Neste mês de
Dezembro de 2011, completam-se os cem anos do início do conflito de Manufahi. O
começo da guerra de Manfahi teve a sua origem na morte do comandante de Same
tenente Luiz Álvares da Silva e de europeus (três militares e um civil) dentro
da tranqueira de Same e do comandante e Faturberliu.
Como é que tudo
começou?
Em Dezembro de
1911, era comandante militar de Same o tenente Luiz Álvares da Silva; e era
régulo (Liurai) de Manufai Dom Boaventura da Costa.
Conta-se que havia
vários dias que Dom Boaventura não aparecia no Comando apesar de várias vezes
ter sido convocado pelo tenente Silva. Dias antes, o comandante até mandara à
casa do liurai (na localidade de Bandeira) um soldado português, velho no
Comando, amigo pessoal e compadre de Dom Boaventura. Esse soldado foi retido e
depois assassinado.
Na manhã do dia 24 de Dezembro de 1911, véspera de Natal, o tenente Luís estava na sua residência e acabava de tomar banho. Apareceram no comando uns homens mandados por Dom Boaventura da Costa. Um ia amarrado e outros seguiam-no. Davam a entender que iam apresentar uma queixa ao comandante. O Tenente ao ver aquilo saiu para ouvir a queixa do que ia amarrado. Mas, de repente caíram golpes de catanadas sobre o comandante. Este tentou reagir correndo para dentro em busca da uma arma. Mas, tudo foi inútil. Os homens perseguem-no e cortam-lhe cabeça. A esposa do tente Silva estava dentro da casa com o filho ainda bebe. Os homens arrastam-na para fora e colocam no regaço a cabeça do marido. No interior da residência os timorenses reúnem os móveis sobre os quais colocam o cadáver do tenente Luís Silva. Entretanto mais três portugueses são mortos: dois soldados e um civil.
O irmão do régulo
telefona ao Comandante de Fatuberliu Ferreira: “Diz o senhor comandante que,
sendo amanhã Natal, o convida vir a Same, passar as festas como seu hóspede”. O
comandante parte para Same no dia 25, mas foi morto perto da ribeira Sui.
Entretanto, Dom
Boaventrua manda um guarda-fio acompanhar a mulher do malogrado tenente para
Maubisse.
A notícia do assalto ao Comando de Same e a morte dos seis portugueses espalha-se pelas aldeias de Same. E de Maubisse, os ecos dos trágicos acontecimentos chegam a Dili.
Em resposta aos
actos de rebelião, o governador Filomeno da Câmara mobilizou soldados,
moradores e auxiliares que atacaram os redutos dos “revoltosos” desde Janeiro
de 1912 até Outubro do mesmo ano. O resultado dessa campanha foi a prisão de
Dom Boaventura e a sua consequente destituição no dia 26 de Outubro de 1912.
Os motivos remotos
desta acção:
a) - Motivos
nacionalistas:
Expulsar os
portugueses de Timor. “Timor era para os Timorenses”. Rebeliões de 1895. Desde
os tempos de Dom Duarte, pai de Dom Boaventura que os povos de Manufahi estavam
rebelados contra os Portugueses. A forçada pacificação foi levada a cabo pelo
governador José Celestino da Silva.
Desde tempos recuados que alguns reinos não aceitavam o domínio dos “malae muitin.” Basta recordar o pacto de 1719, cujo actor principal era o régulo de Camanasa, e a consequente guerra de Cailaco (1725-1726).
b) - Motivos
políticos:
A 5 de Outubro de
1910, deu-se a implantação do regime republicano em Lisboa. Os régulos timorenses
que sempre juraram fidelidade ao rei de Portugal, não aceitaram a mudança do
regime e a troca de bandeira. A bandeira real (azul e branca) pela nova
bandeira (verde-rubra).Alguns liurais temiam que com o nome regime eles fossem
destituídos e perdessem as regalias.
Diz-se que quando
em Outubro 1910, os régulos foram a Díli para assistir à cerimónia da
implantação da República, já havia um pacto para uma possível revolta. E que
esses régulos eram incitados por timorenses assimilados ou civilizados, entre
os quais se contava um mestiço chamado Domingos de Sena Barreto que era filho
de um goês e de uma chinesa; e incitados por europeus ligados à loja maçónica
de Díli e que estavam descontentes com o Governador.
Da parte das autoridades
portuguesas, forjou-se outro motivo: a implicação dos holandeses que eram
monárquicos e que queriam também expulsar os portugueses de Timor, para poderem
dominar toda a ilha.
c) - Motivos
económicos:
As rebeliões que
ocorreram em Timor, nos reinos das Províncias do Bellos e de Servião, tiveram a
sua origem principal na cobrança de impostos.
Parecia que em 1911 o governo ia aumentar os impostos. A capitação deveria passar de uma pataca para duas patacas. O corte de uma árvore de sândalo seria taxado de duas patacas. Os coqueiros e os gados seriam recenseados. Seria estabelecido um imposto de 5 patacas aplicado sobre os animais abatidos por ocasião das cerimónias (enterros, construção de uma lulic e realização de estilos).
Foram estes os
principais motivos de descontentamento por parte dos régulos que depois se
uniram em guerra contra as autoridades.
Para o governo português e para muitos timorenses, o Natal de 1911 foi um Natal triste!
Porto, 22 de
Dezembro de 2011.
Dom Carlos Filipe
Ximenes Belo
1 comentário:
Grande exemplo de ser humano esse sujeito. Vejam só:
"Conta-se que havia vários dias que Dom Boaventura não aparecia no Comando apesar de várias vezes ter sido convocado pelo tenente Silva. Dias antes, o comandante até mandara à casa do liurai (na localidade de Bandeira) um soldado português, velho no Comando, amigo pessoal e compadre de Dom Boaventura. Esse soldado foi retido e depois assassinado."
Amigo pessoal? Isso foi uma traição!!!
Cortam a cabeça do tenente e torturam a esposa dele com a cabeça do infeliz, e e ainda tem a forma vil como mataram o Comandante: outra traição!!!
Belo futuro terá o Timor Leste tratando esse monstro como herói.
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