.000 polícias foram destacados para a ocasião da transferência de poderes, que é assinalada à noite com um concerto de rock "heavy metal", do qual Jokowi é fã.

O novo chefe de Estado, de 53 anos, assume a presidência após uma fulgurante carreira política iniciada em 2005 e impulsionada pelo seu estilo próximo das pessoas e por uma imagem de líder honesto e eficiente.

Durante a campanha, Widodo prometeu lutar contra a corrupção endémica e reduzir a pobreza, suscitando muita esperança no país de 250 milhões de habitantes, repartidos por 17.000 ilhas, dos quais perto de 40 por cento vivem com menos de dois dólares por dia.

Rica em recursos naturais como o cobre, ouro e madeira, a Indonésia é a 16.ª economia do mundo, mas o crescimento superior a cinco por cento nos últimos anos tem vindo a desacelerar.

Widodo deve anunciar o seu gabinete durante a semana.

PAL // PJA - Lusa

Indonésia lança mega-projeto para impedir inundações em Jacarta




Jacarta, 20 out (Lusa) - As autoridades da Indonésia decidiram construir um mega-projeto de uma cidade offshore ao longo da costa de Jacarta, que servirá para travar as inundações na capital do país e ainda para modernizar e descongestionar a cidade.

A primeira fase do projeto, iniciada na semana passada e que deverá estar concluída em 2025, passa por melhorar os diques costeiros já existentes e por construir uma estrutura de 32 quilómetros e 17 ilhas artificiais na baía de Jacarta.

Na segunda fase, que poderá demorar décadas, será desenvolvida a zona com cerca de 4000 hectares, criando portos, um aeroporto, espaços para transportes públicos terrestres e uma estrada para ligar as zonas a oeste e a este de Jacarta e descongestionando, assim, uma cidade onde habitam 13 milhões de pessoas.

A estrutura, em forma da águia Garuda, uma personagem da mitologia indonésia, incluirá ainda zonas residenciais para mais de 1,5 milhões de pessoas, áreas industriais e de negócios e ainda espaços verdes e de lazer, que escasseiam em Jacarta.

A "Grande Garuda" inclui um enorme reservatório entre o muro e as ilhas, onde a água das chuvas ficará armazenada, evitando assim inundações na cidade.

O projeto, orçado em cerca de 31 mil milhões de euros, envolve ainda a limpeza dos rios, muitas vezes usados como fontes de água pelas comunidades mais pobres.

Em declarações à agência Lusa, Victor Coenen, da consultora holandesa Witteveen+Bos, que concebeu o plano diretor do projeto, destacou que, apesar de a construção de muros gigantes junto a cidades costeiras não ser uma novidade, "a integração de todos estes aspetos num projeto" desta natureza e dimensão nunca foi realizada.

Algumas zonas da costa norte de Jacarta, construída sobre argila mole, estão a afundar 14 centímetros por ano e as autoridades receiam que até 2030 metade de Jacarta fique debaixo de água.

Em 2007, um dos piores anos de que há registo, as cheias provocaram 76 mortos, 590 mil refugiados, doenças em, pelo menos, 190 mil pessoas e prejuízos na ordem dos 426 milhões de euros.

Victor Coenen entende que a construção de um muro gigante é a única solução para cidades à beira da água onde as cheias são frequentes e onde não é possível "parar o afundamento do solo", como é o caso de Jacarta.

Embora garantindo que os riscos técnicos são "bastante limitados", Victor Coenen alertou que esta obra tem "muitos riscos", por isso, aconselhou a contratação dos melhores especialistas do mundo e uma gestão que garanta "que todo o dinheiro chega no momento certo e é gasto de forma adequada".

A conclusão de uma infraestrutura desta dimensão gera dúvidas entre a população, sobretudo depois de o projeto da construção de um sistema de transporte público por monocarril na cidade ter sido posto em causa por casos de corrupção.

Em resposta às preocupações das comunidades piscatórias residentes junto à costa de Jacarta que serão prejudicadas durante a implementação do projeto, Victor Coenen disse que 17 por cento da área de construção da "Grande Garuda" destinar-se-á às comunidades de pescadores e às pessoas com baixos rendimentos.

AYN // PJA - Lusa

Portugal: OE – O TOQUE DE FINADOS


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Tomás Vasques – jornal i, opinião

No demais, as propostas orçamentais do governo merecem uma sonora gargalhada, evitada apenas pelos sofrimentos que vão ampliar

A agonia do governo é um facto evidente. Já aqui o escrevi mais do que uma vez. E se dúvidas houvessem, estas ficaram dissipadas com a proposta de Orçamento do Estado para 2015, apresentada pela senhora ministra das Finanças, com indisfarçável, mas despropositada euforia, como se estivesse num copo d' água. Quando apenas anunciava, afinal, mais um aumento da carga fiscal, encoberto num imenso rol de falácias e de enganos. Esta proposta de Orçamento (bem como o "experimentalismo" que envolveu a sua discussão, os golpes e contragolpes entre os parceiros da coligação, e o tom festivo com que foi apresentada) não é só um exercício de irresponsabilidade e demagogia. É, definitivamente, o toque de finados de um governo há muito tempo à deriva, ainda a sobreviver com a respiração boca a boca de Belém.

Vamos por partes. Lembremos, em primeiro lugar, aos mais distraídos que, desde o primeiro momento, este governo optou por ir para além do memorando inicial da troika. As consequências dessa opção, feita em parte por razões ideológicas, e noutra parte por servilismo a Berlim, foram desastrosas. O memorando inicial da troika parece hoje um "suave" conjunto de medidas de austeridade, comparado com a calamidade que se abateu sobre os portugueses nestes últimos 3 anos. Desde o início de 2012 que o governo deixou de estar confrontado com a situação que tinha herdado. Passou a estar confrontado com a situação que, irresponsavelmente, tinha provocado na economia. Lembramo-nos, certamente, do cândido espanto de Vítor Gaspar perante o desemprego a crescer em flecha. Ou que o previsto na cartilha da troika era o défice orçamental atingir os 3% no final do ano passado, quando no final deste ano ainda vamos estar acima dos 4%. Aliás, Portugal foi o país intervencionado onde as previsões do défice orçamental mais falharam. O pornográfico aumento da carga fiscal, o permanente ataque aos salários dos funcionários públicos e às pensões de reforma, a saída do país de muitos milhares de jovens, a deterioração da Administração Pública, em geral, e da Educação Pública, em particular, a dimensão da pobreza que por aí crassa não eram uma inevitabilidade que resultasse do passado. São sobretudo as consequências das opções deste governo.

O inquérito do INE às Condições de Vida dos Portugueses, mesmo desactualizado (já há mais um ano e meio de empobrecimento notório), dá a medida dos efeitos das opções deste governo: a população na pobreza absoluta cresceu quase 30% de 2011 para 2013; 1 em 4 portugueses vive em "privação material", segundo a classificação estatística, o que significa, em linguagem corrente, na miséria. Perante este quadro, o governo propõe aliviar os impostos sobre as empresas, beneficiando os grandes grupos económicos, e - pasme-se - limitar as prestações sociais de base não contributiva que aliviam os mais necessitados. E, como diz a própria ministra das Finanças, com esta receita "vamos levar 10 anos até voltar à normalidade".

Ademais, as propostas orçamentais do governo merecem uma sonora gargalhada, evitada apenas pelos sofrimentos que vão ampliar. A deriva é tal que até a vergonha se perdeu: o exemplo paradigmático é a proposta de aumento de 864 milhões de euros nas despesas dos gabinetes ministeriais, enquanto são retirados 700 milhões de euros na Educação. O emaranhado de alterações ao IRS são, no geral, um engodo, que vai aumentar a receita deste imposto em vez de a diminuir. A cereja em cima do bolo ficou reservada, como mais uma anedota de campanha eleitoral, para a contribuição extraordinária: cobramos agora e, se cobrarmos mais impostos do que o previsto, devolvemos em 2016. Primeiro, exageraram o crescimento económico e as previsões de receitas para que isso não aconteça; segundo, sabem que não estão no governo em 2016. O guião é o mesmo da última campanha eleitoral: garantir a uma adolescente de Vila Franca de Xira que não haveria cortes no subsídio de férias e de Natal dos seus pais.

Como diria Eça de Queirós: "sobre a nudez crua da verdade, o manto diáfano da fantasia". Este governo anda a vender "relíquias da Terra Santa" fabricadas em série nas oficinas neoliberais dos corredores de São Bento.

Jurista. Escreve à segunda-feira

Portugal: Passos elogia Crato à margem dos apupos que ambos receberam em Forjães



MARGARIDA GOMES - Público

Primeiro-ministro, acompanhado pelo ministro da Educação e Ciência, inaugurou o Centro Escolar de Forjães, em Esposende, frequentado por cerca de 180 crianças do pré-escolar e primeiro ciclo. Os manifestantes ficaram à porta.

O primeiro-ministro e o ministro da Educação e Ciência foram esta segunda-feira alvo de vaias e apupos por parte de sindicalistas, alguns professores e estudantes, à entrada do Centro Escolar de Forjães, no concelho de Esposende, que seria inaugurado pouco depois. Mas na cerimónia, Passos Coelho preferiu elogiar Nuno Crato, mesmo confessando que este tinha posto o seu lugar à disposição.

O primeiro a Forjães chegar foi o ministro da Educação, que foi recebido com uma enorme vaia pelos populares, mas a o protesto maior aconteceu quando o primeiro-ministro saiu do carro. Os manifestantes, que se encontravam a cerca de uma centena de metros da escola, perante o olhar atento de dezenas de agentes policiais, gritaram "demissão", "demissão", palavras de ordem misturadas com as sonoras buzinas que muitos deles traziam.

Passos ignorou os apupos e dirigiu-se a um grupo de crianças bem pequenas do pré-escolar que o esperavam para cantar. Mas os protestos eram tão estridentes que quase abafaram as canções que os mais pequenos entoavam com alguma timidez.

O primeiro-ministro trocou depois algumas palavras com os mais pequeninos e entrou na escola para presidir  à inauguração do centro escolar, que se encontra a funcionar desde o início do ano escolar. Indiferentes à cerimónia, os manifestantes continuavam a lançar palavras de ordem e a exibir cartazes e bandeiras vermelhas da CGTP-IN. "Passos escuta o povo está em luta", gritavam.

Lá dentro, Passos Coelho quis deixar claro o apoio ao seu ministro: "Foram tempos conturbados e o senhor ministro da Educação pôs o seu lugar à disposição", disse, reconhecendo publicamente que Crato chegou a pedir a demissão do cargo na sequência dos problemas do arranque do ano lectivo, com a colocação de professores. 

Mas Passos deixou claro que não a aceitou: "[Nuno Crato] nunca evitou agarrar o problema [...], o que significa que acertei quando o escolhi para ministro da Educação", frisou o primeiro-ministro.

Durante todo o tempo, tanto perante os protestos como na cerimónia de inauguração do centro escolar, Nuno Crato manteve-se impávido. E nenhum dos dois falou aos jornalistas.

E VIVA O CHERNE!



Alberto Castro, Londres

Por mais que não simpatize com ele (suas políticas) não posso deixar de reconhecer naquele a quem Mário Soares etiquetou de ''cherne de águas profundas'' a marcação de uns pontos na minha consideração. Poucos são os políticos europeus com coragem suficiente para dizer na cara dos britânicos que a sua influência na política global seria ZERO fora da UE. Disse-o sem observar princípios sensíveis da diplomacia, não como português (julgo que não se atreveria) mas na qualidade de presidente cessante da Comissão Europeia, frisando fazê-lo sem problema porque agora sentia-se um ''homem livre''.

A bravata aconteceu no influente programa televisivo matutino dominical de análise política da BBC, ''The Andrew Marr Show'', conduzido pelo jornalista do mesmo nome, antigo editor de política da emissora. Dizer na cara dos brits, orgulhosos de resquícios do seu império como a Commonwealth e sendo ainda um dos cinco países com assente permanente no Conselho de Segurança da ONU, que são insignificantes fora da UE é arranjar bronca da forte.  

Durão Barroso falou ainda sobre o polêmico tema da imigração urgindo políticos britânicos pró-Europa a ter um discurso mais positivo sobre o assunto e a fincar a inegociabilidade do principio de livre circulação de pessoas e bens no espaço comunitário que o Reino Unido quer limitar. Disse ainda que não serão aceites por Bruxelas as propostas dos Conservadores visando a criação de um teto de imigrantes europeus. 

As declarações de Barroso provocaram autênticas ondas de reações. São manchete em jornais e notícia de abertura de telejornais ainda hoje, um dia após ter feito as mesmas, e motivo de várias análises de políticos e comentadores britânicos. Destaca o The Guardian que Cameron já reagiu dizendo à DB que ''está interessado no que querem os britanicos e não no que pensa a Comissão''.

*Jornalista freelance e colunista

Relacionado em Notícias ao Minuto, da Lusa

Catalunha: INDEPENDENTISTAS QUEREM ELEIÇÕES DENTRO DE TRÊS MESES




Protesto na Catalunha surge depois de Artur Mas ter optado por um modelo alternativo de referendo

As associações independentistas da Catalunha exigiram ontem em Barcelona – perante milhares de pessoas – a realização de eleições regionais dentro de três meses depois de o presidente da região, Artur Mas, ter optado por um modelo alternativo de referendo. “Presidente, convoque eleições, nós queremos votar dentro de três meses, queremos chegar à Primavera de 2015 com um novo parlamento”, declarou Carme Forcadell, dirigente da Assembleia Nacional da Catalunha (ANC), a principal força por detrás das manifestações a favor da independência desta região do Norte de Espanha.

Agitando numerosas bandeiras independentistas, milhares de catalães responderam ao apelo das associações e juntaram-se na praça da Catalunha, no centro de Barcelona, antes do referendo agendado para o próximo dia 9 de Novembro e cujo modelo inicialmente proposto foi suspenso pela Justiça espanhola, por ser inconstitucional.

A 14 de Outubro, Artur Mas mostrou-se decidido a realizar o referendo num modelo de “participação cidadã”, algo que pode fazer sem violar a Constituição espanhola. “O governo da Catalunha mantém o objectivo de realizar a consulta de 9 de Novembro de 2014. Isto significa que haverá locais abertos para que o público possa votar e participar. Haverá urnas e boletins de voto e a mesma pergunta”, afirmou Artur Mas. Todos os cidadãos maiores de 16 anos, explicou, poderão votar nessas urnas instaladas em locais do governo regional, ou seja, “sem depender de terceiros” como aconteceria no caso das autarquias. A consulta não se celebrará, no entanto, de acordo com o decreto que Artur Mas assinou porque o Tribunal Constitucional não levantou a suspensão do diploma e da lei de consultas catalã, como consequência do recurso do governo espanhol ao referendo. No entanto, o facto de a lei vigente dar já competências ao governo regional em matérias de participação cidadã, permitem convocar os catalães a votar. O governo catalão vai também criar um conselho geral de participação “que vigiará a transparência de toda a consulta” e os resultados serão anunciados a 10 de Novembro.

Jornal i - foto AFP

Brasil – Eleições: Dilma e Aécio baixam tom e fazem debate mais propositivo




Com discussão de propostas e menos ataques entre candidatos, membros do PT e do PSDB consideram duelo entre presidenciáveis mais esclarecedor para o eleitor que os anteriores. Mas corrupção na Petrobras volta a ser tema.

Os candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) adotaram um tom menos agressivo e se concentraram na apresentação de propostas no debate deste domingo (19/10), organizado pela TV Record. Para lideranças do PT e do PSDB, o debate a uma semana do segundo turno foi mais propositivo e, por isso, mais útil ao eleitor.

O escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras, a inflação e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) voltaram a ser tema de discussão. Entretanto, acusações de nepotismo e trocas de ofensas ficaram de fora do terceiro embate entre os candidatos no segundo turno.

A presidente reafirmou que "há indícios" de que houve desvio de dinheiro da Petrobras e que aguarda informações do Ministério Público Federal (MPF) e do Supremo Tribunal Federal (STF) para tomar providências. "Não sei quem foi ou quanto foi. Assim que as informações forem divulgadas, irei investigar", disse a presidente.

A petista destacou que o PSDB também pode estar envolvido no esquema e lembrou casos de corrupção que envolvem tucanos, como o cartel do Metrô de São Paulo. Aécio retrucou: "A senhora confia no tesoureiro do seu partido [João Vaccari Neto]?", em referência aos indícios de que o PT possa ter recebido propina do esquema.

O tucano também criticou a gestão da Petrobras. "A candidata diz que a Petrobras vai muito bem, obrigada. Mas vai muito mal", afirmou. Dilma rebateu afirmando que as ações da estatal foram vendidas pelos tucanos "a preço de banana".

O candidato do PSDB, por sua vez, demonstrou preocupação com "os números pouco confiáveis" das instituições estatais sobre a economia do país, citando o IBGE e o Ipea.

Ensino técnico

Em pergunta a Aécio, Dilma falou sobre o Pronatec. Ela acusou a gestão de Fernando Henrique Cardoso (FHC) de proibir, por meio de lei, que o governo federal construísse escolas técnicas.

"O governo do presidente Lula revogou essa proibição. Com isso, foram construídas 214 escolas técnicas. E eu construí 208, num total de 422", disse a petista.

Aécio respondeu que a lei do governo FHC apenas definia que as instituições de ensino fossem criadas em parceria com estados, municípios, ONGs e entidades ligadas ao sistema S, como Sesi e Senai.

"O Pronatec, que é uma bela experiência, não vem sendo administrado da forma como deveria, os jornais de hoje mostram isso. As pessoas se matriculam, saem alguns dias depois, mas continuam na estatística do seu governo", acusou o tucano.

Aécio prometeu manter e aprimorar o Pronatec, e afirmou que o programa é inspirado em iniciativas anteriores. "Candidata, eu não consigo entender essa sua obsessão de chamar os programas de 'meus'. O seu governo não inventou as escolas técnicas. Ao contrário. Essa é uma experiência que começou de forma muito exitosa aqui mesmo onde estamos, em São Paulo. Quem não conhece a experiência do governador Geraldo Alckmin com as ETEC's?", disse.

Nesse momento, o governador de São Paulo, que assistia ao programa do auditório, comemorou a menção e foi cumprimentado por aliados.

Dilma rebateu, afirmando que o Pronatec "não tem semelhança" com outros programas. "Oito milhões de pessoas tiveram acesso ao Pronatec. E ele é gratuito. Vocês jamais fizeram programa gratuito nessa escala, candidato, é completamente diferente", apontou.
Inflação em foco

O aumento de preços foi um dos temas principais das discussões do primeiro bloco. Aécio reiterou que pretende baixar a inflação para 3%. Dilma criticou a proposta sob o argumento de que a medida irá elevar a taxa de juros e triplicar os índices de desemprego.

"A receita é a mesma: Armínio Fraga [ministro da Economia de Aécio] e arrocho salarial. Vocês acreditam no FMI e sempre recorrem a ele quando precisam", disse a candidata.

O tucano afirmou, então, que países vizinhos praticam taxas de inflação por volta de 3% e que o Brasil pode alcançar esse patamar.

O debate foi dividido em três blocos, com rodadas de confronto direto e perguntas de livre escolha. Outros temas discutidos por Dilma e Aécio foram segurança pública, direitos trabalhistas, controle de fronteiras, avanços sociais e gestão de bancos públicos.

Dois projetos de Brasil

As considerações finais foram realizadas num quarto bloco, que não estava programado pela emissora. Dilma enfatizou que estão em jogo dois projetos de Brasil: o dela, que garantiu "avanços e conquistas para todos" e o do PSDB, que "condenou o povo brasileiro ao desemprego e ao arrocho salarial".

"Tenho certeza que você [eleitor] cresceu porque o Brasil mudou. E o Brasil mudou porque o governo tomou providências para ampliar e criar oportunidades", afirmou a presidente.

Depois de receber vaias, Aécio reiterou que fica cada vez mais claro que há dois projetos diferentes para o país, e que, ao contrário da de Dilma, a proposta dele é voltada para o futuro.

"Não nos contentamos em ver o Brasil crescendo menos que todos os seus vizinhos, a inflação voltando a atormentar a vida do trabalhador, e os nossos indicadores sociais piorando a cada ano. Eu sou candidato à Presidência da República para mudar de verdade o Brasil, não apenas no slogan", finalizou o tucano.

Menos agressivo

Após o debate, aliados elogiaram a postura dos candidatos. "Acho que a Dilma saiu-se muito bem, ela estava segura e exalando certeza naquilo que dizia", afirmou o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB).

O ministro da Casa Cilvil, Aloizio Mercadante, disse que debate "não é UFC [Ultimate Fighting Championship]". "Mas quando um candidato não tem como sustentar o debate, às vezes apela um pouco. Hoje nós preservamos aquilo que o eleitor brasileiro quer", disse.

Para o senador Eduardo Suplicy (PT), o debate foi menos agressivo e evidenciou "um nível mais alto de respeito" entre Dilma e Aécio. "Claro que colocaram denúncias e malfeitos aqui e acolá, mas eles já eram conhecidos. Então, o nível do debate foi mais sobre as proposições, o que contribuiu para esclarecer melhor os eleitores."

Alckmin disse que viu uma propaganda eleitoral do PT explorando o tema da falta de água no estado de São Paulo. "Acho isso um absurdo. É um desrespeito com a população de São Paulo", afirmou.

O vice de Aécio, Aloysio Nunes, considerou o debate melhor que os anteriores, porque Dilma estava menos agressiva. "Mas ela ainda continua obcecada por Minas Gerais e traz ao debate esse mundo de fantasia que ela apresenta no seu programa eleitoral."

O próximo e último debate presidencial será realizado pela TV Globo na próxima sexta-feira (24/10), dois dias antes do segundo turno.

Karina Gomes / Marina Estarque – Deutsche Welle

Brasil: QUILOMBOLAS SÃO AMEAÇADOS NO OESTE DO PARÁ




No Oeste do Pará quilombolas sofrem ameaças de fazendeiros que são contrários ao processo de titulação de terra na região. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) alerta que a morosidade para a legalização do território da população tradicional agrava ainda mais os conflitos agrários.

Os processos de titulação chegam a se arrastar na Justiça por mais de dez anos. João Lira é presidente da Associação Quilombola do Murumru, localizada no município de Santarém e sofre com a falta de segurança para lutar por seus direitos. Segundo ele, as ameaças são constantes e intimidadoras. O líder quilombola relata que recebeu três bilhetes dizendo que cada passo do processo de titulação que a sua comunidade realizasse, significaria mais um passo dele para o cemitério.

O caso é grave e para a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS) o entendimento é que a ameaça a uma liderança quilombola é uma ameaça a todo o movimento quilombola. A Federação também pede o apoio para que as denúncias sejam apuradas e o caso divulgado às autoridades. O presidente da instituição, Franciney de Oliveira, defende que os quilombolas estão em busca de um direito garantido na Constituição e não podem se tornar reféns da morosidade judicial.

A CPT afirma ainda que a demora no processo de titulação de territórios quilombolas na região resulta em um quadro preocupante, que deixa em risco mais de 2 mil e 800 famílias. De acordo com a entidade, das 65 comunidades da região do Baixo Amazonas, apenas sete foram tituladas, a última delas há 10 anos.

Ao todo, cerca de 400 pessoas vivem em Murumuru, sobrevivendo da venda de açaí, farinha, dos derivados da mandioca e da pesca. A cada ano a comunidade realiza o tradicional Festival do Açaí, que está em sua décima nona edição. (pulsar)

Foto Luiz Guilherme Fernandes

*Com informações da CPT


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